Lançamento: As Facetas de Jose Hesse

Músico lança disco do projeto Elionor Emu, ainda fala sobre processo criativo e KINKID

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Fotos: Anna Luna

Quem ficou ligado nos lives que rolaram no Dekmantel em São Paulo, com certeza lembra da brisa boa despertada pela performance de KINKID. Dono de um live sempre executado com diversas nuances e ambiências complexas, porém deliciosas aos ouvidos, Jose Hesse é um artista multidisciplinar. Para nossa sorte, ele tem muitas caras.

Agora, é a vez de ficar ligado em Elionor Emu, projeto no qual José conduz os ouvintes deslizando por uma atmosfera de viés dançante, numa alma de leveza delicada e surreal. Week’s been A Blur é o nome do disco lançado hoje, feito com masterização e mixagem do elogiado músico experimental Bruno Queiroz, que divide o tempo entre vários trabalhos de arte e shows na banda da cantora Elza Soares.

Vale a pena conferir o clipe elaborado especialmente para o lançamento. “Esse vídeo foi feito por uma grande amiga cineasta francesa, Camille Danton. A gente se divertiu muito pirando nele, foi um processo rápido e despretensioso. Ela me surpreende com seus talentos escondidos. São imagens de arquivos, exceto o final em que usamos fotos nossas e imagens de uma seção de laparoscopia de um amigo meu”, conta Hesse.

No bate-papo com o Monkeybuzz, ele falou sobre o processo de criação do álbum, planos do selo Domina, do qual faz parte do grupo de idealizadores e é integrante. O mais interessante é constatar as influências da avó Milagros Lanty, cantora dominicana, que é um ícone do Bolero da sua terra natal. Além da importância dela na formação musical, avó e neto gostam de utilizar a arte como meio de fazer indagar a situação política e social de onde vivem. Milagros cantou como ninguém versos capazes de questionar a situação social dos povos afro-caribenhos.

Monkeybuzz: Conta um pouco sobre sua formação musical até atingir o universo Eletrônico. Você tocou em bandas e tem familiares músicos. Como foi essa transição do uso dos instrumentos musicais tradicionais ao formato Eletrônico e de live?

Jose Hesse: Eu estudei violão clássico por anos na pré-adolescência e me vi envolvido com o Hardcore na escola. A minha avó era cantora de bolero dominicana, tinha uma voz incrível, e era uma grande entusiasta da música, praticamente me inseriu nesse mundo. Ela me mostrava coisas como Michael Jackson e Marvin Garvey. De fato, foi muito importante ter ela por perto na minha formação de vida. Sempre tive ouvidos abertos para música Eletrônica, mas isto andava em paralelo a isso tudo. Tinha amigos DJs no início da faculdade, pesquisadores assíduos que me levaram a ter interesse por discotecagem e começar minha coleção de vinil na época. Até então, era só uma passatempo corriqueiro. Mas me divertia tocando em festas para amigos. Há cinco anos, eu tive o primeiro contato com um sampler sequenciador. Lembro de ter ficado fascinado, e busquei pesquisar sobre aquele tipo de instrumento naquela mesma noite. Descobri que era um mundo vasto e interessante. Não deu outra. Quando me dei conta, já tinha um ou dois instrumentos do tipo, e vivia querendo mais hardwares para alcançar outro sons, outras timbragens.

Mb: Qual é o setup utilizado em Week’s been A Blur?

Jose Hesse: Nesse disco eu usei bastante piano para compor as faixas. Há também a presença forte de um sintetizador analógico chamado Analog Keys e uma machine drum. No meio do disco, aparecem picotes de vozes que foram captados em uma comunidade indígena no interior de Goiás, final de 2016. O processo de composição e junção desse material foi rápido, cerca de quatro ou cinco meses. Ele ficou de lado um tempo, pois eu estava atribulado com outro disco composto no meio disso tudo, e também viagens para me apresentar. Faltava um acabamento, daí eu decidi finalizar isso no fim do ano passado. Eu diria que foram sete meses do início ao fim do processo inteiro.

JoseHesse

De certa forma, eu queria criar esse diálogo sobre a música Eletrônica que não fosse nichada, sabe? Inserir elementos orgânicos e criar uma atmosfera na qual as abordagens fossem distintas e que pudesse se relacionar de uma forma mais humana e lúcida. Eu penso em música em termos estranhos, é positivo e ainda sim meio pervertido. Onde eu componho a noite. é calmo e silencioso, acho que esse ambiente dita um pouco a serenidade do disco. Não acho que faça alusão a um diário e sim a um momento histórico e político que estamos vivendo. Talvez a faixa 23 de junho possa ter essa conexão, essa data é o dia seguinte ao meu aniversário e ela soa exatamente como eu me sinto nesse dia. Eu fiz esse tema para um filme longa do diretor Pedro Coutinho, os estudo para esse trabalho foram grandes e saíram coisas lindas.

Mb: Quem criou a arte do álbum?

Jose Hesse: Foi feita pela sensível e brilhante de Julia Mota, artista plástica de São Paulo, o trabalho dela me encanta pela leveza.

Mb: A master e a mix foram feitas com Bruno Queiroz. Como vocês se conheceram? Qual conexão e sintonia vocês tiveram nesse trabalho?

Jose Hesse: Conheci o Bruno foi há quatro anos, quando eu participei de aulas sobre arte sonora no parque Lage. Logo percebi a mente única e pulsante que ele carrega. Viramos amigos um tempo depois, curtimos muitas doideras juntos, tenho uma admiração e respeito grande por ele. A sintonia já estava feita, tinha trabalhado com ele no meu disco de Ambiente/Noise, Discount Codes. Ele me entende, pesca a minha intenção com facilidade. Eu sempre mixo antes de mandar e ele adiciona uns cortes matemáticos de frequência pontuais que eu desconheço. Funciona bem, adoro trabalhar com ele.

Mb: O que você extravasa artisticamente no seu processo criativo no projeto Elionor Emu que é totalmente diferente do que rola como KINKID?

Jose Hesse: Eu criei o KINKID para exercitar a escrita, apesar de ter participado de festivais de música Eletrônica, o projeto inclina para uma abordagem de canção. Situações e histórias que desejo externar. Com Elionor Emu, eu encontro um lugar em que consigo fazer músicas instrumentais, mais dançantes. Ainda sim há um diálogo de sensibilidade entre os dois projetos.

Mb: Quais são os planos da Domina para 2018?

Jose Hesse: A Domina enquanto selo tem alguns lançamentos em vista, em breve lançamos uma cassete do Akin, produtor e pensador cultural de São Paulo e integrante do selo também. Estamos preparando um VA com vários artistas distintos, uma grande compilação. Está prevista para julho/agosto. E estamos fazendo o Domina Live rodar, que é um live act de Techno com o nome da label. É o encontro de integrantes do selo para tocar ao vivo, numa apresentação sempre bem forte.

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