“This Charming Man”: Afinal, Quem É Morrissey?

Com um lançamento engatilhado, passado do artista é revisto

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Steven Patrick Morrissey é Morrissey, ícone do Rock britânico dos anos 80, cenário no qual brilhou ao lado de seu comparsa Johnny Marr com a banda The Smiths. Mas mesmo que o grupo tenha acabado ainda naquela década, o artista nunca afastou-se da carreira musical, lançando um total de dez álbuns solo nesses últimos 30 anos, atingindo o status de instituição musical. Com um novo lançamento marcado para o próximo dia 17, nos perguntamos: “o que significa ouvir Morrissey hoje em dia?”.

Seu estilo de composição é muito próprio, construindo uma perspectiva deprimida, na qual os dias passam sem se notar, e ficar na cama é sempre uma alternativa melhor do que socializar. Ouví-lo junto a The Smiths é reconhecer o retrato de uma juventude introvertida, angustiada, que não se encaixa na vida. No mundo do compositor os relacionamentos não funcionam, o mundo não anda pra frente, há uma nuvem que escurece o céu. É a elaboração estética de uma juventude vinda dos anos oitenta, que se definiu a partir do Rockabilly e do Punk.

Tudo isso tem a ver também, é claro, com o cenário social da Inglaterra de Thatcher. O nome da banda, escolhido por ser um extremamente comum no país, denuncia esse viés social: uma juventude pobre, da classe trabalhadora, que, sem acesso a muitos devaneios, precisa construir os seus próprios.

A música de Morrissey sempre foi dramática e suas letras pulsam uma sinceridade que apaixona ou incomoda profundamente os ouvintes. Não à toa, a influência do compositor alastrou-se pelo mundo. No Brasil, por exemplo, influenciou o nascimento da Legião Urbana.

Com o passar do tempo, Morrissey passou a ser figurinha carimbada nos noticiários dadas suas declarações polêmicas e sua militância. Além de ativista dos direitos animais desde sempre – em uma de suas falas mais controversas, chegou a declarar que o Mcdonald’s mata mais do que atentados terroristas -, o músico é um crítico ferrenho das figuras políticas do seu país. Sua mania opinativa tornou-se uma das suas marcas registradas.

Mas o que significa, ouvir Morrissey hoje? Bom, a verdade é que, apesar de seu foco enquanto celebridade polêmica, na música pouca coisa mudou. Carlos Eduardo Lima diz, em sua resenha de World Peace Is None of Your Business, o último lançamento do músico até então, que “a esta altura do campeonato, Morrissey não tem qualquer intenção de doutrinar novos admiradores ou reafirmar aspectos de sua carreira para velhos fãs. Ele só quer morrisseyzar por aí, o que significa exercer o saudável papel de cronista do nosso cotidiano e reafirmar suas impressões sobre o mundo… E Morrissey sempre foi assim, teimoso e com um vasto repertório de contradições. De alguma forma ele sobreviveu a três décadas fazendo música quase sempre relevante e influente”.

A palavra “reafirmar” vem bem a propósito nesse caso, como se o artista viesse sublinhando o que tem a dizer desde os anos 80, no esforço de fazer com que todos compreendam sua fala. Veja Spent The Day In Bed, o single lançado para o divulgação de seu novo trabalho Low In High School, no qual canta “I spent the day in bed, as the workers stay enslaved, and I recommend that you stop watching the news”, tropos estilísticos que fazem Morrissey ser quem é.

Portanto, não é uma questão de angariar novos fãs, tampouco de satisfazer os antigos: ouvir o artista é como encarar de frente uma versão romântica do gênio, que dá vazão a uma força criativa da qual simplesmente é o meio de expressão. E ele não vai parar até que todos tenham ouvido o que tem a dizer.

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ARTISTA: Morrissey
MARCADORES: Redescobertas

Autor:

é músico e escreve sobre arte