Swamp Dogg: Doideira, Persistência e Dissonância

Veterano chamou atenção de nomes como Bon Iver e Poliça

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Jerry Williams Jr é conhecido no (sub)mundo da música como Swamp Dogg. É bem provável que você nunca tenha ouvido falar deste senhor de 76 anos. Ele é um desses caras que parecem identificados com o passado obscuro ou com uma realidade alternativa e, apesar de nossa ignorância a seu respeito, lança discos com relativa assiduidade. Sua praia é uma variante lisérgica e inquisidora do Funk’n’Soul do sul dos Estados Unidos, essa entidade atemporal de música e referências culturais da opressão branca no país mais poderoso do planeta. Jerry/Swamp é cria desse berço, nasceu na Virgínia, bem no meio deste terreno explosivo. Não é novidade que este cenário de injustiça e desigualdade racial se reflita em sua arte.

O que difere Swamp Dogg de seus contemporâneos é que ele não regula bem. Vejam, quando falamos isso é em tom de elogio. O planeta não parece mais capaz de gerar artistas que tenham apreço pela surpresa, pela imprevisibilidade. Pelo menos não a ponto de deixar esse tipo de inspiração tomar conta. E Swamp Dogg não parece estar preocupado em afastá-la do contexto. Seus discos no passado sempre foram uma mistureba de verborragia política, comportamental, cotidiana e enlouquecida sobre as pessoas, com molduras musicais que variam da psicodelia negra e um Sly Stone, especialmente no explosivo Total Destruction Of Your Mind, em cuja capa ele aparece vestido de cuecas em meio a um lixão. Sua missão ao longo da carreira parece ter sido sempre criar uma musicalidade alternativa, que servisse melhor como acompanhante de sua figura. Sua grande inspiração no início da carreira era um dos maiores outsiders da música: Frank Zappa.

Swamp Dogg atravessou as décadas e chegou ao início dos anos 1990 com um apreço especial pela música Eletrônica como ferramenta de estúdio. E, a partir dessa visão, buscou sempre meios de obter sonoridades estranhas em meio a seu referencial Funk’n’Soul do início da carreira. O resultado nem sempre chegava a materializar suas ideias, mas o sujeito jamais desistiu e continuou a gravar. O tempo o presenteou com o reconhecimento de uma geração vigente de músicos que, se não têm a doideira absoluta como pedra de toque em suas carreiras, têm percepção suficiente para reconhecer a chance de genialidade em gente como Swamp Dogg. Esses sujeitos são Justin Vernon e Ryan Olson, mentes pensantes por trás de Bon Iver e Poliça, respectivamente.

A ideia deles foi pegar o conceito de Swamp e adicionar estranheza em níveis super-duper-wow. Isso significou entupir as gravações com ferramentas como Auto-Tune, efeitos, distorções, coisações, de modo a criar uma paisagem estranha, alienígena, doida, pervertida e cativante, tudo ao mesmo tempo. O resultado disso está materializado em Love, Loss and Auto-Tune, que será resenhado por aqui em muito breve. Vernon deu declaração importante para a Rolling Stone gringa, dizendo que o trabalho com Swamp e Ryan o tirou de uma depressão e que ele se envolveu muito mais do que estava previsto. Ele é o responsável por algo definido como “processamentos de voz” nos créditos do álbum e o resultado de sua importância é palpável por todo o percurso de canções.

Igualmente louvável é a abertura de mente que Swamp Dogg mostrou com a coisa toda. Também em entrevista, ele disse que todas as gravações de gente que parecia “o último biscoito do pacote” e das quais gostava, carregavam efeitos de estúdio para tratamento da voz. Daí o interesse em incorporar essas ferramentas ao seu registro vocal que, é bom que se diga, jamais precisaria de algo assim.

Aberto, maluco, instigante. Esse é Swamp Dogg e você ainda vai ouvir falar bastante dele.

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ARTISTA: Swamp Dogg
MARCADORES: Redescobertas

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.