Allie X: “Não percebia que fazia música Pop”

Cantora apresenta-se pela primeira vez no Brasil nesta semana

Loading

Fotos: Spencer Kohn

“Eu gosto de atenção, sempre gostei de receber atenção”, contou Allie X ao Monkeybuzz na manhã de um dos dois shows que a artista canadense faz em São Paulo nesta semana, “devo ter algum conceito errado enraizado na cabeça que diz que atenção e elogio significam amor, então eu quero sempre mais. Eu não acho que isso seja bom, mas é a verdade. Eu quero sim ser famosa”.

Por trás de óculos escuros espelhados, um batom vermelho escolhido meticulosamente e um chapéu que esconde parte de seu rosto, Alexandria Ashley Hughes chamaria atenção de qualquer um mesmo à distância – um visual que muito tem a ver com sua musicalidade Pop, mas longe do “mais do mesmo” enlatado ao qual o gênero é frequentemente associado.

“O que eu faço, e o que acho que muitos artistas fazem, é pegar as partes mais importantes de quem eu sou e exagerá-las, quase como fazer uma caricatura”, conta Allie, “acho isso saudável, porque, se você quer ser um artista popular, é melhor não expor o seu lado mais vulnerável como pessoa, para não virar alvo do julgamento das pessoas. O que eu faço, no conceito por trás de X, é o processo de tornar-me anônima, proteger minha identidade e criar uma nova do zero, produzir uma verdade a partir de algo dentro de você, ao invés de forças externas que te dizem no que acreditar ou o que ser”.

“Ao longo da história, as pessoas sempre escolheram celebridades para idolatrar, seja alguém da realeza ou um artista”, continua, “elas querem algo que seja uma versão exagerada de uma pessoa, alguém que transmita uma força”. “Minha parte mais vulnerável fica presente ou nas letras, ou naquele sonzinho desafinado que só sai no fone de ouvido da esquerda. É aí que eu coloco algo mais pessoal”, completa.

A partir dessa conceitualização, a artista trabalha suas canções com referências do lado mais Alternativo do estilo, principalmente sob infuência da Eletrônica, para revelar sua identidade própria. Durante a conversa, ela revelou vontade de trabalhar com BANKS, MØ e The Weeknd, o que ajuda a situá-la no espectro do Pop do qual faz parte.

“Em Toronto, eu fazia parte de uma cena Indie bastante experimental, cercada de músicos inspiradores”, conta ela, “eu trabalhei com algumas bandas, mas nenhuma era minha mesmo, eu estava mais fazendo backing vocals”. “Tinha muitos amigos que estudaram Jazz e harmonia por muitos anos, e sabiam usar os instrumentos e as técnicas de maneiras muito interessantes, explica, “mas o que eu não percebia na época era que eu fazia música Pop. E não havia espaço por lá para mostrar esse som sem que ele fosse irônico, ou algo assim. As pessoas não me levavam a sério. Quando caiu a ficha que meu negócio era Pop, decidi ir atrás disso”.

“Passei um ou dois anos morando em um apartamento trabalhando em minhas músicas”, disse, “daí fui para Los Angeles e, lá, todos entendiam o que eu estava fazendo”. Hoje residente na Califórnia, Allie conta que seu estilo de vida por lá é “uma cultura de composição”: “Você marca um horário com um bom produtor e sai do estúdio com uma boa música pronta. Isso não existe em Toronto”.

Allie conta que tem se descoberto uma compositora que, para externalizar sua sensibilidade e “sentimentos mais obscuros” que possui, escreve suas letras de uma maneira quase intuitiva: “Eu tenho todas essas ideias e inseguranças, aí escrevo palavras que acho que ficam bem juntas… Eu não sou o tipo de compositora que vai te contar uma história, no meu caso é mais deixar as ideias fluírem, vomitar palavras mesmo”.

Com um disco e alguns singles lançados – o suficiente para acumular fãs ao redor do globo, inclusive no Brasil (“eles deixaram bem claro que eu precisava vir fazer shows por aqui”) – Allie X promete mais novidades para os próximos meses no desenvolvimento da sua persona já apresentada, e dentro do Pop Eletrônico que tem sido tão crescente neste meio de década, o que só significa um público cada vez mais crescente para a cantora. Missão (sendo) cumprida.

Loading

ARTISTA: Allie X
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.