“Fever To Tell”: 10 anos do clássico moderno do Yeah Yeah Yeahs

Obra-prima de Karen O e companhia completa hoje uma década e já pode assumir o posto de um dos grandes clássicos modernos

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Há exatamente 10 anos, uma das grandes hypes da época lançava seu primeiro disco e provava ao mundo que todo o falatório no ano que precedera seu lançamento não foi em vão. Se você acompanhava o tempestuoso mundo musical no começo dos anos 2000, não deve ter saído imune ao som implacável de Karen O e seu Yeah Yeah Yeahs, que ganharam a atenção do mundo com um par de EPs lançados entre 2001 e 2002.

Ao lado de bandas como The Strokes e The White Stripes, o trio nova-iorquino vinha no começo do novo século provar que o Rock and Roll ainda tinha lugar no mainstream e fazia isso da maneira mais crua possível. Casablancas e seus comparsas o fizeram com Is This It, Meg e Jack White com White Blood Cellse Karen O e sua turma com o ótimo Fever to Tell – sem dúvida alguma, um dos melhores lançamentos daquele ano e há quem diga que é o melhor da carreira do trio.

Toda a energia, simplicidade e brutalidade, entre outras características, que fizeram o trio se sobressair na cena musical dos 2000, e que também ajudaria a lançar o Indie Rock de volta ao mainstream, foi se perdendo e se modificando ao longo destes dez anos – sendo que em seu mais recente lançamento, Mosquito, quase não se nota mais espírito que “salvou o Rock” no começo do novo século. Essa sonoridade abrupta e “vanguardista” que ditou o comportamento e sucesso da banda durante essa fase inicial, chegou quase toda desfigurada no começo da nova década, com poucos resquícios da essência e ousadia que a tríade mostrava durante a fase de Fever To Tell – o que pode chocar fãs antigos ao ouvirem o novo disco e , é claro, o oposto também ocorre quando novos fãs são apresentados a esta fase.

Os dois EPs (e curiosamente nenhuma das faixas deles entrou no primeiro disco) que precederam esta obra deram fama e cacife suficiente para banda assinar com a Interscope e chamar Dave Sitek (produtor e membro da TV On The Radio, outra banda que começaria ali a despontar e levar o Indie Rock para fora do seu meio undergroud). O resultado não poderia ser mais conciso e bem sucedido. E isso se mostrou através do número crescente de fãs e de vendas – que somaram mais de 750 mil cópias ao redor do mundo, e isso em uma época em que a Internet já começava a abalar as estruturas do mercado fonográfico -, além de inúmeras críticas positivas e hits emplacados em todos os lugares (Maps e Y Control são dois deles).

Sonoramente, o disco não trazia grandes novidades aos estilos com que o grupo experimentava (assim como seus companheiros da época, Strokes e White Stripes), mas o trio sabia impor a eles ritmo, frescor e a inventividade necessária para quem soassem como tal. Faixas como Rich e Date With the Night (e basicamente todas as demais faixas do álbum) são um conglomerado de variações do Indie e Garage Rock, com forte influência do Art Punk; ou seja, nada do que já não havia sido feito há pelo menos 20 anos. Ainda que a crueza e toda a sujeira chamassem a atenção em um cenário repleto de bandas fabricadas e assépticas (sonoramente falando), eram as letras de Karen, juntamente ao seu vocal visceral e suas apresentações performáticas que quebravam o marasmo da cena roqueira e traziam todos os olhares para a tríade.

Com energia de sobra, o grupo esbanjava em suas canções riffs simples e potentes de Nick Zinner, e explorava muito bem a bateria com batidas precisas e pungentes de Brian Chase, que atingiam o ouvinte e o faziam sair dançando por aí – não à toa quase o disco todo pode ser tocado em grandes baladas Indies pelo mundo. Tick é um bom exemplo disso. Ela sabe misturar guitarras explosivas e uma batida pulsante, misto que ganha ainda mais potência quando os vocais berrados de Karen se posicionam acima de tudo mais. Com Black Tongue, Pin e Man acontece a mesma coisa, porém cada uma trazendo um novo sabor a mistura do trio.

Perto do fim do álbum, as faixas se apegam mais a melodia do que a potência e dinâmica vista até então, o que cria uma dicotomia bem interessante. No No No, ainda que com riffs pesados e angulares, sabe dosar muito bem a animação e criar espaço para os dois maiores singles deste disco: Maps e Y Control. Apresentando o outro polo da animada abertura com Rich, Modern Romance fecha Fever to Tell com uma bela e calma balada.

Mais um ponto positivo deste álbum e sua crueza é como ele é facilmente transportado para os palcos, sem grandes perdas do que foi visto em estúdio – se não é que ao vivo a banda conseguia ultrapassar o resultado obtido no disco. Conforme a complexidade dos álbuns seguintes foi aumentando, os shows deixaram de traduzi-los tão bem nos palcos, ainda que seus shows continuassem tão performáticos e incendiários como sempre.

Esses fatores fizeram de Fever to Tell um disco icônico não só ajudou a banda a se estabelecer entre crítica e público como ajudou a construir o cenário Indie Rock que só se fortaleceria a partir de então. Esta é a grande obra-prima do trio e, não à toa, ganhou menções honrosas como um dos “1001 Discos Para se Ouvir Antes de Morrer” e como um dos 100 melhores da década (segundo diversos veículos importantes como Rolling Stone, Pitchforck e NME).

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts