Math Rock: o mais matemático dos estilos

Bandas como Battles (foto) são responsáveis por um dos estilos mais tecnicamente executados, se utliizando de variações incomuns de estruturas musicais

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Sei que pra você que ainda está no colégio – ou pra você que já saiu mas ainda leva um certo trauma – falar de Matemática não é ago muito legal. Bom, confesso que nunca fui bem nessa matéria também. Não se sinta sozinho. Entretanto, o que vamos falar agora é de um estilo que leva consigo bem a sério as questões matemáticas das estruturas musicais, e que assim como a disciplina, irá agradar alguns e não agradar a outros. Trata-se do complexo Math Rock.

O estilo mexe bastante na parte estrutural das composições, principalmente nos compassos. Se o normal para o rock são os compasso 4/4, no Math Rock vemos diferentes formas como 7/8, 3/4, 13/11, entre outros. Apesar dessas diferentes marcações, a coesão se faz presente pelos divisores comuns (como por exemplo com compassos 4/4 , 12/8, 12/16 e 4/16, todos múltiplos de 4) , fazendo com que em alguns momentos, instrumentos com compassos diferentes se encontrem. Ao mesmo tempo que também nos momentos de contratempo, fazendo também aqui a sua coesão dentro desses tempos e compassos malucos. Tudo isso resultando num som complexo e de muitas quebras, pausas e retomadas e que, dessa maneira, exige (e muito dos músicos que devem, além de serem bons instrumentistas, bons músicos ao que se refere a saber bem as técnica e estruturas musicais, terem a liberdade para “brincar” e se aventurar, criando um som que não soe uma verdadeira bagunça.

No Math Rock o destaque fica para dois instrumentos em específicos (os quais muitas vezes são os únicos presentes na banda): a bateria e a guitarra. O primeiro se deve, e muito, ao fato de ser o coração de uma banda, responsável pelas marcações de tempo e compasso. Como dito anteriormente, se no estilo os compassos ditam – literalmente – o caminho da música, o baterista deve ser um exímio músico a ponto de poder lidar com os bizarros compassos e com as variações bruscas que ocorrem durante toda a composição.

Já a guitarra, que é suada com a técnica de tapping, funciona muitas vezes como a responsável pelas variações de intensidade encontradas nas músicas do estilo. Assim como suas alternâncias estruturais, são frequentes os “sobe e desce” de ritmos, que podem ir desde o mais brando e suave ao mais caótico e intenso. As melodias ficam, muitas vezes, sob a responsabilidade dos instrumentos de cordas e raramente para as cordas vocais. Pois é, no Math Rock boa parte das músicas não são canções, ou seja, não possuem vocais. Desse modo, o foco fica inteiramente para o instrumental, que ganha – merecidamente – total atenção do ouvinte. Quando se faz presente, o vocal assume essa responsabilidade melódica de ir oscilando o humor da música entre os mais variados nuances de sentimentos.

Originado mais por volta dos anos 90, principalmente na região centro-norte dos Estado Unidos, como Chicago e Pensilvânia, o Math Rock acabou agregando para si alguns elementos de estilos já conhecidos até o momento, e de um que estava já se solidificando. Dos anitgos, ele absorveu um pouco do Progressivo dos anos 70 de bandas como King Crimson, Yes, entre outras, ou seja, foi sugado todo esse aspecto megalomaníaco e grandioso, resultando em epopeias sonoras e grandiloquentes em ritmos crescentes. Do Jazz, mais precisamente do Fusion e Free, agregou para si a questão da liberdade construtiva e da experimentação livre, o que o faz um estilo sim, experimental. Com relação com o contemporâneo a seu surgimento e que também se fez presente, é o Noise num contexto que, apesar de não ser um estio propriamente que integrou o Math Rock, pode ser tido como um aditivo em meio ao experimentalismo e ao ar caótico que o som das bandas trazia, principalmente na guitarra.

Com relação às bandas, ainda não se é firmado e consensual quais foram os pilares do estilo ou pioneiras. Entretanto, em meio a essas discussões o que muito se fala – e pode ser facilmente tomado como verdadeiro- são que Don Caballero e Shellac tem o título de principais bandas, mais “fiéis” às características do estilo, e são consideradas referências paras as demais que viriam a surgir.

O Math Rock não necessariamente se limita ao uma sonoridade única, pelo contrário, acaba possibilitando diferentes roupagens para as quebras de compasso. Uma delas pode ser o Math Pop, por assim dizer, que encontramos Maps & Atlases, ou algo mais puxado ao Post-Rock (sim, os dois estilo possuem algumas coisas em comum quando este se apresenta de forma mais branda e etérea) com Tortoise e And So I Watch You From Afar. Porém, a sua cara mais agressiva fica, como já dito com os nomes de referência, por conta de Giraffes? Giraffes!, Hella, Tera Melos, Battles e Marnie Stern.

Com maior foco nos Estados Unidos, o estilo acabou se fincando de vez principalmente pelo apoio de Steve Albini, grande produtor – além de músico por bandas de menor expressão no cenário musical, como a também de Math Rock, Shellac – de nomes como Nirvana, Pixies e Man or Astro-Man?, para os artistas do estilo e com o apio de produção e gravação. Entretanto, o “rock matemático” não se limitou ao país e tomou rumo principalmente para o Japão, com representantes como toe, LITE e Zazen Boys, e até mesmo no Brasil, com a paulistana Hurtmold.

Do início dos anos 2000 até hoje, o estilo vem passando por um revival e reformulação (com o perdão do trocadilho). Bandas como Don Caballero, Chavez e Shellac se reuniram para dar continuidade aos trabalhos da banda, enquanto com outros artistas observamos uma diluição do Math Rock entre suas composições. Fenômeno que podemos observar no som do Foals, que se em seu primeiro álbum apresentava uma sonoridade bem característica do estilo, em seus novos trabalhos vem apresentando cada vez menos estes elementos. Outras bandas como This Town Needs Guns, Colour e Tubelord representam essa caída mais para o lado Pop, chegando até a soar como algo Emo. Entretanto, por terem um apelo mais Pop, serve muito bem como porta de entrada para quem está descobrindo o complexo, e de não tão fácil identificação e digestão, “Math Rock raiz”.

Se revivendo, ou se alterando, não faltam opções de artistas de Math Rock para os amantes das aventuras estruturais que tais fazem quebrando compassos e ritmos por toda a extensão de suas composições.

Discografia Básica:

Don Caballero -For Respect
ShellacAt Action Park
ChavezGone Glimmering
HellaThere’s No 666 in Outer Space
Maps & AtlasesTree, Swallows, Houses
TortoiseTortoise
And So I Watch You From AfarGangs
Giraffes? Giraffes!More Skin With Milk-Mouth
Tera MelosTera Melos

Discografia Atual:

BattlesGloss Drop
toeFor Long Tomorrow
LITEFilmlets
Zazen BoysZazen Boys
HurtmoldCozido
FoalsAntidotes
Marnie SternThe Chronicles of Marnia
This Town Needs GunsAnimals
ColourAnthology
TubelordRomance

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Autor:

Marketeiro, baixista, e sempre ouvindo música. Precisa comer toneladas de arroz com feijão para chegar a ser um Thunderbird (mas faz o que pode).