Urban Contemporary: o estilo que criou interrogações ao surgir no Grammy

Nova categoria, vencida por Frank Ocean (foto), gerou perguntas sobre sua definição. R&B e estilos Pop compõe o sub gênero

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Todo ano temos a mais famosa e galmurosa cerimônia de premiação da indústria fonográfica mundial, o Grammy Awards. Responsável por avaliar, nomear e premiar os melhores artistas, produtores e técnicos do mundo da música do ano anterior, o Grammy também tem a força de influenciar construindo opiniões, além de criar tendências e nomenclaturas que acabam sendo adotadas logo em seguida tanto pelo mercado musical, quanto para o próprio público consumidor de música. Na última edição, a 55ª de sua história, e que ocorreu agora em 2013, entre tantas categorias surgiram três novas, e uma delas gerou discussão por não ser compreendida pelo público que acompanhava a premiação, trata-se do Urban Contemporary.

Apesar de aparecer somente agora em 2013, esse termo Urban Contemporary – também chamado de Contemporary R&B – não é tão novo assim. Criado nos anos 70, mas só ganhando força a partir dos anos 80 e 90, por Frankie Crocker, DJ de uma radio de Nova York, o nome era uma referência a um estilo que começava a ganhar espaço, um R&B/Soul/Hip Hop, às vezes junto, às vezes separado, e que recebia uma caraga mais Pop, no sentido de ser mais comercial.

Segundo a National Academy of Recording Arts and Sciences, instituição por trás do Grammy, e consequentemente a responsável por colocar essa nova categoria na premiação, descreve esse sub gênero da seguinte maneira: “Álbuns que contenham pelo menos 51% de seu tempo com faixas com vocais contemporâneos e derivados do R&B. Essa categoria é destinada para os artistas que incluem os elementos contemporâneos do R&B, assim como, elementos urbanos vindos do Pop, Rock, Alternativo e Euro-Pop”.

Definir o que é Urban Contemporary não é algo tão linear e simples, visto que há uma mistura de outras referências, na qual uma delas, e sua principal, também é bem contraditória em sua definição e explicação: o R&B. Num período de 20 anos, entre 1940 e 1960, o R&B – abreviação de Rhythm and Blues, virou uma definição de diferentes tipos de som, desde a base para o surgimento do Rock‘n’Roll, quanto uma definição de estilos como o Soul, o Jazz e o Gospel. Com a chegada da onda rockeira dos anos 60, que tomou conta primeiramente na Inglaterra, o Rythm and Blues passava a ser apenas a base do Rock e seu homônimo e “gêmeo” passa a ficar caracterizado pela a abreviatura R&B, perdurando assim até hoje.

Nos anos 80 e 90 era a vez de o toque urbano e Pop enfim se fazer presente no R&B, entretanto sem ser ainda chamado, ao menos pelo público comum, de Urban Contemporary. Cidades como Nova York, Atlanta, Detroit, Memphis, New Orleans e Los Angeles foram uma das que tiveram maior erradiação (em ambos os sentidos) do estilo, muito pelo motivo de abrigar os principais artistas e gravadoras dos estilos que compunham essa nova onda.

Artistas como Lionel Richie, Stevie Wonder, e até mesmo Michael Jackson, foram grandes nomes a misturar a musicalidade do estilo com ares mais Pop. O resultado foi grandes estouros de vendas de discos e aparições na mídia e deixando o novo estilo nas graças do público. Mais adiante nos 90, a onda urbana ainda estava presente com artistas como R. Kelly, Boyz II Men e Brian McKnight.

No início dos anos 2000, com o ganho de força e espaço dos artistas alternativos/Indie houve, assim como os demais estilos musicais, a mescla entre desse som alternativo com outro estilo, aqui no caso o R&B, resultando no que acabou ficando de fato marcado como o Urban Contemporary que tivemos como categoria do Grammy. A influência anterior, até os anos 90, se restringia praticamente apenas a mistura com o Pop. Tal feito foi ampliado então com misturas maiores com o Indie, o Rock e alguns sub-gêneros do Eletrônico, resultando numa sonoridade a que abriu ramos, resultando em artistas que buscam uma vertente de R&B somada a algum outro estilo com o qual se identificava.

Além de Urban Contemporary e Contemporary R&B, outros nomes surgiram para caracterizar essa nova onda. Um em tom pejorativo, outro apenas como uma diferente opção. O primeiro caso, foi o do nome PBR&B. Tal nome foi dado em referência a cerveja Pabst Blu Ribbon (daí a sigla PBR), vendida nos EUA e tida como a marca favorita de jovens dados como hipsters, e assim sendo um nome alternativo para o estilo mas com tom negativado. Outra opção é o simples Indie R&B, nome o qual Miguel se diz a vontade de carregar consigo ao se referir, referirem, à música que faz.

Além de Miguel, outro nome, o qual inclusive disputou com ele e ganhou a categoria no Grammy, é Frank Ocean, ex-OFWGKTA, um dos nomes mais fortes desse estilo atualmente. O som de ambos é bem carregado da leveza do R&B, com vocais suaves e letras com forte introspecção, sentimentos pessoais e reflexões. No ano de 2012, channel ORANGE, disco de estreia da carreira solo de Ocean, figurou entre várias listas de melhores álbuns sendo responsável por uma divulgação indireta da nova onda do R&B para o público em geral.

Como dito, o Urban Contemporary/Indie R&B consegue associar diferentes elementos estilísticos à base tradicional do R&B, Soul e Hip Hop. Isso podemos perceber claramente com inc. e The Weeknd. Ambos trazem uma levada eletrônica de Downtempo e Trip Hop em seu som, resultando num trabalho muito bonito, juntando estilos que são propriamente belos se ouvidos em uma entonação mais branda e cadenciada.

Na onda do Hip Hop, o nome que despontou e ganhou força foi Kendrick Lamar. Ao trazer good kid, m.A.A.d. city, seu segundo disco, Kendrick nos entrega uma obra longa e que mistura muito bem o peso do Hip Hop com a carga emocional, e ate mesmo religiosa e familiar, resultando em um trabalho que foi amplamente elogiado.

Assim como todo resgate, sempre temos os artistas que buscam um retorno à essência. É o caso do cantor Kwabs. O britânico é uma das melhores novas vozes no assunto R&B e Soul, sendo bem fiel à tradicional entonação encorpada e grave de grandes nomes do passado e que fizeram o nome do estilo.

Apesar de ser exposto publicamente apenas agora, o Urban Contemporary/Indie R&B/Comteporary R&B – esteja à vontade para escolher – acabou ganhando essa notoriedade muito por causa dessa junção com o universo Alternativo e Indie que resultou em um trabalho que vinha sendo já trabalhado há anos atrás com os primeiros nomes a misturarem o estilo clássico dos anos 40 à 60 com a roupagem moderna do Pop e de outros estilos. Tudo isso resultou em um sub gênero extremamente interessante pela sua composição, e acima de tudo, prazeroso de se ouvir.

Discografia:

Frank Oceanchannel ORANGE MiguelKaleidoscope Dream inc.No World The WeekndTrilogy Kendrick Lamargood kid, m.A.A.d city KwabsPerfil oficial do Youtube

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Autor:

Marketeiro, baixista, e sempre ouvindo música. Precisa comer toneladas de arroz com feijão para chegar a ser um Thunderbird (mas faz o que pode).