Sobre o que Paul McCartney fará em seu “Egypt Station”

Ex-Beatle volta com disco de inéditas após cinco anos

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Fotos: Divulgação

Sim, ele está vindo aí novamente. São 76 anos de idade, 48 discos, divididos entre trabalhos solo, álbuns de música erudita, gravações ao vivo, experimentos eletrônicos e de Easy Listening, além, claro, daqueles gravados com suas duas bandas: The Beatles e Wings. Este é Paul McCartney, um workaholic, concorrente direto ao posto de maior compositor pop de todos os tempos, hiperativo e criativo depois de todos esses anos de trabalho. Se você e eu às vezes não queremos sair da cama, com frações da idade de Paul, ele segue firme e forte, brindando o planeta com um álbum de inéditas de tempos em tempos. Este é o caso de Egypt Station, que será lançado no dia 7 de setembro.

Qual é o motivo para que a gente preste atenção nisso? Simples. O que bandas como The Beatles fundaram em termos de música Pop planetária continua valendo. Abordagens, referências, sínteses, temática, juventude, tudo está lá. Claro, foi atualizado com o passar dessas quase seis décadas desde o surgimento do grupo, mas as bases são as mesmas. Paul era o maior arquiteto sonoro do quarteto de Liverpool, responsável por amarrar ideias – alheias e próprias – e conferir o embrulho perfeito para presente, direto para corações e mentes aqui e alhures. Ele ainda tem a manha, já deu inúmeras provas disso e não deverá ser diferente com o novo trabalho.

Paul nunca olhou para o passado, apesar de parecer o exato oposto. Sua carreira é marcada pela busca incessante de modernidade ou futurismos de alcances variados e poder de fogo distinto. Já brincou com muitas coisas, já forjou seus limites como músico e está confortável neles. Veja, confortável não é o mesmo que acomodado. O sujeito sempre dá um jeito de ouvir o que está acontecendo no mundo, é antenadíssimo e segue desse jeito. Para a produção, recrutou o badalado Greg Kurstin, que já assinou trabalhos de gente tão distinta quando Adele e Foo Fighters. Seria facílimo para Paul investir na nostalgia, mas ele sempre se recusou a isso. Um disco de regravações, de versões, de sobras, nada disso passa por sua mente. Ele gosta do trabalho, do estúdio e do palco, é onde se realiza.

Kurstin deu entrevista para a revista Rolling Stone norte-americana como se fosse uma criança realizando seu maior sonho. Contou como foi produzir o velho ex-Beatle e como ele é senhor do estúdio. Contou como domina técnicas modernosas e como isso o surpreendeu, além de admirar sua habilidade com bateria, baixo, guitarra e piano. Kurstin revelou que o disco virá com uma faixa “épica”, nos moldes de velhos clássicos como Band On The Run, com várias mudanças instrumentais e de andamento. Falou também que Egypt Station é um trabalho em que Paul mais tocou nos últimos anos. Sua banda estava presente o tempo todo, mas foi menos utilizada do que o habitual.

As canções divulgadas até agora, I Don’t Know, Come On To Me e Fuh You (a única não produzida por Kurstin, ficou a cargo de Ryan Tedder) mostram algumas das diferentes faces de Macca: lá estão a balada artesanal, rica, com arranjos em tapeçaria sonora de primeira categoria; o rock encrespado, rápido, porém melodioso e gentil e, por fim, a canção com referências sessentistas, no espírito experimental dos Beatles lá por 1965/66, quando começaram a mudar de pele. Elas antecipam o desejo de ouvir um trabalho que vem bastante pessoal, no qual Paul assina até a capa, que empresta uma gravura que ele pintou em 1988. A ideia de chamá-lo Egypt Station também acena para algo conceitual, um diário de viagens, algo exótico, vamos aguardar.

O fato é que Paul McCartney vem aí, com trabalho inédito. Veja, nascerão gerações em pouco tempo que não terão este privilégio. Temos que respeitar.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.