Por que “Random Access Memories” é o álbum mais esperado de 2013?

Saiba todas as razões que estão por trás do enorme barulho em cima do novo álbum do duo francês Daft Punk

Loading

Oito anos sem lançar um álbum já seria argumento suficiente para responder a pergunta do título, mas não é só uma questão de tempo. Daft Punk foi alvo de blogueiros, críticos e curiosos há bons meses tentando descobrir detalhes da possível volta dos robôs, gerando boataria e, obviamente, muita expectativa. Desde nomes falsos para a obra, até faixas hipotéticas (e erradas), tudo girava em torno da esperança de que o mito da Eletrônica voltasse. Mas por que essa volta é tão importante para a música?

Thomas Bangalter e Guy-Manuel não são somente produtores ou DJs com uma identidade musical. A dupla é reconhecida fortemente por sua força de perfeccionismo e controle musical. Pequenos detalhes são fundamentais para que se passe uma mensagem ou encontre a melodia correta. Em uma época em que boa parte da nova leva de produtores mantém seus conhecimentos em cima de packs prontas, sons sintéticos e produção digital, Daft Punk sabe a fundo tudo sobre todos os processos fundamentais que levam à execução da música, desde a captação de som até o uso da gravação com o microfone correto. Esse domínio avançado trouxe para eles uma liberdade sem fronteiras de criação, de chegar geralmente onde não têm ousadia, de ter um som sempre à frente do tempo.

Essa liberdade é usada e abusada por ambos. A dupla permanece em estúdio por muito tempo para que se construa um conceito, se execute de forma impecável. E nada disso faria sentido se não houvesse uma mensagem nova a se passar e, por conta disso, cada álbum do Daft Punk tem uma proposta distinta e igualmente talentosa. Desde o mais comercial de Homework (1997), ou o início da era eletrônico-vintage com o magestral Discovery (2001) até o Electrorock minimalista de Human After All (2005), todos passam por gêneros diferentes – do French Electro às batidas reconhecidas de Hip Hop -, influências ora sessentistas ora oitentistas, mostrando uma capacidade gigante em metamorfose, adaptação e originalidade. Cada qual com a necessidade que os dois sentiam carência na época.

Random Access Memories é o quarto álbum do duo francês e segue a linha de inovação que todo trabalho do Daft Punk possui. Em crítica, Thomas e Guy falam bastante sobre a falta de intimidade e impessoalidade que o EDM tem hoje. A produção atual aleatória, “na sorte”, apenas pela busca de sons que combinam, já teria estagnado e tornado tudo repetitivo, sem “alma”. E é exatamente nessa última palavra que Daft Punk aposta no novo CD. Resgatar o Soul, trazer de volta o Groove de uma época em que a música realmente tinha uma importância na vida das pessoas, naquele tempo em que uma música movimentada multidões, ela tinha vida e ritmo. A regressão dos anos 80 para os 70 é coerente com a proposta de caminho inverso à ideia DF, conseguir uma humanização dos robôs, uma criação de vínculo, de vivacidade. E para isso, os tradicionais vocoders robóticos foram trazidos para forma mais humana possível, os sintetizadores receberam um apelo maior do analógico, e as batidas sampleadas foram substituídas por bumbo de bateria e riffles de guitarra. Tudo para tornar a melodia mais única possível. Buscaram Nile Rodgers pra isso, rei do Groove, responsável pelo hit Le Freak, pra não ter que citar as outras dezenas de sucessos.

O álbum contou com uma estratégia de marketing absurda. A começar pela liberação do loop, que todos agora já conhecem, de Get Lucky, no site do projeto, bem parecido com o que fizeram em Voyager (Discovery). Depois, em março, quinze segundos da música durante os comerciais do Saturday Night Live. E agora, há duas semanas, a jogada mais ambiciosa: a veiculação de pedaços de um possível clipe do primeiro single no Coachella, com a presença de Pharrell Williams e o legendário guitarrista Nile Rodgers, e a lista completa de todos os colaboradores de RAM – na lista também: o grandioso Giorgio Moroder, o vocalista do The Strokes Julian Casablancas, cantor do Animal Collective Panda Bear e o incrível Chilly Gonzales, entre outros. A atitude fez surgir uma leva de remixes para Get Lucky (até então nem lançada oficialmente) de produtores querendo aproveitar a onda pela visibilidade e até colagens tentando passar pela música original.

Em paralelo a isso, começaram a soltar curta-documentários com entrevista aos próprios colaboradores sobre o que estava por vir e onde cada um entrou e agregou no trabalho. Um (enorme) pitada de sensacionalismo aqui e ali, mas com muito conteúdo que nos faz sentir mais perto da realidade do o que é e como funciona, de fato, a produção de um álbum pelos robôs.

Resultado? Get Lucky chegou em número 1 de vendas no iTunes em 46 países, ensinando uma lição a todos os produtores que vangloriam o artificial. O que esperar disso? Expectativa gera frustração? Depende. Analisando a partir de um ponto de vista que “hitaram” um loop por quatro minutos ininterruptos não parece digno do brilhantismo do Daft Punk. Gosto de enfatizar que o Groove funciona e o loop é incrível, só proponho a reflexão de que estender o mesmo riff não parece condizente a tanto barulho. Mas, por fim, seria errado tentar resumir toda uma obra em cima de um único single. Quem tentar analisar o álbum através de um prisma eletrônico do French Electro vai certamente se frustrar. Guy e Thomas não têm a responsabilidade de seguir com a linha eletrônica pesada nas costas, mas de trazer uma nova tendência, provar por que o Daft Punk tem toda uma fama por se preocupar em mudar um cenário e inovar com uma proposta futurista. E isso inclui sair da comodidade da CDJ e trazer um ar de banda ao Daft Punk, assim como o vídeo no Coachella mostrou. Random Access Memories será lançado no dia 21 de maio (17 de maio na Austrália) e tem todos os motivos para que seja o álbum mais esperado de 2013.

Loading

Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King