Entrevista: The Gift

Banda portuguesa, que se apresenta no Brasil nesta semana, nos contou com exclusividade sobre as quase duas décadas de carreira

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Quase vinte anos na estrada, presença em diversos países, uma discografia de peso, turnê com The Flaming Lips e uma sonoridade rica, completa e, principalmente, bela são apenas alguns dos muitos aspectos que podem chamar a atenção na banda portuguesa The Gift, que volta ao Brasil nesta semana para uma série de sete shows em cinco cidades (São Paulo, Bauru, Ribeirão Preto, Araraquara e Rio de Janeiro).

Ter contato com as músicas do grupo provoca sorrisos certeiros e surpreende também pelas sempre belas fotos, capas e videoclipes – tudo de altíssimo nível. Aproveitamos sua vinda ao país para conversarmos com John Gonçalves, o baixista da The Gift, sobre a carreira.

Ao final da página, você encontra pôster com a agenda da turnê brasileira, além de informações sobre sorteios de kits com ingressos para shows em São Paulo e CDs da banda.

Monkeybuzz: Desde a primeira vez que ouvi The Gift, sempre me chamou a atenção como tudo é combinado no que me parece ser uma estética muito própria, mais preocupada em suas próprias significações do que com referências. Como a banda lida com comparações e rótulos que outras pessoas insistem em usar?
John Gonçalves
: Acho que a tua definição é a correta. Tentamos combinar várias influências, não fechamos a porta a nada, englobamos vários estilos, mas temos o nosso som, a nossa voz e isso é o mais importante. Nós temos uma sonoridade que quando conhecida a fundo, é pessoal e própria. As comparações e os rótulos são algo que fazem parte de toda a nossa indústria – especialmente a midiática – e nós encaramos isso de forma natural, como parte do processo.

Mb Com quase vinte anos de carreira, a banda acompanhou diversas modificações no mercado fonográfico. Como vocês veem as bandas que conseguiram atravessar este período com sucesso? Como foram suas adaptações às novas realidades?
John
: Nós temos 19 anos de carreira e quando começamos em Portugal a fazer tudo de forma independente foi um choque para muitas pessoas. Nós somos do tempo em que qualquer banda queria uma editora porque sem editora seria impossível ter uma carreira. Nós trilhamos o nosso próprio caminho de forma independente e provamos estar uns passos à frente da maior parte da indústria. O conceito de 360 graus no qual a banda ou a editora controla tudo – discos, concertos, management, vídeos, fotos, merchandising etc. – é algo que nós fazemos desde 1994. As bandas que atravessaram este turbilhão e sobrevivem é porque têm paixão, são muito focadas e profissionais, e conseguem conquistar vários públicos. Tenho o maior respeito por todas as bandas que singram assim, mas as adaptações à nova realidade para nós não foram muito complicadas. Pior foram as editoras adaptarem-se porque, como disse antes, nós sempre estivemos muito à frente de vários estereótipos e sempre muito próximos do nosso público e somos muito rápidos a adaptar-nos porque a estrutura somos nós próprios.

Mb: Ainda sobre isso, vemos cuidado e capricho muito específicos nas obras visuais do grupo, seja em videoclipes ou nas capas dos discos. Para vocês, esses investimentos são vistos como promoção para a banda ou uma extensão da música?
John
: Todas estas obras são um prolongamento estético da nossa música. Tudo na banda é um todo. A música é obviamente o principal, mas a maneira como fazemos os vídeos, como nos apresentamos nos concertos, como tratamos as opções gráficas do package dos discos, as sessões fotográficas etc. é algo que nós nos preocupamos para haver uma coerência estética em todo o processo. Ao ver o package do nosso álbum Explode com fotos na Índia, no Holi Festival, e depois o do nosso álbum Primavera, ambos muito cuidados, mas esteticamente diferentes, já se percebe um pouco o tipo e sonoridade ou ambientes que se vai encontrar na música. É mais nesse sentido que gostamos de aperfeiçoar e trabalhar essas componentes.

Mb: Quando vocês trabalham em alguma música, já imaginam como seu vídeo pode vir a ser?
John
: Não. Nunca! O trabalho musical é 100% musical. Nunca me lembro de alguém em 19 anos de carreira ter dito que está a fazer uma parte musical imaginando o vídeo. O que acontece depois é que, quando temos o conceito do disco, trabalhamos tudo como um todo e aí aparecem ideias para os vídeos, para a cenografia do concerto, sessões fotográficas, roupas etc.

Mb: O que uma banda aprende durante uma turnê com The Flaming Lips?
John
: Aprende a ser humilde. Aprende a entender que eles são o verdadeiro espírito de “do it yourself”, do controlar todo o processo. Aprende a entender que um show não é uma primeira parte e uma segunda parte, mas sim um “show apenas”, com várias bandas que deverão ter todos as melhores condições técnicas possíveis, para que o público passe a melhor experiência. Aprende a dar o máximo em todos os concertos, aprende que é possível ser criativo e reinventar a banda com os anos, aprende que é possível ter uma carreira longa e ainda conquistar novos públicos a cada ano que passa e aprende que eles são os melhores na sua área pelo prazer e paixão que colocam em tudo. Quando se perde essa paixão, entrega e prazer, o melhor é se dedicar a qualquer outra atividade.

Mb: Como vocês decidem qual trabalho será em inglês e qual em português?
John
: É sempre o Nuno e a Sónia que escrevem as letras e são eles, sem exceção, que no processo criativo e individual decidem escrever em português ou em inglês. Nunca me lembro de alguém da banda criticar ou sequer comentar uma opção que Nuno e Sónia possam ter tomado em escrever uma determinada canção em português ou em inglês – é uma decisão pessoal e individual.

Mb: Esta é sua terceira viagem ao Brasil. O que será diferente no show desta vez?
John
: Nós já viemos muitas vezes ao Brasil, desde 2006, mas desde 2011 é realmente a terceira vez. Desta vez teremos o disco Explode, apresentaremos alguns temas do nosso disco mais íntimo de nome Primavera que aqui nunca tocamos antes e obviamente temos recuperações de canções antigas que podem ser diferentes do que aqui apresentamos em outras ocasiões. O que nós sabemos é que quem nos vê sabe sempre que os concertos, as tours, os momentos são diferentes, e nós tentamos sempre passar essa energia distinta de local para local.

Mb: Hoje em dia, o Atlântico já não pode ser considerado um obstáculo para a música de Portugal no Brasil. Qual vocês acham que é a maior fronteira que o som português precisa atravessar para chegar por aqui?
John
: Não é um obstáculo, mas ainda é um problema. Nós sabemos que hoje qualquer banda portuguesa pode ter um streaming ou um YouTube no computador, iPhone ou tablet de um brasileiro, mas a principal fronteira é obviamente os custos financeiros associados às viagens para vir cá promover o nosso trabalho. É muito diferente vir ao Brasil do que passar para o lado da fronteira de Espanha. Fazer uma tour no Brasil é caro, porque as viagens, estadias, custos vários, dificultam a vinda de mais artistas. Por outro lado, eu acho que o som português ou as bandas portuguesas não terão de fazer muitas cedências, mas sim tentar vir cá muitas vezes, mostrar a sua música para públicos abertos, em salas, teatros, clubes ou festivais que tem um público que pode gostar de coisas novas e o resto será como em todo o mundo – a empatia que a banda cria no show ao vivo. Eu acho que é no concerto ao vivo que se define a banda e o público brasileiro gosta de uma entrega forte no palco.

The Gift

Sorteios de Kits com ingressos + CDs

Em parceria com a Agência Alavanca, o Monkeybuzz sorteará dois kits com CDs (Explode e Primavera) e par de ingressos – um para o show de sexta (3 de maio), outro para o de sábado (4).

Para concorrer, basta ler o regulamento e se inscrever nos sorteios na página do Monkeybuzz no Facebook. Boa sorte!

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ARTISTA: The Gift
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.