Lucius: “Olhamos para o futuro na busca de algo novo”

Banda que acompanha Roger Waters na turnê comenta seu jeito de fazer música

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Duas vozes que se misturam perfeitamente, mas em uma banda que não se contenta apenas com isso, buscando uma grande riqueza de timbres e referências. Quem foi ver algum dos tão falados shows de Roger Waters no Brasil teve a feliz oportunidade de testemunhar pessoalmente a estética que a banda norte-americana Lucius apresenta no palco e nas suas gravações, servindo como uma atração de abertura digna para o ex-Pink Floyd.

“Não tem como fazer parte disso e não ser impactada por seu trabalho”, disse Jess Wolfe ao Monkeybuzz durante sua passagem por São Paulo, “seu show é relevante, é atemporal e, por isso, é muito forte”. Sobre a escolha de Waters para ter o grupo com ele na turnê, a musicista comenta que “ele viu em nós o que ele enxerga em si mesmo, o desejo de transportar as pessoas para outro mundo”.

Centralizado nas figuras de Jess e de Holly Laessig, Lucius aposta em uma verdadeira mescla sonora que passeia por décadas e estilos em um processo de composição bastante orgânico. É o tipo de música que agrada quem segue nomes de grande criatividade dentro do Indie como St. Vincent, Tune-Yards e até mesmo Arcade Fire.

“Sempre dizemos que não escrevemos um tipo específico de música”, comenta Jess, “costumamos compor sobre coisas que aconteceram em nossas vidas. Não há uma fórmula para o que fazemos. Temos uma linguagem nossa, de nós duas, então tudo saide um certo modo naturalmente”. Sua parceria Holly explica que suas composições nascem com as duas juntas “começando apenas com um instrumento. Não fazemos jams, como tantas bandas. Acredito que você precisa de algo que se sustente bem se você tiver apenas um violão”.

“Quando nos conhecemos, foi especial desde o primeiro momento”, conta Jess, “não sabíamos aonde iríamos ou exatamente o que faríamos, mas havia algo precioso que queríamos buscar juntas. E acho que, porque não nos pressionamos, estávamos abertas ao que poderia acontecer. E sempre tentamos nos superar, sempre queremos nos destacar… não de uma maneira competitiva, mas porque isso nos motiva.

Por falar no formato de “músicas cantadas com violão”, Lucius lançou no início do ano o disco Nudes, que traz regravações de sua carreira e faixas de outros músicos, tudo no formato acústico, priorizando as composições e também, é claro, as vozes. Além de Waters, há músicas como Eventually, do sempre referenciado Tame Impala, o que expressa bem a reunião de influências que cerca seu trabalho.

Holly explica que acha “importante que a música que você faça, mesmo se ela for nostálgica, reflita o momento em que estamos agora”. Jess, por sua vez, explica: “Olhamos para o futuro na busca de algo novo, algo que nos anima no horizonte, e também olhamos para o passado e acenamos àqueles que nos fizeram ser quem somos”.

“Há uma vontade de honrar aquilo que você ama desde que nasceu”, conta ela, “eu viajava de carro com meu pai – Holly também fazia isso com a família dela – e nós ouvíamos fitas antigas na viagem. E essas músicas entram no seu DNA. à medida que sua vida acontece e você ouve mais e mais música, você acaba ficando obcecada por produzir e fica mais consciente daquilo que te cerca”.

Sobre estar no Brasil, as duas comentam que o que viveram aqui certamente terá impacto em seus próximos lançamentos. “O jeito que as pessoas interagem, o som do idioma, o gosto da comida… tudo adiciona à nossa coleção de experiências preciosas. Somos bastante ativas na hora de experimentar culturas”, conta Jess, “fomos a uma aldeia indígena no outro dia. Eles nos mostraram suas plantações, como eles colhem, onde oram, eles cantaram e cozinharam para nós. Foi muito legal”.

“Você é uma esponja e acaba absorvendo ritmos, danças, sons, o jeito que as vozes todas cantam juntas, e é impossível que isso não ‘saia’ mais tarde”, explica Holly”, é difícil afirmar quando e como, mas agora está lá dentro, você tem todo um vocabulário para trabalhar que não tinha antes”. “Não dá para escapar das experiências que você passa. O bom é poder usar tudo isso para sua arte”, conclui.

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ARTISTA: Lucius
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.