Em nova formação, Baleia se despede da fase “Atlas”

Banda relembra seus passados, o distante e o recente, em vídeos exclusivos

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Março de 2018: Não dava tempo de sentir ou pensar muita coisa, já que a passagem de som para os dois shows que Baleia faria no Sesc 24 de Maio, em São Paulo, acabou a poucos minutos da primeira apresentação. Entre trocar de roupa, escrever a ordem das músicas e acertar os últimos detalhes das gravações do vídeo para o Monkeybuzz, a banda passava por outro processo: O de apresentar pela primeira vez na cidade seu show em formação de quarteto.

Corta a cena, voltamos para agosto de 2017, quando os shows já eram um tanto menos sobre o disco Atlas e um pouco mais sobre o repertório da banda em si – aquele ponto de virada meses após o lançamento de um álbum. Três dos integrantes (Sofia Vaz, Gabriel Vaz e Cairê Rêgo) receberam uma equipe do site no Rio de Janeiro para passear por lugares significativos em sua história: Parque das Ruínas, onde aconteceu seu primeiro show, e o estúdio onde costuma ensaiar, bem em frente à Praça São Salvador, local frequentado pelos músicos. Muito pouco tempo depois, a saída de dois de seus membros encerraria a estabilidade dessa curta fase de shows com um repertório tão bem consolidado até ali.

Falando ao Monkeybuzz por telefone há poucos dias, Gabriel definiu bem não só o momento atual em que Baleia está, mas também sua própria natureza: “É aquele lance do rio, que é sempre igual, mas sempre diferente ao mesmo tempo, porque não é um lago com água parada. A gente está sempre em um novo momento e tentando entender esse momento. É até angustiante como a gente não pára de aprender e de tentar se conhecer”.

É exatamente daí que surge a estrada para o futuro que a banda começa a trilhar hoje. Tão acostumada às transformações, Baleia propõe uma espécie de obra aberta que será desenvolvida e lançada aos poucos – uma dinâmica totalmente diferente do entrar no estúdio por um tempo determinado para sair de lá com um disco pronto. “A ideia é ser uma coisa tão viva que nem dá para saber ou projetar o que será esse caminho”, explica o vocalista e baterista, “mas o que a gente quer é estar abrindo o processo de pensamento de como essas canções foram criadas. A tentativa é estar vulnerável a tudo”.

“A resposta do público para as músicas, até mesmo o que as pessoas sentirem e o que elas falarem sobre o que estão sentindo, vai influenciar a criação das próximas”, continua, “é muito bom ler uma resenha do nosso disco, porque é como se ver no espelho de uma maneira mais clara do que a gente consegue descobrir sozinho, sem ter essa visão panorâmica. A ideia é a gente ter uma troca, se vulnerabilizar, e deixar essas respostas atingirem a gente durante o processo. Assim, a gente vai entendendo melhor o que a gente está fazendo. É meio doido, né? (risos) É meio abstrato, mas é essa a tentativa, o que eu acho que também reflete um pouco esse momento que a gente está vivendo, tudo rodando ao mesmo tempo, com as certezas mudando o tempo todo”.

Como as três músicas gravadas no Sesc 24 de maio (Hiato, Duplo Andantes e Estrangeiro) mostram, o show em quarteto não deve em nada àquilo que Baleia apresentava em sexteto, principalmente em sua força sonora. É diferente não ter o teclado em Casa ou a percussão em Motim, mas o uso de samples que já acontecia nas apresentações do segundo disco, mais evidente em faixas como Volta, dá conta de aproximar os arranjos para quatro músicos mais parecidos com o que já conhecíamos. Ou seja, a experiência da banda ao vivo continua aquela que você espera ao ouvir os álbuns, uma musicalidade que se desenvolveu ainda mais nessa última turnê.

Quebra Azul foi a gente descobrindo as possibilidades do que a gente poderia fazer, ou poderia querer, e o Atlas foi a combinação de tudo isso o que a gente descobriu”, conta Gabriel, “ele saiu numa época em que muitas pessoas na banda estavam passando por situações pessoais muito intensas e o mundo estava começando essa loucura toda que estava hoje. Então, a gente colocou pra fora uma energia que, olhando agora para trás, foi uma coisa muito intensa, muito cheia, tinha muita coisa pra falar ao mesmo tempo. E a sensação agora, depois do Atlas, que é um disco meio “céu caindo”, e depois da saída de dois integrantes, é de que o furacão passou e a gente está olhando o que está perdurando da nossa identidade e do nosso som, o que que tá sustentado ainda depois dessa avalanche”.

“No Atlas, a gente teve muito controle do que a gente estava fazendo e do processo todo”, continua, “eu sinto que a gente está em outra fase agora, a gente não quer mais fazer um disco da mesma forma, a gente quer deixar as coisas fluírem mais. A ideia é não querer barrar, não querer criar uma represa, mas deixar a parada fluir com todo o coração, se deixando levar pela correnteza”.

Aquele show no Parque das Ruínas trazia ainda outra formação diferente da que gravou Quebra Azul, o que comprova também como a natureza da banda é mutante desde sempre e sua história é sempre mais pautada pelo agora do que pelo que deixou para trás. Como Gabriel conta: “As coisas nunca foram iguais para Baleia. É por isso que agora, depois do furacão do Atlas e das mudanças nas nossas vidas e no mundo, a gente tá só tentando fluir e se deixar ir”.

“Eu acho que a transformação que a banda sofreu está naturalmente acarretando em uma mudança. Eu não diria que a gente vai mudar completamente o som, mas eu sinto que está caminhando para uma nova fase sonora. O fato da banda ter virado um quarteto automaticamente criou um certo desejo de tentar ser um pouco mais direto, de deixar mais espaços na música. A gente está redescobrindo uma certa leveza, a gente colocava muita intensidade e pensava muito sobre cada coisa que estava fazendo. Com essa experiência toda, a gente já pode se deixar ir, já tem a maturidade de ir se guiando e, ao mesmo tempo, se deixar levar por isso”.

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ARTISTA: Baleia

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.