Edgar tem sua arte marginal validada por um dos palcos mais celebrados do país

Rapper faz show do disco “Ultrassom” no SESC Pompeia neste sábado, 15

Fotos: Pedro Ladeira

“É pegar um véu e fazer de saia, usar cueca de top, arrumar uma outra função pra parada. Eu gosto muito disso” – Edgar é um nome de destaque crescente na cena do Rap do país, conquistando seu espaço com personalidade própria e uma proposta artística bastante específica. Assim como o estilo musical se aproveita de samplers de outras músicas, seus figurinos nos shows são feitos a partir de materiais que ele recicla a partir do lixo. Neste sábado, 15 de setembro, ele levará arte para um dos palcos mais célebres do Brasil: O Sesc Pompeia, em São Paulo.

A ocasião é um grande marco em sua carreira também por ser o show de lançamento de seu primeiro álbum, Ultrassom. Lá, Edgar apresentará sua música, que dialoga diretamente com a cultura urbana pós-Punk, daquele lance do it yourself, em batidas e temas que situam seu trabalho como marginais – afinal, estamos falando de Rap, ritmos nordestinos e de lixo juntos em um mesmo palco.

“O lixo transformou pra caramba aonde a minha arte estava indo”, contou o artista ao Monkeybuzz por telefone. “O catador de reciclagem não fala com ninguém, e ninguém fala com ele na maioria das vezes”, explica ele, “espero que um dia vire um baita representante dessa galera que pega mesmo o reciclado, faz e transforma. Eu acho mor importante. Tem uma galera que tá vindo dar um salve que também faz o seu trampo a partir de material reciclado. E aí você vê que nem tem como chamar de lixo. É material, é matéria prima, é rico pra caramba”.

Essa sua proposta também é amparada pelo aspecto Lo-fi de clipes como Plástico. “Eu sempre fiz um ‘faça você mesmo’, ia juntando algumas coisas, tentava filmar”, comenta Edgar, “por não ter quem fazer, fui botando a mão na massa. Aí fui interagindo mais com a galera do audiovisual, e fui conhecendo vários VJs”. Seu mais recente vídeo, O Amor Está Preso, foi o primeiro a receber uma produção mais robusta – “um custo caro do caralho”, em suas palavras: “Foi uma experiência bem louca, porque a maioria dos meus clipes ou é muito abstrato, ou tem uma linguagem bem glitch, ou muita apropriação de imagem com chroma key. Ali não, a gente conseguiu fazer um bagulho bem como a gente queria, bem cinema, criando nossas próprias imagens”.

Percebe-se que, sem ferir sua natureza, proposta ou identidade, Edgar tem conseguido proporções maiores com seu trabalho, assim como o salto de produção de um videoclipe para o outro mostra. Ao ser perguntado se a escolha pelos materiais rejeitados (para não dizer “lixo” novamente) vem da vontade de se impôr como “marginal” e mostrar que está fora do padrão esperado de artistas, ele ri sem timidez e logo concorda.

“É gritante isso. Por estar colando com uma galera já mais criada nesse cenário, eu vou aprendendo umas paradas. Tem uma galera que pega um formato, né? Eu me sinto um artista experimental. Eu acho válido querer fazer uma coisa Pop e misturar a porra toda pela questão do experimentar, ‘isso eu nunca fiz, vamo ver se rola’. Mas ‘padrão’, acho que não. Se tentar me colocar dentro de uma fórmula, acho interessante, mas eu ia vir do meu jeitão, não ia dar pra ser muito engarrafado. Sempre transborda (risos)”.

Ter participado do novo álbum da cantora Elza Soares foi um dos marcos que colocaram Edgar em um outro nível de reconhecimento, assim como o trabalho com Pupillo (Nação Zumbi), que produziu seu disco. “Quem sou eu? Eu estava bem de boa ali, o Pupillo que deu um salve”, conta ele ao ser perguntado sobre como a parceria começou, “foi uma parada muito sincera, dois brothers querendo fazer um barulho. Não sabia que o cara tinha um Grammy Latino, tá ligado? Eu estava ali tirando onda. Céu também, mor madrinha. Kiko Dinucci, Juçara [Marçal], tudo padrinho, uma galera que dá um salve. Não que seja meritocracia, mas essa galera chega e parece que te dá uma medalha de honra. É um próximo nível, uma afirmação e um impulsionamento pra você não parar”.

Pupillo estará também neste show, ao lado de David Bovée, ambos nas programações. “Galera fala ‘porra, maluco do Rap toca com dois DJs’ (risos)”, brinca ele, “é engraçado, tem uma galera que fica de cara. Mas nem é DJ, é MPC com as bases das faixas, cada uma com uma linha da música, cada botãozinho tem uma paradinha. É diferente de uma banda, mas também é diferente de um DJ, você fica com lado direito e lado esquerdo protegidos, dá toda uma confiança”.

Sendo este o show de lançamento do disco, sabemos que esta história toda ainda está muito no começo. Veremos o que marcos como tocar no Sesc Pompeia trarão para a carreira do rapper. “Espero que não só eu, mas outros artistas da minha geração consigam estar nesse palco, mostrando seu trabalho”, comenta Edgar, “tendo essa validação, esse carimbo de não sem quem”.

Serviço: Edgar – Lançamento de Ultrassom Data: 15 de setembro (sábado) Horário: 21h30 Local: Sesc Pompeia (Comedoria) Endereço: Rua Clélia, 93 – São Paulo/SP Ingressos: R$6 (credencial plena/trabalhador do comércio e serviços matriculados no Sesc e dependentes), R$10 (pessoas com mais de 60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino) e R$20 (inteira) Capacidade: 800 pessoas Duração: 90 minutos Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 18 anos Para mais informações acesse o Portal Sesc

ARTISTA: Edgar
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.