Beck: Produtor Influente

Músico demonstra uma grande capacidade nos bastidores das gravações ao mesclar suas influências com o trabalho de seus artistas

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Beck pode ser considerado o “camaleão” de nossa geração musical, apelido introduzido no mundo da música através da figura icônica de David Bowie. Assim como o músico inglês, que costuma se transformar musicalmente e esteticamente, ele tem uma carreira bastante dinâmica, com diversas fases bem delineadas. O turning point deu-se quando o músico entrou em uma melancolia profunda após o término de um relacionamento amoroso duradouro e gravou uma de suas obras primas, Sea Change.

No entanto, além do músico ter um talento impressionante para composições e arranjos diversos, tal valência também foi aplicada na produção de alguns artistas interessantes. É visível a influência que Beck teve no desenvolvimento de ideias nos discos destes artistas, deixando traços diretos ou indiretos de sua personalidade presentes em algumas canções.

O seu primeiro trabalho foi feito em 2009 com Charlotte Gainsbourg, filha de um dos maiores compositores de música francesa de todos os tempos, Serge Gainsbourg. Em seu disco IRM, Beck faz uma participação especial na música Heaven Can Wait, além de produzir e mixar a obra. Nessa faixa, podemos ver a fase mais atual do camaleão, com um ritmo mais calmo, um certo ar melancólico e os toques de “dramédia” de seus recentes lançamentos. O clipe é especialmente cativante.

Em seguida, Beck produziu algumas músicas do cantor de Soul e Música Eletrônica *Jamie Lidell. A fase mais psicodélica e experimental do camaleão é bem encaixada nos padrões igualmente fora de contexto de Lidell. O resultado deste experimento pode ser visto na canção The Ring, que lembra bastante os tempos de Devil’s Haircut de Beck.

Ele também produziu o disco solo de uma das cabeças do extinto Sonic Youth, Thurston Moore. Em Demolished Thoughts, o ex-guitarrista de um dos símbolos do Rock Alternativo escolheu um caminho mais orquestrado e acústico, demonstrando uma maior sensibilidade artística sem deixar de perder a sua intensidade . Quaisquer semelhanças com a fase acústica do produtor não são meros acasos.

Em Mirror Traffic, disco de 2011 de Stephen Malkmus and the Jicks, o produtor soube absorver o espírito roqueiro da banda e, ao mesmo tempo, deixar o trabalho do grupo muito mais divertido e jocoso. Talvez represente uma nova fase na carreira do produtor, se livrando dos seus demônios amorosos na procura de um som mais dinâmico aos tempos atuais. Vale a pena conferir o trabalho de Beck neste disco.

Existem basicamente dois tipos de produtores: aqueles que criam um estilo musical ou aqueles que influenciam o estilo de um artista. Beck se encontra mais no segundo tipo de produtores. Sem deixar de mostrar as qualidades de seus músicos, o produtor consegue deixar traços e características marcantes de sua carreira como forma de moldar e direcionar o som. A virtude deste processo consiste na influência terna, mas presente, que leva basicamente qualquer um que goste do camaleão a gostar de seus artistas produzidos. Bom para aqueles que apreciam, ao final de tudo, uma boa música.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.