Jeff Buckley – Mais um Último Adeus

Uma pequena homenagem aos 16 anos sem um dos maiores e mais completos artistas de nosso tempo que teve uma breve, porém brilhante, carreira

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Há 16 anos, perdemos um dos grandes fenômenos da música atual, um dos poucos músicos que pode verdadeiramente ser chamado de gênio. Jeffrey Scott Buckley, ou simplesmente Jeff Buckley, dava seus últimos suspiros no rio Mississippi em um terrível acidente que levou prematuramente um dos grandes artistas de nossa geração. Ele se foi, mas o mito e seu legado ainda perduram, sua música continua ecoando e apaixonando ouvintes por todo mundo, mantendo acesa a chama de sua musicalidade ímpar.

Efetivamente, a carreira de Buckley durou pouco, tendo mais lançamentos póstumos do que em vida. Ainda que poucos, dois EPs (Live at Sin-é EP e outro unificando singles) e o ambicioso e inigualável Grace (1994), bastaram para marcar sua brilhante e curta obra e fomentar inúmeros discos ao vivo e compilações de aparições do músico em rádios e na TV. Para tentar honrar esse incrível legado de Jeff, nós separamos cinco canções que são imprescindíveis em sua carreira: faixas que marcaram não só a vida do próprio, mas também a de sua legião de fãs.

Last Goodbye

Um dos grandes destaques de Grace surgiu muito antes de Buckley decidir se tornar um cantor. Por muito tempo, ele persistiu em se tornar um exímio guitarrista – o que de fato se tornou -, e não seguir os mesmos passos de seu pai, Tim Buckley (famoso folker dos 70 que abandou a mãe de Jeff antes mesmo de seu nascimento). Sempre comparado a ele e sem o amparo de uma figura paterna durante quase toda sua vida, o músico se viu descobrindo seus próprios talentos e se livrando aos poucos dessas comparações, perseguindo seu próprio caminho e encontrando sua própria voz.

Oriunda das primeiras demos de Buckley, Last Goodbye mostra muitas das qualidades de sua música. Sua lírica poética e encantadora, seu grande talento com a guitarra, a ótima orquestração de suas produções e, sobretudo sua musicalidade que sabiamente conseguia imprimir momentos mais robustos e pesados e mesclar com outros mais ternos e amenos, sempre guiados pela sua potente voz.

Grace

A canção que nomeia seu álbum também veio de uma época posterior ao lançamento do mesmo. Escrita e gravada durante sua primeira incursão em Nova York, cidade onde se estabeleceu após o grande concerto em memória a seu pai (1991) – tema explorado em um dos filmes sobre o cantor, (Greetings from Tim Buckley), que está rodando pelo circuito de festivais cinematográficos ao redor do mundo, mas ainda não tem data de lançamento prevista para as salas de cinema.

Essa é talvez umas das canções mais centrais de toda sua obra. A discussão sobre medo, mortalidade, amor e outros temas recorrentes em suas composições nesta época se encontraram em uma só faixa que ganha uma interpretação a altura e em que Buckley libera todo seu potencial vocal. Uma entrega completa à música que Jeff aprendeu com um de seus ídolos: Robert Plant.

Lover, You Should’ve Come Over

Mais um ponto importante na curta carreira de Jeff foi seu tempo tocando em uma pequena cafeteria nova-iorquina chamada Sin-é (até hoje um dos pontos sacros para os fãs do músico). Lá ele começou seu buzz dividindo seu tempo entre servir cafés e empunhar sua guitarra e entoar suas próprias canções e inúmeros covers – tanto que há um disco duplo dedicado a suas apresentações nesta cafeteria. Chamando a atenção de todos que passavam por lá, foi com o barulho feito na Sin-é que Jeff conseguiu assinar seu contrato e possibilitar as gravações de Grace. Mais do que isso, ali ele mostrou que tudo o que precisava para fazer um ótimo show era de uma guitarra, um microfone e o público – e nada mais que isso.

Certamente uma das canções de amor mais bonitas já escritas (pelo menos na opinião de quem lhes escreve), Lover, You Should’ve Come Over é uma gentil balada conduzida pela guitarra e voz de Buckley, uma passional e solitária canção que trata sobre relacionamentos. Por versos como “And much too blind to see the damage he’s done / Sometimes a man must awake to find that, really, he has no one..” e “It’s never over, my kingdom for a kiss upon her shoulder / It’s never over, all my riches for her smiles when I sleep so soft against her…” que esta faixa ganha o posto também de umas das melhores já escritas por Jeff.

Dream Brother

O processo de gravação de Grace foi tão espontâneo quanto o próprio músico e por isso conseguiu mostrar tantas de suas qualidades. A excruciante vontade de Jeff tornar sua obra algo perfeito, foi o que fez seu disco chegar tão perto disso (se não é que para alguns ele realmente tenha alcançado). Tanto que em 1994, um turbulento ano para a música, o álbum se manteve impávido frente à morte do Grunge e a crescente onda do Britpop e o que levou o músico por uma turnê mundial que durou quase dois anos.

Além de um ótimo letrista, Jeff era um exímio compositor; ele sabia dimensionar sua música, dar forma a ela e a construir à sua maneira – a moldando também aplicando o que aprendeu com suas maiores influências. Dream Brother é um desses exemplos em que Buckley conseguiu um resultado exuberante ao unificar as referências de Led Zeppelin (um de seus grupos favoritos) e Nusrat Fateh Ali Khan (um cantor indiano que se tornou um dos grandes ídolos para o músico).

Everybody Here Wants You

Após dois extenuantes anos de turnê era hora de concentrar em seu novo disco, coisa que Jeff não conseguiria fazer em Nova York com toda sua recém-alcançada fama e que o abrigou a ir para Memphis. My Sweetheart the Drunk, como se chamaria seu segundo álbum, começou a tomar forma na pacata cidade, porém nunca foi terminado. Jeff morreria antes de ver sua segunda obra e de ver o mito que se tornaria a partir dali.

Mesmo decidindo tomar rumos mais roqueiros em sua nova obra, é uma jam calma (um misto do Jazz e R&B) que mais se destaca entre as faixas de seu disco póstumo. Os esboços de seu segundo álbum, apelidado como Sketches for My Sweetheart the Drunk, foram terminados um ano após sua morte por amigos e pelos músicos que acompanhara Buckley durante a turnê. Ainda que inacabadas, todas as faixas, novamente, apontavam para uma direção nova e revigorante, um caminho que Jeff trilharia em seu futuro e que se tornaria tão promissor quanto Grace – infelizmente, isso nunca pode acontecer.

Jeff Buckley ainda deixa uma lacuna aberta na música, uma que talvez nunca se feche. Sua espontaneidade, sua entrega, sua passionalidade e emoção ainda hoje são raras de se encontrar em um só artista.

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ARTISTA: Jeff Buckley
MARCADORES: Redescobertas

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts