“Songs For The Deaf”: Dez anos do clássico do Queens Of The Stone Age

Relembre o disco que está entre nós há uma década e ainda hoje se mostra atual e merecedor das listas que o consideram um dos melhores álbuns de todos os tempos.

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Quando o Queens Of The Stone Age lançou seu segundo disco, Rated R, quebrando todos os mitos de que “superar a estréia é sempre complicado” e criando um álbum cultuado, muitos se perguntaram: “mas e o terceiro? Como superar o Rated R?”

A resposta veio com a entrada de um dos maiores bateristas de todos tempos, Dave Grohl, ex-Nirvana, que estava de saco cheio do seu trabalho junto aos Foo Fighters. Com um timbre e uma pegada pouco vistos na bateria, Grohl participou de tanto a gravação de Songs For The Deaf, o terceiro disco, quanto do início da turnê e trouxe um enorme peso à “cozinha” da banda, tanto em termos de bagagem musical quanto de destruição do instrumento. Junte isso a mais uma participação em disco do senhor de voz rasgada, Mark Lenegan, e da última participação de Nick Olivieri, baixista e vocalista sem noção que foi preso no Brasil por tocar pelado no Rock In Rio de 2001, e podemos dizer que temos um disco clássico sendo feito no início deste século.

Lançado no final de Agosto de 2002, o trabalho é um disco conceitual que viaja entre suas as faixas através de excertos de transmissões radiofônicas que deveriam transmitir uma viagem entre Los Angeles e Joshua Tree (aquela mesma do disco do U2, mas que também tem o nome do líder da banda, Joshua Homme). Pesado, mas acessível, pois nas palavras de Homme ,“o Rock deve ser pesado o suficiente para os garotos, mas doce o bastante para as mulheres”, trouxe um lado diferente ao Stoner Rock construído pelo grupo ao longo de seus trabalhos anteriores, com uma grande variedade de estilos e influências que tornam a experiência de escutá-lo uma verdade viagem sonora e que nos faz lembrar os grandes momentos do Hard Rock.

Logo no início do CD, em You Think I Ain’t Worth a Dollar, But I Feel Like a Millionaire, o narrador diz “ I need a saga, what’s a saga? It is Songs For The Deaf, you can’t even hear it”. Com Nick Olivieri quebrando tudo nos vocais gritados e dando as boas-vindas aos ouvintes, a música é feita para aqueles que ficaram surdos de tanto escutarem sons pesados. No One Knows é talvez um dos grandes hits da banda e foi um dos carros chefes na promoção de um disco que sozinho chegaria ao estrelato devido à sua incomparável qualidade com tudo que estava sendo tocado e criado na época. First It Giveth tem um riff à la Black Sabbath mais rápido e com Dave acelerando tudo em uma bateria quase tribal. Os vocais de Homme atenuam todo o peso da canção, trazendo uma mistura entre peso e doçura que o mesmo busca em suas criações.

A Song For The Dead tem Grohl fazendo uma de suas melhores músicas no instrumento rítmico, com uma introdução que fez diversas pessoas, inclusive este que vos escreve, começar a tocar bateria. Mark Lenegan rasga a sua voz e traz um clima sobrenatural a esta canção sobre os mortos, que tem na repetição dos riffs de guitarra o seu maior trunfo neste Stoner Rock de primeira qualidade. The Sky Is Falling segue a mesma tendência da canção anterior, com muito Rock que te faz mexer a cabeça sem perceber e que te faz cantar também junto com Homme “Close your eyes and see the skies are falling”. Six Shooter é a música mais explosiva do disco e tem o insano Olivieri nos vocais gritando até perder a sua voz. Hangin’ Tree é um grunge viajado pela voz de Mark mas que nunca deixa de perder a agitação de uma bateria, baixo e guitarra sincronizados para propiciar o ânimo necessário para o ouvinte mexer o esqueleto.

“Boom!!”: logo em seguida vem Go With The Flow uma das músicas de Hard Rock mais sexies deste século, a qual em seus versos leva o ouvinte a querer dirigir descontroladamente pela estrada que o disco conduz e, no refrão, a desacelerar tudo e curtir a viagem com o rosto pra fora da janela. Gonna Leave You é um dos momentos mais Pop do disco e surpreende quando notado que o mesmo cara que gritou todos os demônios pelas faixas, Olivieri, também consegue cantar e ser sincero com sua donzela ao entoar suavemente “This the is the end /No more pictures, we ain’t friends”. Do It Again traz a estrutura de todo o disco, riffs repetidos que trazem a sensação de se estar parado mas com a cabeça se movendo. Escute a música e veja como os riffs iguais se encaixam com uma letra que repete palavras para transmitir a mesma idéia: “I fall over and over and over over over on you /I get in, I get in, I get in, you’re the only one I’m into”.

God Is In The Radio é a canção que representa a chegada no deserto de Joshua Tree para que o Queens possa tocar para os seus fãs. Como uma montanha russa de emoções, a canção chega a ficar quase silenciosa para que, aos poucos, a guitarra de Homme possa dar pequenas soladas e depois elevar o som com um solo que é o climáx da música. Another Love Song é mais uma música pop feita por Olivieri e que, de novo, consegue trazer alegria ao peso do disco. Terminando a obra, A Song For The Deaf, inicia com um DJ da rádio dizendo, “uma música para os surdos, que são vocês”. Passagens no baixo dão um clima de viagem bem semelhante ao Pink Floyd no início da carreira, mas, quando entra o riff, tudo se tornar mais Rock e semelhante ao Led Zeppelin se eles fizessem Stoner Rock. Mosquito Song é uma música escondida dentro do disco feita com uma viola, com dedilhado repetido e tem no refrão a frase “lullabies to paralyze”, que viria a se tornar o nome do CD posterior do grupo.

Há 10 anos, Song For The Deaf entrou na lista dos melhores e mais influentes discos da história com um som impar que é característica dessa banda e praticamente impossível de ser reproduzido por outras. Lançado no início do século, junto com a explosão do Indie Rock de bandas como The Strokes, The White Stripes, The Hives e The Vines, Songs For The Deaf foi uma contrapartida ao movimento que trazia referências mais leves de décadas anteriores. Criando um Rock pesado e viajado, mas doce ao mesmo tempo, nos moldes do que Led Zeppelin soube fazer muito bem ao longo de sua carreira, o disco trouxe de volta às paradas de sucesso um som enraizado no Rock e único, que fez despontar para o grande público o Queens Of The Stone Age como uma das maiores bandas de sua geração, papel que cumpre até hoje.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.