Entrevista: alt-j

Tecladista Gus Unger-Hamilton comenta “REDUXER”, novo disco de remixes do trio britânico

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Fotos: Divulgação

Referência absoluta no som Indie feito nesta década, o trio britânico alt-j decidiu levar as músicas de seu terceiro álbum, RELAXER (2017), a novos territórios com REDUXER, disco de remixes lançados na última sexta (28). Com presença de nomes como Little Simz, Rejjie Snow e Pusha T, músicas como 3WW, In Cold Blood e Deadcrush ganharam versões bem diferentes, mas ainda no mesmo grau de liberdade criativa com que foram concebidas.

E “liberdade” parece ser uma palavra chave para entender o processo criativo da banda. Ao menos, foi isso o que ficou da conversa por telefone que Guz Unger-Hamilton, tecladista e vocalista do grupo, teve com o Monkeybuzz nesta semana. Ele falou um pouco sobre o lançamento do disco, o trabalho da banda e suas lembranças de tocar no Brasil.

Monkeybuzz: Agora que Reduxer saiu, o que você acha mais legal nesse processo de poder oferecer as músicas que já conhecemos em outras versões?
Gus Unger-Hamilton, alt-j: Acho que, para mim, foi descobrir todos esses novos talentos que estão no álbum. Quando tivemos a ideia do disco, conversamos com representantes do nosso selo em outros países e contamos o que queríamos fazer, perguntando se eles teriam sugestões de nomes do Hip Hop que seriam legais de termos junto. Eles deram sugestões ótimas. Não conhecia Little Simz e Hex, aqui do Reino Unido, e agora só ouço eles o tempo todo. Também de outros países, como Rejjie Snow (da Irlanda) ou Kontra K (Alemanha), por exemplo. São músicos que não estariam no nosso radar se não fosse por esse álbum. Isso é ótimo.

Mb: Sobre a presença dos rappers no disco, essa escolha veio como uma forma do grupo dialogar mais com o som mais em voga hoje em dia, diferente do Indie do começo da década quando alt-j começou? Gus: Não diria que esse é exatamente o caso. Acho que é mais um reflexo de como os nossos fãs, e os fãs de música no geral, têm hoje um gosto mais amplo do que antes. Quando eu era novinho, ou você ouvia Indie, ou era Gótico, ou escutava Metal, você tinha que ficar no seu mundinho, o que não acontece mais hoje. Acho que esse disco reflete essa mudança.

Mb: Esse contato com novos músicos, eu imagino, é muito inspirador para um artista, em um nível bastante pessoal. Como você acha que isso pode influenciar seus próximos trabalhos?
Gus: Ótima pergunta. É transformador sim, com certeza. Mas não acho que mudará muito o som que alt-j faz. Nos sentimos muito livres dentro do nosso cenário, não temos restrições para ficarmos só em um gênero. Se esse disco tiver uma boa resposta, pode ser que trabalhemos novamente com artistas do Hip Hop, quem sabe? Acho que é mesmo uma experiência.

Mb: alt-j foi uma enorme influência para outras bandas dentro do que chamamos de Indie há alguns anos, sempre vi muito de vocês em discos de outras pessoas. Como é para você lidar com esse fato, de tantos músicos pegarem vocês como referência?
Gus: Isso é muito legal. Quando começamos, não sabíamos quais eram exatamente as nossas influências, falar sobre isso sempre era complicado. Ouvir de você que outras bandas se parecem com alt-j é muito legal. É uma posição interessante saber que você pode passar pra frente a inspiração que um dia recebeu, sabe?

Mb: Outro aspecto que acompanha a carreira do grupo é sua videografia. Todos os clipes, desde o começo, são muito surpreendentes. Como é a relação de vocês com os clipes? Gus: Nós todos estudamos Artes na faculdade, acho que isso já responde muito. Assim que assinamos com o selo, deixamos claro que nunca queríamos estar nos clipes, porque queríamos que eles fossem como “curtas” com nossas músicas, e eles toparam. Isso sempre foi muito importante para nós, essa parte visual só não é mais importante que a música. Tentamos trazer algo diferente, tratamos a oportunidade de fazer um clipe como a de fazer um filme mesmo, algo que as pessoas queiram ver por si só e que não seja um mero acompanhamento para a faixa. É legal como ele pode expandir seu significado.

Mb: Sei que as turnês são sempre muito corridas. Mas estar em outros ambientes ajuda a inspirar seu processo de composição? Gus: Sim, com certeza. Nós conhecemos muitos músicos durante as turnês, o que é sempre revigorante, e a viagem por si só acaba influenciando a música sim. A ideia de poder viajar é algo que gostamos bastante. E muitas das nossas músicas mais recentes foram compostas na estrada, porque é onde passamos a maior parte do tempo (risos). Antes, elas eram escritas em casa, e agora são feitas nos Estados Unidos, Austrália, Brasil…

Mb: Por falar em Brasil, como foi a experiência de tocar por aqui? Gus: Sim, lembro que, quando tocamos no Lollapalooza, fizemos uma das Lolla Parties e alguém nos entregou uma bandeira do Brasil enquanto estávamos no palco. Era uma casa de shows pequena, e todo mundo estava super envolvido naquele ato. Foi o momento em que eu senti que o país tinha nos aceitado, estava nos falando “gostamos de você”. Nos sentimos em casa, eu nunca vou me esquecer disso.

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ARTISTA: Alt-J
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.