Cat’s Eyes: “Tem saudade em tudo o que escrevo”

Rachel Zeffira comenta liberdade criativa e tom emocional em trabalho do duo

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Monkeybuzz: Há uma palavra em português, eu não sei o quanto você conhece da língua, mas…
Rachel: Saudade?
Mb: Sim! Como você sabe?
Rachel: (risos) Que estranho, eu sabia que você ia dizer “saudade” assim que começou a frase!
Mb: Eu ia falar em nostalgia, mas achei melhor perguntar sobre saudades. Quanto isso é intencional em sua música?
Rachel: Que legal que você perguntou isso, nunca ninguém me perguntou antes. Eu aprendi sobre saudades quando estava escutando muita música brasileira. Muito da sua música é baseada em saudades: Caetano Veloso, Chico Buarque e até Milton Nascimento… E eu me identifico muito com isso, acho que tem saudade em tudo o que escrevo. Tem muito a ver com o que eu sou e com o que eu sinto.

Foi assim que terminou um papo por telefone com Rachel Zeffira, metade do duo Cat’s Eyes, enquanto dissecávamos um pouco do conteúdo apresentado por ela e Faris Badwan (da banda The Horrors) em seu recente Treasure House.

O assunto “saudade” veio em um contexto em que falávamos sobre um aspecto atemporal que seu som busca, o que acaba implicando também em nostalgia. Falando também em nome de seu companheiro de grupo, ela afirma que eles não gostam “do que é moda, do que é tendência”. “No futuro, a moda fica datada. O que é esperto em uma época, não é na outra, explica ela, “as emoções, por outro lado, são sempre as mesmas. Quando eu ouço algo de Bach, do século 18, ainda me faz chorar. Mas quando você ouve algo que alguém fez apenas tentando ser inteligente, não tem emoção, é o mesmo que todo o resto. Acho que a honestidade sempre dura, mas as tendências acabam. Ainda mais hoje em dia, parece que há uma nova tendência por minuto. As coisas verdadeiras duram”.

É complicado trabalhar honestidades e sentimentos em um meio no qual as pessoas são tão focadas em tendências, o que acaba interferindo também nas percepções do público e da crítica. Rachel comenta que nota “como costumam comparar uma dúzia de artistas à mesma pessoa, agrupam vários cantores em uma só categoria do que se parece com alguém”, um trabalho que ela chama de “preguiçoso” e ainda brinca: “Às vezes, me pergunto: ‘Será que estão me comparando a ela porque nós duas temos cabelo castanho?’ (risos)”.

“Somos dois músicos trabalhando honestamente com o que sentimos no momento e no que vem de cada um de nós”, garante ela, “se nos preocupássemos com o que vão dizer ou com vendas, não seria um processo honesto”. “Quando o álbum já está pronto, as críticas são irrelevantes”, explica, “exigimos muito um do outro, já analisamos todas as dúvidas de vários ângulos por cinco anos. Já estamos satisfeitos ao lançá-lo, mas só depois de tanto tempo sendo perfeccionista e exigente”.

“Há muita liberdade criativa, e ela vem em forma de honestidade e genuidade”, comenta Rachel, que adiciona que os dois só trabalham sob o nome Cat’s Eyes pela diversão – “se fôssemos ter qualquer outro motivo, seria chato”. E fica evidente na audição do disco uma certa leveza em todas as músicas, que vem dessa despretensão juvenil e atemporal em seu som sem abrir mão da qualidade ou do fator emocional, como Rachel, cheia de saudades, explica tão bem.

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ARTISTA: Cat's Eyes
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.