“Don’t Believe The Hype”

Desde de seus primórdios, ela faz parte da Indústria Fonográfica, mas será que devemos segui-la?

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Você já deve conhecer aquela velha historia de artistas que lançam seus primeiros singles e que então são promovidos à exaustão por grandes veículos e em pouco tempo alcançam o status de novo artista cool do momento ou recebem “reconhecimento” quase que instantaneamente. Não é uma regra, mas em grande parte das vezes em que isso acontece, a atenção recebida excede, e muito, a qualidade de sua música.

A esse fenômeno se dá o nome de hype (que tem sua raiz na figura de linguagem “hipérbole”, empregada quando se quer dar um tom de exagero proposital). Desde os primórdios da Indústria Fonográfica, se intensificando com advento da música Pop, criou-se um ramo que cada vez mais parece se especializar em criá-las – as concebendo, alimentando por um tempo e, quase sempre, as destruindo para que outras possam surgir.

E pode ser que desta prática que surja grande parte das críticas quanto à descartabilidade da música feita nos dias de hoje, assim como a rápida obsolescência dos novos artistas, que muitas vezes pode acontecer com a mesma rapidez com a que surgiram.

Como você pode imaginar, essa não é uma prática nada atual. Mesmo retrocedendo um pouco no tempo, quando exclusivamente rádio, TV, jornal e revistas faziam a cobertura do meio musical, essa prática também acontecia amplamente. Tanto que o coletivo Public Enemy, em 1988, já clamava a plenos pulmões: “Don’t Believe The Hype”.

Voltando aos nossos dias: Hoje, estamos vivendo um momento de plena efervescência na música, como nunca ocorreu antes em toda sua história, e o número de produções aumentou tanto na ultima década que existe uma grande dificuldade em saber o que de melhor está acontecendo. E é neste ponto em que hype e Internet se encontram. Não que haja interdependência entre as duas, mas sem dúvida alguma a rede tem o poder de catalisar a propagação destes “fenômenos” de mídia.

De todas as Indústrias a da Música, foi a que saiu na frente, no que diz respeito a ser transformada e readaptada ao modelo da Internet e a agilidade com que ela consegue produzir novas hypes é assustadora. Todos os anos temos “o novo salvador do Rock”, “o novo [insira aqui uma banda anteriormente hypada]”, “o novo artista cool do momento” e no fim das contas não estamos mais ouvindo música, estamos consumindo música ou, melhor, estamos consumindo memes.

Paradoxalmente, hypes criam tendências e para o bem ou para mal elas acabam moldando os rumos da música por algum tempo (o que pode variar, e muito, dependendo da qualidade do que “hypou”).

Porém é um erro pensar que elas são absolutamente ruins. É claro que há casos e casos, mas em alguns delas artistas hypados vem para ficar e, mais que isso, conseguem deixar suas marcas na música. Trazendo um exemplo mais atual, não há como não dizer que The Strokes ou Arctic Monkeys não sofreram este processo no início de sua carreira – e que ainda hoje sofrem deste estigma -, mas também não há como negar que se saíram muito bem em seus futuros lançamentos e provaram que todo o falatório da época não foi em vão.

Por outro lado, e isso (in)felizmente acontece com a grande maioria, há aqueles não conseguem passar dos primeiros singles. Criando trabalhos que ficam subjugados à hype. Trazendo um exemplo mais uma vez recente, o quarteto Palma Violets fez uma estreia muito abaixo do que prometia, ou melhor, do prometiam em seu nome.

Esse é um ciclo que ainda está longe de acabar e que neste momento ainda é de forma um mal necessário para Indústria, mas se assim como Public Enemy e Arctic Monkeys, eu puder lhes dar uma dica: “Don’t believe the hype”.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts