Kaiser Chiefs: “Fazemos música para produzir o melhor que podemos”

Em passagem pelo Brasil, banda comenta maturidade e próximo disco

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Era um sábado frio para os paulistanos, mas aparentemente um clima comum para os britânicos que formam a banda Kaiser Chiefs, que aproveitavam o dia para, entre as preparações para seu show no Cultura Inglesa Festival no dia seguinte, conhecer um pouco mais do país para o qual retornavam – agora como atração principal do evento. No hotel, quatro dos cinco integrantes do grupo receberam alguns representantes da mídia para uma coletiva que revelou, acima de tudo, a felicidade dos músicos por voltar ao país.

Com mais de uma década de estrada, os músicos mostraram um pique jovial, parecido com o que vemos nos shows, para a conversa sem dar muitas pistas que Parachute sairia apenas dois dias depois do papo. Enquanto falavam sobre a jornada de estar em uma mesma banda por tanto tempo (“somos como uma família, e toda família é estranha”, nas palavras do vocalista Ricky Wilson), conversaram também sobre as escolhas que levaram ao que virá a ser seu próximo disco, ainda sem muitos detalhes confirmados.

“Estamos fazendo o álbum para as pessoas que vão gostar dele”, diz Wilson, ao contrário da vontade de produzir “para aquele crítico que não curtiu seu último disco, ou para uma ideia de um fã que nem existe”, atitude que ele chamou de “aprender com nossos erros”. “Nos sentimos menos presos à ideia de que estamos competindo com outras bandas e precisamos tentar ser a melhor banda”, comenta o vocalista, “sentimos que fazemos música para produzir o melhor que podemos”.

Sobre este próximo trabalho – ainda sem título ou data de lançamento anunciada (Wilson diz que ele sairá no outuno no hemisfério norte, o que corresponde à nossa primavera aqui) -, ele comentou ser um registro com canções românticas.

“É estranho, as músicas antigas do rádio são todas sobre amor. Com o tempo, fomos deiaxando de fazer isso”, explica Wilson, “nós fizemos uma, chamada Ruby, e foi um grande sucesso. Devíamos ter aprendido algo com isso e escrever músicas que as pessoas querem ouvir. Nós sempre temíamos isso e escrevemos música com conteúdo mais social ou até político, mas neste disco uma pequena lâmpada se acendeu e disse ‘as pessoas se importam com elas mesmas e com o que está acontecendo dentro delas’. Podemos nos enganar e dizer que temos compaixão, que assistimos ao noticiário e nos importamos com o que acontece em outros países, mas assim que sua namorada ou namorado te liga e diz que há um problema, essa é sua prioridade número um”. “Eu preciso entender o que acontece em nosso coração antes de sacar o que está acontecendo no mundo”, comenta o vocalista, “parece egoísta, mas é o que nos faz humanos”.

Wilson e seus companheiros de trabalho fazem questão em focar no quanto seu sucesso é medido pelo tempo de carreira da banda e por como, mesmo com alguns “fracassos” no meio do caminho, não desistiram de seguir em frente e apostar em novas ideias, como as do próximo álbum. “Nós não queremos desvalorizar tudo o que já nos aconteceu, já passamos por coisas incríveis, mas o que nos motiva é saber que a melhor coisa que pode acontecer com a banda ainda está por vir”, comenta o vocalista, enquanto o tecladista Nick Baines revela que eles têm “o desejo de fazer com que cada show seja o melhor que já fizemos”.

Fica difícil ouvir tudo isso e não pensar no quanto isso tem a ver com uma postura de Kaiser Chiefs como banda. “Maturidade é uma coisa engraçada”, comenta Wilson, “eu acho que a definição de maturidade é não se importar se as pessoas te acham maduro ou não. Você passa sua adolecência desesperado para as pessoas te levarem a sério, aí um dia você vira e não liga mais, daí se liga que chegou lá”, e afirma que o mesmo acontece com o trabalho em música.

E foi isso o que os brasileiros puderam ver mais uma vez durante o Cultura Inglesa Festival e é o que esperamos ver no tal vindouro álbum. “A experiência nos ensinou a não nos importarmos mais com expectativas”, explica Baines, “elas só são válidas quando o disco sai, mas, se você não gostou, não vamos voltar e mudar alguma coisa, entende?”. “Há muita expectativa de todos”, conta o baixista Simon Rix, “mas os maiores críticos ainda somos nós mesmos”. “Isso nos motiva”, revela.

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ARTISTA: Kaiser Chiefs
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.