Os Paradoxos de “Blue”, obra-prima de Joni Mitchell

Um dos melhores álbuns de todos os tempos demonstra toda sensibilidade da cantora e compositora canadense

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

Blue (1971)

Conheço quem considere Blue, de Joni Mitchell, o melhor álbum de todos os tempos. Apenas esta frase isolada, independente do senso comum, já carrega todo o peso necessário para começar a falar de um álbum como este.

Se você é mais jovem e não conhece Joni Mitchell, existem duas formas possíveis de você já ter tido contato com a obra da cantora e compositora. A primeira pode ter sido na belíssima cover feita por James Blake da faixa A Case Of You – uma das versões mais bonitas dos últimos anos e ainda assim anos luz da beleza da original – e a segunda é já tendo ouvido a obra de Fiona Apple, Joanna Newsom, Sharon Van Etten, St. Vincent e tantas outras que não existiriam sem a influência dela, considerada a primeira grande mulher com um trabalho autoral na música Pop.

Tenho uma impressão muito pessoal quando ouço algum clássico como Blue. Aqui, Joni Mitchell estava em seu auge criativo, inspirada por seu término com Graham Nash e também por sua viagem a uma caverna na Grécia feita para arejar o pensamento e o coração. Ouvi-la aqui com um controle total de sua voz – repare nas variações vocais improváveis presentes em Carey por exemplo – transmite para um ouvinte de hoje como eu uma sensação de liberdade na execução do trabalho criativo. Parece que sua maneira de cantar está sendo guiada exclusivamente por sua sensibilidade musical e isso me parece algo cada vez mais difícil de realizar.

Longe de querer iniciar uma discussão simplista sobre o que é melhor ou pior, mas é fato que hoje, um artista, por mais desapegado que seja, tem mais elementos a considerar ao fazer música. A informação e a referência sobre como fazer algo “certo ou errado”, mais desse ou daquele jeito está a alguns segundos de distância e a recepção e repercussão de tudo vem de forma muito mais imediata, o que acaba influenciando de uma forma ou de outra na produção.

Me parece – e admito que possa ser apenas uma visão romântica que tenho do passado – que o grau de consciência do artista em relação às possibilidades técnicas de sua música e também em relação à opinião do receptor era, no mínimo, menos tumultuada. Isso permitia trabalhos como este ou como Acabou Chorare, de Novos Baianos, ou Blood On The Tracks, de Bob Dylan – sempre comparado a Blue – em que parece ser possível sentir a música se moldando ao estado de espírito e à sensibilidade do artista naquele exato momento, sem tanta influência de elementos externos àquele ambiente.

Joni Mitchell e Blue, em especial, representaram muito para a música popular e principalmente para as mulheres na música ao longo das últimas décadas. Seus paradoxos são prova de sua genialidade, pois consegue ser pessoal e universal, cru e extremamente complexo, triste e ao mesmo tempo divertido. Um clássico que às vezes não ganha a atenção que merece dentro dos maiores álbuns de todos os tempo e sem dúvida merece ser conhecido por quem aprecia o que as maiores cantoras e compositoras da música de hoje tem feito.

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ARTISTA: Joni Mitchell
MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.