A desconstrução e sinestesia de Nicolas Jaar

Seguindo a linha Disclosure, Joy O e HudMo, o compositor é mais um nome na leva de jovens produtores a ganhar espaço na cena eletrônica atual

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Mantendo a linha de jovens e promissores produtores, já chegamos entre os renomados. Nicolas Jaar fez o caminho que a maioria dos grandes nomes percorreu: a saga dos remixes. O garoto de apenas 21 anos já assinou para Azari & III, Matthew Dear, Kasper Bjork e o seu último lançamento em agosto, de Cherokee da Cat Power.

Jaar foi precoce em basicamente tudo. Natural de Nova York, mudou-se para o Chile aos dois anos. Aos 8, retornou à cidade que nasceu e nesse meio tempo, conheceu Alma Keita e Nikita Quasim. O talento dos três começou com permuta de batidas e divulgação de trabalho, online, em 2004. Cinco anos depois, com 19, Nicolas já tinha segurança e audácia suficiente para fundar seu selo próprio, a Clown & Sunset.

O compositor tem Ricardo Villalobos como sua maior influência no Minimal Techno e confessa beber da fonte do Jazz etíope. E é bem aí que Nicolas media suas produções. Saindo um pouco dos 120 BPM do Techno, aqui as batidas não passam de 100 por minuto, o que caracteriza um gênero único: Blue-Wave, segundo o próprio produtor. A diferença é que aqui as batidas são complementos de uma série de habilidades de Jaar, ele forma sua própria banda sendo o compositor, guitarrista, baterista e até saxofonista.

Uma grande viagem de sinestesias, assim como seu primeiro álbum Space Is Only Noise, com 14 faixas, lançado no ano passado, através do selo Circus Company. A brincadeira rendeu melhor álbum do ano pela Resident Advisor, nota 8,4 na Pitchfork, quatro estrelas no The Guardian, e por aí vai. Hoje já tem sua faixa And I Say na posição 24 do Hype Machine. Som texturizado, vocais mecanicamente alterados e synths distorcidos propõem um som um tanto quanto lento e emocional, como uma fusão James Blakeana sem predominância de coerência vocal, com o som arrastado e contemplativo do Portishead. Bom pra quem ouve Flying Lotus ou para os fãs de Air.

Há pouco tempo, o produtor entrou na onda de fazer DJ Set e, obviamente, começou a viajar o mundo em tour. O som arrastado teve que dar lugar às batidas fortes para segurar o público e assim foi feito. Casas renomadas, cidades do eletrônico e os maiores festivais de todo o mundo (também presente no Pitchfork Festival que cobrimos). E toda essa versatilidade saiu recentemente em forma de uma mixtape oficial para a BCC de Londres. O set tem quase duas horas de duração e vai de Johnny Greenwood a Feist.

É essa linha que Nicolas Jaar quer seguir. Músicas densas, sutis, relaxantes ao ponto de ajudar até alguém a dormir. A baseline não é complexa e os vocais sussurados dão ainda mais a sensação de um vento gelado. Tudo isso constrói uma atmosfera de detalhes difíceis de não se envolver. Cada música é como se contasse uma história, como se fosse feita para uma cena, uma trilha. Quem não é muito fã de efeitos sintéticos, se apaixona por Jaar. Os instrumentos ganham espaço na mesma proporção que a faixa se desenrola, como se pegasse pedaços e os montasse de forma descontruída. É incrível o bom gosto que permeia as produções do menino. Cada vez mais, o talento aflora nas cabeças mais jovens e provam que os novatos não estão de brincadeira. A mistura de guitarras com pianos, contra-baixo, bateria, saxofone e falsetes cai na fórmula perfeita para aquele gênero que poderia ser ouvido o dia inteiro, sem reclamar, sem perceber.

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ARTISTA: Nicolas Jaar
MARCADORES: Jazz, Minimal, Techno

Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King