Fióti: “Se tem uma coisa que me fez me afirmar como brasileiro, foi a música”

“Gente Bonita”, seu primeiro disco, revela seu propósito de pesquisar os sons populares do país

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“Pude viajar o mundo inteiro com Emicida e se tem uma coisa que me fez me afirmar como brasileiro, foi a música”, contou Fióti ao Monkeybuzz por telefone dias depois do lançamento de seu primeiro disco, Gente Bonita, um trabalho que, ao contrário do que muitos poderiam esperar de uma das cabeças por trás do selo Laboratório Fantasma, se inspira nas mais ricas fontes da sonoridade tipicamente tupiniquim sem perder a ginga contemporânea.

“Quem me conhece há muito tempo, até quem me conhece do começo da carreira do Emicida, sabe que eu tenho uma vertente musical que bebia de uma fonte muito mais brasileira, de algumas coisas diferentes da dele”, conta o cantor, compositor e produtor, que explica que quem se familarizou recentemente com o trabalho do rapper mais famoso do catálogo do selo era quem tinha expectativas de que seu trabalho seria também focado em rimas e beats. O resultado final “não é uma coisa tão próxima do Rap”, afirma ele, “mas o conteúdo é”.

Colocar uma versão acústica de Obrigado, Darcy – que Emicida gravou em 2014 com Rael, que também faz parte do selo – para abrir Gente Bonita já quebra de cara essa expectativa sonora, ainda que faça muito sentido ver Fióti cantando esses temas. Ele conta que, enquanto o disco possui um “clima bem festa, bem churrasco (risos)”, percebeu que “era importante as pessoas refletirem primeiro e depois saírem dançando”.

“Acho que, na música e arte como um todo, você tem essa responsabilidade, de fazer as pessoas refletirem”, revela ele, “todos os artistas pelos quais tenho admiração e carinho, e acompanho a trajetória desde pequeno, todos usam a arte para se posicionar e transformar um pouquinho desse mundo em que a gente vive, porque se for pelo caminho que tá indo, sabe lá Deus o que vai ser. Só mais guerra, mais mortes, tudo girando em torno disso. Através da música, a gente tem a possibilidade de tentar e fazer o dia das pessoas ficar mais suave, mas também trazer uma reflexão”.

No caso de Gente Bonita, a reflexão não vem só em questões sociais, mas também culturais, já que há uma preocupação de fazer o brasileiro ouvir mais daquilo que é próprio de sua própria terra. “Eu queria trazer para as pessoas uma possibilidade de falar ‘vem cá, cara, a nossa música é foda, é isso aqui’, e é possível a gente trazer uma reflexão, mas também se divertir ao mesmo tempo”. Ele também explica que “trazer os ritmos brasileiros é também um resgate. A nossa música já é Pop normalmente, por que você não liga o rádio e ouve um Samba Rock? Tem essa reflexão também que eu quis puxar, que é o que eu sou mesmo”.

“Eu venho de uma escola de pesquisar muita música brasileira e, ao mesmo tempo, de mostrar que, cara, muita coisas que são feitas no Brasil já são boas e Pop naturalmente, sem a gente precisar fazer nada, e que nossa música é um dos maiores bens”, e conclui que “não é todo país que tem um caldeirão com o tanto de referências que a gente tem não e que dá uma coisa boa”. Ouça Gente Bonita e entenda tanto a proposta, quanto quem é Fióti.

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ARTISTA: Fióti
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.