Lollapalooza Brasil 2017: Satisfação na Falta de Surpresas

Sexta edição do evento em São Paulo mostra que segue sua própria cartilha na escolha de bandas

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(Colaboraram Lucas Repullo e Nik Silva)

Não era uma tarefa nem um pouco fácil superar a escalação de bandas que o Lollapalooza Brasil apresentou em sua edição de 2016, que conseguiu reunir um grande número de shows relevantes para o público brasileiro entre grandes e populares favoritos, resultado de acertos e erros no passado. Para o festival que acontecerá em 2017, entre as comemorações de alguns fãs e o lamento de quem não ficou satisfeito (duas parcelas que sempre existirão), um clima dominou os comentários pelas redes sociais no dia do anúncio: A falta de um “fator surpresa” que tanto empolgou em outros anos.

O interessante é notar como isso vem justamente pela maturidade que a produção atingiu, equilibrando os tantos fatores necessários para viabilizar algo desse porte – como quais as bandas que mais chamam público, quais que mais tem a cara da marca etc., além, é claro, de realizar tudo dentro de seu orçamento – e também dando conta de minimizar o desgosto de uma ingênua parcela do público que acha que a responsabilidade do evento é o de trazer seu artista favorito, e de outra igualmente ingênua que imagina que o festival possui algum tipo de compromisso com alguma “cena”.

A partir disso, quatro nomes ocupam o espaço da primeira linha da lista de atrações, sendo que Metallica é um nome que seria praticamente impensável no festival há alguns anos, mas que vem para comprovar a rentabilidade que um figurão do Rock mais “das antigas” possui em solo brasileiro (Foo Fighters, Pearl Jam e Bad Religion são alguns dos que já cumpriram essa função em edições anteriores). The Strokes, ícone de toda uma juventude que quer ser chamada de Indie, contrabalanceia a escalação não por uma questão estética, mas marketeira, já que o público que não queria ver o evento tomado pelas camisetas pretas pôde respirar aliviado ao ler esse nome na sequência. É inegável que a banda não tem a mesma relevância que tinha durante suas outras passagens pelo país, porém é também inquestionável a quantidade de fãs que estarão aglomerados em frente ao palco – que já recebeu Julian Casablancas e Albert Hammond Jr, dois de seus integrantes, em projetos solo no passado.

A escolha de The Weeknd comprova algo que o Lollapalooza já vinha sinalizando há algumas edições, que é a importância dada ao R&B como um dos gêneros que melhor representam a música Pop de qualidade feita hoje. Assim como foi ao escalarem Pharrell Williams há dois anos, fica difícil imaginar uma escolha mais relevante hoje. Já The xx ocupa o espaço de grande banda que a maioria dos fãs imagina que só um punhado de pessoas conhece, novamente como uma opção de conservar uma imagem mais “alternativa” do evento – posto ocupado por Florence + The Machine em 2016.

Tove Lo e preenchem os espaços destinados a “cantoras” no line up, como Ellie Goulding, Lorde e Marina and The Diamonds já o fizeram antes, com o acréscimo de Melanie Martinez (perto das duas, bem menos conhecida no país). Cage the Elephant carimba seu passaporte para o LollaBr pela terceira vez e deve, assim como Two Door Cinema Club (que vem pela segunda), fazer um daqueles shows que quem ainda não conhece seu som logo entenderá porque tanta gente chegou mais cedo para vê-lo. Foi assim nas vezes passadas, foram apostas certeiras da produção para 2017.

Criolo e Céu são os dois nomes brasileiros que mais ganharam destaque no anúncio, embora BaianaSystem e Jaloo tenham chance de roubar a cena com suas performances bastante contagiantes (e o grande número de fãs que ambos possuem). The 1975 e Tegan and Sara são as opções mais populares para o início de tarde, com suas músicas com cara de trilha de propaganda comercial, enquanto Duran Duran e Rancid são as apostas infalíveis de bandas veteranas que não têm como errar no festival (como New Order, Pixies e Robert Plant já foram em outras edições).

Flume vem pela segunda vez ao Lollapalooza Brasil. Se na primeira ele se apresentou no começo da tarde, desta vez pode ser que o produtor australiano consiga um horário de maior destaque, principalmente pelo lançamento do elogiado Skin. G-Eazy faz as vezes de atração Rapper do fim de semana (após Childish Gambino, Kid Cudi, Tinie Tempah e Nas já terem cumprido o papel) e deve dividir espaço do Palco Perry com Bob Moses, The Chainsmokers (que tocou por aqui em 2015) e outros nomes da Eletrônica, entre DJs e produtores, no Palco Perry.

Os sucessos de crítica de outrora, como Alabama Shakes, Gary Clark Jr. ou Alt-J são os mais escassos nesta edição, com Glass Animals segurando o status sozinho – não que vários dos já citados aqui não tenha louvores da mídia especializada, mas suas funções na lista de atrações são claramente outras – , o que nos relembra que todas essas escolhas foram feitas para o público de um país em crise, situação na qual é mais seguro ter um novo candidato a favorito do público (como Vance Joy) do que em um nome escolhido apenas pela qualidade.

O caminho que a produção do Lollapalooza Brasil seguiu ao longo de cinco edições culmina nas opções apresentadas para o festival em 2017, com as diversas variáveis sendo combinadas para entregar uma lista de atrações múltipla o suficiente para levar um grande número de pessoas ao Autódromo de Interlagos no fim de semana de 25 e 26 de março. Em vista do quanto essas escolhas já deram certo no passado, não é arriscado prever que a vitória será repetida – até porque, é importante lembrar, a produção considera o fator lucrativo como único indicativo de sucesso. E é por isso que teremos outro festival em 2018, provavelmente também sem surpresas e com grande satisfação também de público.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.