Bomba Estéreo: Abram Alas Para o Colombeat

Banda colombiana ganha corpo e os palcos do mundo

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Sem exageros: Bomba Estéreo é um dos grupos mais legais em atividade no planeta. Nascida no eixo Bogotá-Santa Marta, a partir do encontro entre o multiinstrumentista Simón Mejia e a cantora Liliana Saumet em 2005, a banda existe para levar ao mundo uma versão Eletrônica de ritmos nativos como a Cumbia, a Rumba e próximos, como o Reggaetón, mas dizer apenas isso é ser reducionista. Bomba Estéreo tem um conceito global em mente, o reprocessamento de valores e origens “exóticos” com vistas a torná-los universais e comuns a todos nós. É uma espécie de Tropicália portátil, que vai se apresentar no Palco Sunset do Rock In Rio, no dia 23 de setembro, ao lado de Karol Conka, num encontro que parece ter tudo a ver, além de abrir para Arcade Fire em seus shows por aqui. No meio dessa agenda, Bomba enfrenta um de seus maiores desafios: fazer sucesso no Brasil, algo para poucos-pouquíssimos artistas latino-americanos.

Digo isso com certa tristeza ao observar que Bomba Estéreo estará se apresentando em países como Noruega, Alemanha, Inglaterra, Espanha, França, Bélgica, Holanda, além do Paraguai e da própria Colômbia. Só agora dá as caras por aqui, num show que terá menos de uma hora de duração, mas, se tudo der certo, plantará a sementinha entre ouvidos prontos para a conversão. “E por que é tão legal?”, você deve se perguntar. A resposta é simples: o uso da Eletrônica por parte de Mejia e seus amigos, aliada à valorização dos ritmos colombianos e desta atitude latino americana, ultrapassa o o exotismo de praxe e acrescenta uma poderosa pegada ao som dos sujeitos. A proposta da banda está bem longe, por exemplo, daquela adotada pela maior popstar da história da Colômbia, Shakira, que é o primeiro nome que nos vem à cabeça quando pensamos no país e na música. Bomba Estéreo não está disposta a abrir mão de uma “colombice” natural, uma coisa alegre, meio brasileira, caribenha, em favor de uma pasteurização visual e artística, pelo contrário. A coisa aqui vai no rumo oposto, procurando usar as facilidades da digitalização e da eletrônica para propagar informações. Tem algo a ver com alguns aspectos ideológicos do Mangue Beat, mas só no que diz respeito a valorizar raízes e reenviá-las ao mundo.

Bomba Estéreo está lançando seu quinto álbum, Ayo, o segundo pela Sony. O anterior, Amanecer (2015), foi o responsável pelo estouro mundial e pela tal passagem para um nível de visibilidade maior. Apesar disso, já em 2011/12, o grupo era saudado por editorias especializadas de veículos respeitados, caso da MTV Latina, que apontou a banda como uma das grandes promessas musicais para a próxima década. Uma audição mais apurada das onze canções de Amanecer, já mostra a receita dos caras atingindo níveis de êxito sensacionais. Mejía, que fez estágio de produção com ninguém menos que Brian Eno, tem a manha para valorizar o instrumental sintético-orgânico dos sujeitos e a voz sensual/anárquica de moleca que Liliana empresta. Com faixas altamente remixáveis e dando as caras nos mais diferentes canais de divulgação – Soy Yo foi parar na trilha sonora do Fifa 2015 – o disco foi relançado com versões remixadas totalmente, com direito a uma faixa inédita, Fiesta, que trouxe a presença de ninguém menos que Will Smith, um cara que deveria deixar a carreira nos filmes de lado e retomar seu lugar como Fresh Prince ao lado de DJ Jazzy Jeff para ontem. Antes dele, até o nosso intrépido BNegão participou de faixa com o grupo, a balançada Roca, do disco de 2013, Elegancia Tropical.

Com esta pinta de atração bombante mundial (sem trocadilho, vai), Bomba Estéreo está chegando com vários trunfos na manga. A época parece boa para ouvir coisas novas e a forte união histórica que temos com toda a América Latina, apesar dos esforços de D.Pedro II em nos esbranquiçar e ter feito de nosso país um império tragicômico, sempre é mais forte quando temos a chance de nos relacionar diretamente com esses povos sensacionais. Longe da rivalidade midiática, do preconceito e da burrice, Bomba Estéreo é um convite pra um passeio de barco pelo Caribe colombiano, com sol, música e confraternização. A música é irresistível e muito bem feita. Não dá pra ignorar este chamado. Vamos.

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MARCADORES: Artigo, Conheça

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.