Em Brasília, Ventre e E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante unirão sons novamente

Músicos falam ao Monkeybuzz sobre show no Festival CoMA, o terceiro em conjunto

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Fotos: Rodrigo Gianesi

“Dizem que é meio mágico. São sete pessoas no palco, uma barulheira do cão e, ao mesmo tempo, tem uma troca muito sutil entre todo mundo” – as palavras de Luccas Villela, da banda E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, descrevem o encontro mais do que especial com o trio Ventre, um show nascido para o Festival Bananada (em Goiânia), repetido com grande entusiasmo em São Paulo e prometido para Brasília neste próximo fim de semana, no Festival CoMa.

É de se admirar que duas bandas com tantas diferenças estéticas consigam unir suas músicas de uma maneira coesa. Enquanto E A Terra trabalha seu Post-Rock, Ventre sempre apostou em canções de um Rock mais cru e sujo, ainda que bastante contemporâneo. O segredo para a fusão bem sucedida? De acordo com os músicos, é, além de um árduo processo de conseguir fazer o show funcionar, a amizade que os une.

“O grande desafio é achar como as duas bandas funcionam juntas”, diz Larrissa Conforto (Ventre), “é divertido, é um desafio”. Sobre o trio, ela comenta que sua maneira de trabalhar é “encher de som para não faltar – muito efeito, Gabriel faz loop, a gente não economiza”, enquanto E A Terra faz o oposto: “O processo deles é de fazer o mínimo, fazer o justo, colocar na música aquele pinguinho no i que tinha que ter e mais nada”.

“A gente também achou que não caberia simplesmente reproduzir as músicas do jeito que elas são, mas criar um novo processo em que coubessem os dois lados da moeda”, diz a baterista. “Cada música pede uma coisa”, diz Luccas, “às vezes a gente vai nas questões meio díspares das músicas e às vezes acha um ponto de congruência entre elas para somar. O impacto maior é não só fazer os arranjos, mas saber que hora parar de tocar, o silêncio e tudo o mais. Em uma questão estrutural, vendo sete pessoas tocar, isso é muito importante”.

“Por mais que a gente seja uma banda instrumental, pouquíssimas vezes a gente compartilhou palco com bandas instrumentais propriamente ditas, ainda mais do Post-Rock”, conta ele, “a gente tenta sempre sair desse nicho justamente para não ficar tanto no segmento. É muito louco, porque a gente não se considera uma banda instrumental, apesar de ser, justamente por causa dessa pluralidade de universos que a gente meio que transita”.

Esse trânsito tem a ver com a presença em festivais, como Bananada ou CoMA, que fortalece laços entre os grupos. “A parte mais legal de um festival é ver um show e depois estar com todas as bandas, criar uma relação musical entre elas”, explica Larissa, enquanto Luccas comenta que a relação entre os dois nomes, que compartilham o mesmo selo, sempre foi “mais interpessoal, não só da música”. “A gente sai direto”, conta, “então essa fusão foi natural, foi tudo muito fluido”.

Há outros casos no cenário alternativo brasileiro de bandas que se unem no palco, como aconteceu recentemente com Boogarins e O Terno, algo que reflete também o momento que vivemos. “Eu sempre defendo que o novo do it yourself é o do it together”, conta Larissa, “a gente está em um momento em que os músicos são aquele proletariado lá que precisava dominar os meios de produção, sabe? Os discos são gravados em casa com equipamento caseiro, ou a gente tem mais acesso a equipamentos, a gente consegue fazer tudo de um quarto, sacou? Se a gente não sair de casa e der as mãos, isso tudo vai ficar em casa, na Internet, no virtual. Qual é o elo ainda entre as pessoas? É o afeto, o que tira as pessoas de casa e leva elas a um show. Então isso existe de banda para banda, é uma relação real”.

Quando questionado se as motivações têm a ver também com um fortalecimento dos nomes Ventre e E A Terra, Luccas explica que “é tão fluido e tão natural que é muito difícil pensar em outra questão, seja de cenário ou mercadológica. Acho que as pessoas se divertem vendo a gente fazendo essa troca ao vivo”.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.