Os Bastidores das Mentes Solitárias da Belle and Sebastian

Assistimos ao pequeno documentário que conta histórias da gravação de “If You’re Feeling Sinister”, de 1996, segundo disco da banda

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Sabe aquela ideia incoporada desde a infância sobre como música é feita? A inspiração vem de repente, letras com muito significado, melodias simples, bastante pessoais, gravadas em um clima amigável, cercado de pessoas queridas e no final todos acabam se identificando com o que foi dito e a obra vira um clássico? Às vezes, como no caso da Belle and Sebastian no disco If You’re Feeling Sinister, é assim mesmo que funciona.

O Pitchfork lançou uma série de documentários que contam um pouco dos bastidores da gravação de discos importantes. A escolhida da vez foi a banda de Glasgow, provavelmente com o intuito de reaproximar fãs e conquistar novos, já que eles serão headliners de um dos dias do Pitchfork Festival.

O filme é um bonito documento sobre uma banda que não costumava se promover muito, sempre cultivou essa atmosfera misteriosa, hipster, deixando todos curiosos para conhecerem aquelas pessoas que ao ouvirem o disco tantas vezes já pareciam tão íntimas. Se engana quem pensa que eles não procuravam o sucesso, Stuart Murdoch, vocalista e um dos criadores do grupo, deixa bem claro que sua intenção ao tomar estas atitudes era distanciar-se da produção da época, fazer sua própria história e criar essa aura cult para a banda, na intenção de que isso, aliado à música, criassem um álbum clássico da música Pop mundial.

Em uma estrutura bastante simples, o diretor RJ Bentler conta por meio de entrevistas com praticamente todos os envolvidos com a banda, somados a materiais raríssimos da época, coletados com familiares dos integrantes, tudo que envolveu os anos iniciais da Belle and Sebatian. Desde a formação da banda e a busca quase que numa jornada estilo Onze Homens e Um Segredo pelos músicos ideais, até a produção do primeiro e do segundo discos e uma descrição faixa a faixa de If You’re Feeling Sinister, o filme mostra-se uma ótima introdução para novos fãs se apaixonarem pelas letras e melodias delicadas da banda, ao mesmo tempo que é uma hora completa de alegria para os fieis seguidores do grupo.

O documentário mostra-se importante para entender melhor o disco e admirá-lo ainda mais. 17 anos após seu lançamento, cada um já ouviu tantas vezes cada uma das dez faixas e já incorporou seu próprio significado a cada uma, sendo um momento interessante para parar e refletir novamente sobre elas, agora do ponto de vista de Stuart.

Este inclusive nos conta que inicialmente, compunha letras mais pessoais, sobre situações do cotidiano, já que ele não se considerava alguém normal, e escrever sobre isso o fazia sentir mais inserido no mundo a sua volta. Porém, conforme a convivência com os membros da banda foi aumentando, as músicas foram naturalmente refletindo todos e seus pensamentos e impressões compartilhados foram traduzidos segundo a perspectiva do compositor.

Outro ponto que impressiona é a rapidez com que os discos da banda eram finalizados, sendo esse feito em apenas oito dias. Essa velocidade é fruto da simplicidade melódica que os caracteriza e também da maneira narrativa com que Stuart escreve, sem se preocupar com estruturas muito rígidas nas canções, tornando-as mais humanas, mais sinceras e mais fáceis de se identificar.

Belle and Sebastian é um daqueles grupos que não vão tocar em uma rádio, ou em uma loja, é música para se identificar e curtir em momentos introspectivos, possíveis de se compartilhar só com os mais íntimos, já que admitir ouvi-los é automaticamente aceitar como suas as experiências contadas por Stuart, o que pode ser algo bastante revelador. É incrível também o poder que tiveram em If You’re Feeling Sinister de traduzir os pensamentos de uma época e de um determinado tipo de pessoa. Se o disco tivesse se popularizado hoje, suas composições estariam sem dúvida, dentre as mais compartilhadas em legendas no Instagram.

Assista abaixo ao documentário disponibilizado no YouTube na íntegra pelo Pitchfork.

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Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.