Suspiria: A Música Antes do Filme

Ouvimos a trilha sonora de Thom Yorke antes de assistir ao filme. Funciona?

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Fotos: Greg Williams

Pode não parecer, mas em todos esses anos de carreira é a primeira vez que Thom Yorke compõe uma trilha sonora, adentrando um território já bastante explorado por seu companheiro de Radiohead Jonny Greenwood. A ocasião é o remake de Suspiria, filme de Dario Argento dos anos 70, que agora ganha sua versão contemporânea nas mãos de Luca Guadagnino (Call Me By your Name).

O filme original, um clássico cult, possuia uma trilha sonora composta pela banda de Rock Progressivo Goblin que respondia aos exageros cromáticos de seu visual. A versão atual, ao contrário, responde a uma paleta muito mais empalidecida, de tons surpreendentemente melancólicos. No entanto, nos propusemos a ouvir o álbum por si só, antes mesmo de assistir ao filme, na tentativa de responder a seguinte pergunta: a trilha de Suspiria funciona descolada do filme para o qual foi feita?

A resposta é positiva, porque, apesar de algumas inserções sonoras, ruídos ocasionais, que vão remeter o ouvinte mais atento para o longa metragem, o álbum flui com desenvoltura e se sustenta enquanto experiência individual. Uma experiência que, diga-se de passagem, apesar de embasada em um filme suspense, pode ser bastante relaxante.

Ainda mais em se tratando de um artista como Thom Yorke que, apesar de ter se declarado “fora da sua zona de conforto”, possui um catálogo anterior de músicas imersivas e ambientes – como as de seu álbum Tomorrow’s Modern Boxes por exemplo. Suspiria, o álbum, possui 28 faixas no total, o que parece demasiado mesmo para um disco duplo, mas o esforço se justifica no número de pequenos excertos climáticos que servem de transição e parecem colar as faixas maiores umas nas outras.

Existem, grosso modo, dois tipos de música na trilha de Suspiria: as mais convencionais, com Thom Yorke cantando junto ao piano, dignas de figurar em álbuns como A Moon Shaped Pool e que vão imediatamente entrar para a playlist dos fãs. Juntam-se a elas momentos transitórios que servem para construir alguma expectativa de algo que nunca se consome, traduzindo uma espécie de angústia sonora, explorando liturgias e territórios proibidos para a mente consciente do ouvinte.

Thom Yorke consegue escavar temas que são a matéria prima dos filmes de terror, explorando universos que desconhecemos, mas os sublima em faixas delicadas que respondem ao seu jeito de fazer música. Sem dúvida o álbum servirá muito bem àqueles que procuram uma experiência expandida do filme, mas também se destaca por contar algumas das melhores composições da carreira solo do artista.

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ARTISTA: Thom Yorke
MARCADORES: Trilha Sonora

Autor:

é músico e escreve sobre arte