Balanço: Cinco Anos de Gop Tun

Amizade e curadoria musical afiada marcam selo que traz Antal para aniversário

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Fotos: Foto: Felipe Gabriel

Cervejas geladas, uma vista linda de São Paulo à beira da piscina, termômetro estourando 38 graus. Se não fosse pela jarra caseira de limonada servida pelos goppers anfitriões numa sala de escritório, a descrição caberia até para mais uma edição da festa Gop Tun. Neste clima hospitaleiro, o coletivo recebeu a reportagem do Monkeybuzz na véspera da comemoração de cinco anos, que rola neste sábado (28/10), na Praça das Artes (SP) com Antal (Rush Hour) e grande elenco.  

Era para ser uma breve entrevista, mas o papo se transformou numa roda de histórias, que se entrelaçam com a evolução da Gop Tun somada ao fortalecimento da visibilidade internacional da cena eletrônica de São Paulo. E a conversa se estendeu até a gravação do podcast Chá da Gop no Q.G. da rádio Na Manteiga, no dia seguinte, quando Bruno Protti, o TYV, completou o bando.

Em meio à correria de trabalho, Fernando Nascii, Gui Scott e Caio Taborda acharam um tempinho para relembrar das primeiras edições. Só teve uma pergunta difícil: qual Gop foi a mais especial?

O COMEÇO: GRUPO NO FACEBOOK

Sabe aqueles grupos que você cria com os amigos no Facebook para trocar uma música que acabou de caçar, além de sets, notícias de DJs e informações de festivais que você adora, mas pouca gente conhece? Foi assim que surgiu a Gop Tun. “Era difícil encontrar quem curtisse os mesmos sons, não lembramos muito bem como isso se iniciou. Conforme cada um conhecia um amigo que tivesse afinidade musical, incluía no grupo”, relatam os goppers. Alguns fizeram primeiro amizade virtual. “Estava de terno e gravata num evento quando me apresentaram o Nascii”, brinca Caio Taborda. Movido pela vontade de tocar e trazer os artistas que estavam pesquisando para ver de perto, o grupo partiu das redes para as pistas.

FAZ-TUDO

“Não somos bookers, fomos virando bookers na raça, do nosso jeito. Conforme as circunstâncias surgiam, aprendemos a negociar”, contam eles, que levaram muito não no começo. “Enviávamos e-mail para vários DJs, agentes e agências na gringa. A maioria nem respondia. Mas tentávamos, né?”, contam, “acho que ninguém botava fé, tipo, eram uns caras desconhecidos do Brasil organizando festa”. Artistas em passagem pelo Brasil na pilha para tocar, como foi com Joakim, e a ajuda de amigos, foram fundamentais para marcarem as primeiras gigs estrangeiras por aqui.

Até se dedicarem integralmente ao selo, os DJs conciliavam as festas e criações musicais à agenda de trabalho em agências e no ambiente corporativo. “Sempre fizemos de tudo, de procurar locação a instalar grade e montar palco. Organização e união foram fundamentais para as coisas fluírem”.

LOCAÇÕES

Quem frequenta a Gop desde o comecinho está ligado que o grupo costuma mandar bem na escolha dos locais das festas. “A gente entrou numa pira de procurar uma locação diferente. Não era fácil, mas tornava cada festa especial por isso”. “A maior loucura que fizemos foi colocar Young Marco para tocar no Heliponto. Não podíamos colocar qualquer tipo de cobertura no local. Ele começou a tocar e o tempo fechou, até abriu o set com Mark Barrott – Bush Society (risos). Por sorte, foi só uma garoa”. Entram na lista casarões, fábricas desativadas, edifícios históricos, como o Clube Piratininga (com Mano Le Tough numa edição histórica), e até uma estufa de plantas, onde tiveram edições com Tim Sweeney e Joakim.

CURADORIA

A pesquisa musical ferrenha da Gop Tun é dos maiores trunfos da label, que manteve radar apurado na busca por nomes que estavam prestes a “estourar”. Ou convidou artistas que se consagraram a tal ponto de, atualmente, terem valores nas alturas. “Chamamos EJECA para tocar quando pouquíssimas pessoas o conheciam no Brasil, por exemplo. Hoje, o cachê do live do Four Tet está totalmente fora das nossas condições. Arriscamos na hora certa”.

Atrações passadas incluem: Crazy P, Night Plane, Cameo Culture, Tom Croose, Lucky Paul, Balcazar & Sordo, Joakim, EJECA, Roosevelt, Mano Le Tough, Jacques Renault, Kazim Kazim Kazim, Four Tet, Floating Points, Tornado Wallace, Mark Seven, Gilb’R, Fatima Yamaha, Dekmantel Soundsystem, Anthony Naples, Fantastic Man,Tiago, Kornél Kovács, Justin Van Der Volgen, Steve Bug, Space Dimension Controller, Telephones, Tom Trago, Gerd Janson, Palms Trax, Paramida,  Maurice Fulton, Skatebard, Baba Stiltz, Black Madonna, Anthony Parasole, Barbara Boeing, Selvagem, Paulo Tessuto, Ana Helder, Cashu, Joey Anderson, Marcellus Pittman, Justin Van Der Volgen, Marcos Cabral, Tanner Ross, Iron Curtis, Lauer, Justin Strauss.

EDIÇÕES E PROJETOS PARALELOS

Nesses cinco anos, a crew se enveredou no comando de outros projetos, como a Verano, Apartamento Gop Tun, Quintal Gop Tun, Maria Balearic e a Tentáculo, criada para ser uma alternativa mais intimista em relação a Gop Tun, que já tinha proporções muito grandes. Apesar da escolha por atrações mais obscuras no line-up, a Tentáculo virou um sucesso de público a ponto de fazer os goppers avaliarem os rumos do evento, que cresceu mais do que eles imaginavam.

AAAH, o DEKMANTEL

A ponte do grupo com os holandeses do Dekmantel foi erguida com muito empenho e negociações. Mas a vibe e organização das festas brasileiras foram fundamentais para conquistar o festival.

Entre os pontos-chave dessa conexão foi o showcase, que rolou impecável no ano passado na Praça das Artes, edifício de arquitetura impressionante e arrojada no centro de São Paulo. Em plena época de pré-Carnaval, os organizadores também curtiram de cara ter que circular entre bloquinhos até chegar o local. Outro cartão de visitas foi a ida do Dekmantel Soundsystem à festa Moo + Gop Tun de 2016, que rolou no Rio em pleno Carnaval, de graça e na rua.

“O Caio nos avisou que tinha algo muito importante para nos contar, mas só falaria se todos estivessem pessoalmente no escritório. Morremos de curiosidade! Ele segurou por quatro dias até reunir todos. Quando ele falou que o Dekmantel tinha confirmado a edição em São Paulo… nossa, foi surreal!”, revelam os goppers. “A cada atração confirmada, era difícil até de acreditar. Jeff Mills, Nicolas Jaar, entre outros… eram artistas que sonhávamos em trazer para cá”.

DE OLHO NOS LATINOS

As turnês da crew Gop pela Europa e pelos EUA foram importantes para comprovar a crença do grupo em relação ao fortalecimento da cena Eletrônica brasileira atual. Mas foi uma passagem pela América do Sul que eles viram que a qualidade da produção musical se estendia além do Brasil. “Conhecemos gente incrível em Bogotá, como Mansvvr e o Leeon, do Video Club. Estamos empolgados pesquisando artistas latinos”, revelam. Ponto alto: altas chances de rolarem atrações de outros países da América do Sul na edição do Dekmantel de 2018.

NO RADAR

Quer saber das últimas descobertas da Gop Tun? Vale a pena ficar ligado nos Gop Casts de convidados lançados no Soundcloud da crew. Além disso, rola o programa de podcasts Chá da Gop, feito em parceria com a rádio online Na Manteiga. As gravações são feitas num estúdio de vidro em plena Galeria Ouro Fino, espaço que é fundamental na história do nascimento da cultura clubber paulistana dos anos 90. Entre olhares de passantes curiosos, as gravações são transmitidas online e depois publicadas também no SoundCloud. Na plateia ao vivo, amigos vão lá curtir um som e fazer companhia, onde todo mundo fica à vontade. Só não vale pendurar no smartphone. Afinal, sempre tem uma atração bacana rolando numa qualidade sonora ideal para os mais nerds, que curtem ouvir atenciosamente um set fora do clima de festa. “À vezes, o convidado faz um som tão empolgante, que os espectadores ficam com raiva da gente! Reclamam de estarmos sentados ou usando telefone. Falam que deveríamos estar dançando. É engraçado!”.

CINCO TRACKS MARCANTES

“A seleção é baseada em momentos especiais desses cinco anos da  Gop Tun. Têm desde faixas como Little Fluffy Clouds (The Orb), marcante nas primeiras edições. Carly Simon fechou várias pistas nossas! Vai até momentos mais recentes, como em Renee Running.

*The Orb – Little Fluffy Clouds*

Stand On The Word (Lerry Levan Mix)

Carly Simon – Why

Blawan – Getting Me Down

Dude Energy – Renee Running

DEPOIMENTOS

L_cio (D.O.C./Kompakt)

“Desde que vi o Berg entregando os adesivos da Gop Tun (antes da festa acontecer) até o começo das festas, label, festivais… destacava como eram organizados, muito focados e consequentemente um dos núcleos mais fodas de São Paulo. Muito respeito por todo trampo que eles fizeram e certamente farão cada vez melhor… Terão sempre meu suporte! Viva Gop Tun!”

Coy Freitas (BFerraz)

“Acho incrível pensar que em tão pouco tempo o núcleo da Gop Tun conseguiu um lugar tão relevante na cena Eletrônica paulista, e que reverbera nacionalmente. Acho que esta geração conseguiu conciliar a paixão com o profissionalismo, com estratégia e objetivos claros e bem trabalhados. Isso sem perder o lado subversivo, contestador e livre… digno de uma visão estética apurada, de um respeito profundo à arte e o entendimento de seu papel na sociedade. Vida longa a Gop Tun e a todos os seus projetos e desdobramentos, fico aqui no meu canto feliz de ver que a galera jovem está dando continuidade ao que nós começamos há muitos anos, com tanta qualidade e alegria.”

Paulo Tessuto (Carlos Capslock)

“Quando a Gop Tun apareceu eu já logo me identifiquei. O nome é muito bom e atual. Um reflexo da nova era da linguística e arte interplanetária e da maneira de se enxergar as dialéticas. Surgia ali um núcleo sério, dedicado e objetivo. Os lines sempre muito bem elaborados e colaborando muito para o intercâmbio cultural da nossa cena a Gop Tun foi uma das festas mais importantes dessa nova leva. A conexão Brasil-Holanda contribuiu muito para a nossa cena e os ponta de lança foram eles. É sempre um prazer trabalhar com pessoas que tem idéias alinhadas com as nossas. Vida longa e bora, Nelson!”

Camilo Rocha (Nexo Jornal/Bate-Estaca)

“Que caminho incrível percorreu essa festa. Lembro bem do início pequeno. Hoje, são parceiros de um dos festivais mais legais do mundo, o Dekmantel, e trazem atações como Black Madonna. Parabéns pelos 5 anos!”

Trepanado (Selvagem)

“Curiosamente, eu fazia parte do grupo fechado no Facebook em que a Gop Tun foi encubada, lá atrás – acho que a Selvagem tinha acabado de começar. foi demais ver a galera correr atrás da própria história e fazer muita coisa acontecer nesses cinco anos. A primeira vez que tocamos foi numa festa com o EJECA, onde hoje fica o Studio Dama, mas tenho ótimas memórias da vez que abrimos pro Tim Sweeney numa estufa na Vila Madalena, uma festa que pegou fogo. Enfim, já curti muito com a turma, aqui e fora do país, e atesto que os caras sabem o que fazem hoje e o que vão fazer no futuro.”

Renato Cohen (DJ)

“Gop Tun construiu uma história com tanta paixão e honestidade que dá pra sentir isso em cada detalhe. Parabéns e parece que é só o começo!”

Jade Gola (jornalista e frequentador)

Line-ups internacionais impressionam e atraem público e mídia, mas eu sempre admirei os sets e a versatilidade dos Gop Tun DJs tocando ao lado dos mais variados figurões. Bons DJs de cabeça aberta, que sabem fazer festa. O sucesso não é à toa!”

Calendário de comemorações

28/10 – São Paulo, Gop Tun 5YA – https://goo.gl/QCsn8s 04/11 – Rio de Janeiro c/ Comuna – https://goo.gl/WoLvQX 11/11 – Florianópolis c/ Troop – https://goo.gl/3NLHhc 25/11 – Belo Horizonte c/ 1010 01/12 – Campinas, Club 88 09/12 – Porto Alegre, c/ Neue 27/12 – Alter do Chão, Reveillón Tapajós 04/01 – Bahia, TBA 20/01 – Itajaí, Warung

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MARCADORES: Eletrônica

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