Amigos Perdidos: Sinceridade, Anseios e Rock Triste

Em passagem por São Paulo, músicos da Geração Perdida conversaram sobre a repercussão de seus novos trabalhos

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Fotos: Lucas Cassoli

Três músicos, três grandes amigos e três grandes lanches. Com uma boa companhia de hot dogs monstros, o Monkeybuzz encontrou Jonathan Tadeu, Fernando Motta e João Carvalho (Sentidor) durante sua passagem por São Paulo, na qual uma série de shows foi marcada para a divulgação de seus respectivos novos trabalhos.

Membros do coletivo de Minas Gerais Geração Perdida, não poderia haver um lugar mais apropriado para uma conversa sobre suas respectivas obras afinal, que melhor lugar para se falar sobre Rock triste do que uma lanchonete ogra? Na verdade, o ambiente se mostrou um lugar extremamente propício para uma conversa que não parecia ser feita entre entrevistado e entrevistador, mas um grande papo de amigos.

A amizade entre os três era algo extremamente notável. Entre recorrentes flashbacks de momentos divertidos que eles passaram e recordações de turnês passadas, grandes exemplos de fraternidade começaram a ser disparados: a banda de apoio de Jonathan inclui Fernando e João, a inclusão de uma música de um no setlist do show de outro, um singelo empréstimo de cigarro ao outro.

Além disso, o processo de composição de seus respectivos discos contou muito com esta interação. Fernando Motta contou que chegou a enviar o disco por email para Jonathan, que deu sua aprovação imeditada e disse prontamente: “Cara, você precisa gravar isso agora!”. Aliada à vontade de João de produzir, o processo foi automático e tudo estava pronto em três meses. João contou como ajudou na parte de programação e arranjos eletrônicos na produção do seu disco. É curioso como cada disco é uma mostra de sentimentos tão íntimos de cada um, mas mesmo assim, há um toque de outras pessoas, afinal, eles fazem parte dessas realidades de cada um.

A sinceridade parece a arma principal da Geração Perdida e as vezes isto pode ser extremamente doloroso. Fernando conta que não conseguiria há um tempo atrás cantar muitas das músicas de seu novo disco, tamanha as lembranças dolorosas que ele trazia. João comentou que Memoro Fantomo/Rio Preto traz uma abordagem tão sincera que as paisagens sonoras deste trabalho foram compostas enquanto ele tinha uma das piores crises de depressão.

Mas o que parecia ser um papo triste se revelou esperançoso, como a Queda Livre de Jonathan Tadeu. João disse que ficou espantado ao encontrar um fã que falou como se identificou e foi ajudado com as músicas claustrofóbicas de seu disco. Já Fernando comentou como falar sobre as dores e frustrações em suas músicas permitiu que ele pudesse tocar estas composições em seus shows, sendo que antes eram tão doídas. Esse compartilhamento de vivências é extremamente condizente com a relação que a banda tem com seu fãs.

“Acho que não tem mais esse negócio de fã/ídolo”, já avisa Jonathan. A aproximação que a Geração Perdida teve com o público durante a passagem por São Paulo deixou claro como as coisas estão tomando novos rumos nesse papo de fanatismo. O show em São Carlos ocorreu de forma amigável e íntima, em uma república com direito a uma troca de ideias após os shows. “Parecia que eu estava de volta dos anos 90: uma banda num lugar pequeno, uma garota com camiseta do Sonic Youth, outra do Pavement”, explica Fernando.

A sinceridade, a depressão, os fãs e o processo de composição, tudo isso é apenas uma porcentagem do que realmente é a Geração Perdida. Uma conversa assim foi o necessário para mostrar que o som não é feito por músicos profissionais, mas por pessoas com anseios como qualquer um e estes três músicos (agora grandes amigos do Monkeybuzz) deixaram isto bem claro. No final das contas, saí com vontade de ter uma banda e sair Brasil afora com meus amigos.

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique