“Campfire Songs”: Os dez anos do disco acústico do Animal Collective

Mesmo que diferente de tudo o que grupo lançaria dali a frente, esta é uma obra primordial em sua carreira – e já apresentava desde então muitas das idiossincrasias e particularidades do grupo

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Antes de começar a ler, eu lhe sugiro um experimento. Coloque seus fones de ouvido, se possível apague a luz, e dê o play. Agora que a primeira faixa começou, feche os olhos e se imagine em meio a tal fogueira do título. Como última dica: embarque na viagem de Campfire Songs com o mínimo de distrações possíveis.

Este disco, que em 2013 comemora seus dez anos de vida, é um dos maiores exemplares da inventividade de um grupo que já se reinventou inúmeras vezes durante a última década: o Animal Collective – e um ponto curioso sobre este álbum é que ele foi gravado pela “banda”, mas não exatamente pela banda como a conhecemos. Deixando mais claro, quando surgiu, em 2003 (mas havia sido gravado na verdade dois anos antes), este era simplesmente o Campfire Songs, gravado pelo trio Avey Tare, Panda Bear e Daekin, mas não sob o nome de Animal Collective, simplesmente porque ele não existia como tal na época – só quando relançada pelo selo Paw Tracks, que a obra passou a integrar a discografia do quarteto.

Este é, sem dúvida alguma, o registro que traz a proposta mais crua e sucinta que qualquer outra obra já produzida pela banda. Contando apenas com violões, vozes e eventuais sons captados no ambiente (latidos de cachorro, chuva, conversas ao fundo e passarinhos cantando, para citar só alguns), o registro emana o sentimento de se compartilhar esse momento de cantoria em volta de uma quente e aconchegante fogueira – em meio a uma viagem proporcionada por uma fumegante xícara de chá de cogumelos.

Mesmo que se diferencie de tudo o que o grupo produziria nos anos seguintes, a obra apresenta muito da proposta musical dela antes de todo o buzz alcançado dali a alguns anos. É difícil imaginar Animal Collective sem a ambientação eletrônica e os ritmos pulsantes, mas desde muito cedo o quarteto já explorava o experimentalismo com as harmonias vocais, o uso de elementos naturais e a pegada freak – elementos básicos de todos os registros lançados desde então.

Você terá que se focar completamente no que está ouvindo para discernir e achar significado nas palavras e cantos entoados pelo trio (já que muitas vezes efeitos e produção os deixam quase irreconhecíveis) – o que, mais uma vez, aumenta a sensação de mergulhar nesta ambientação bucólica e atmosférica criada pela banda. Focadas na experiência sinestésica, as cinco faixas desse álbum (algumas se alongando após os dez minutos) se baseiam em um Folk Psicodélico e etéreo (uma sonoridade extremante fácil de ouvir e de se imergir).

Ainda que a natureza do disco seja “bruta” e de descoberta (e esse talvez seja o melhor adjetivo para um álbum em que os músicos buscavam novos caminhos e experimentavam com demasia), nada aqui é uma série de improvisos ou takes que aconteceram por acidente, o disco é muito bem arquitetado e repleto de belas harmonias e transições, que exploram o conceito de canção de um jeito nada tradicional – o que torna a audição tão interessante e o que mais uma vez mostra os caminhos que o quarteto seguiria a seguir.

Divulgado sob o nome de Campfire Songs, obra e artista se confundiam em uma só – e o mesmo acontece com os dois discos que o precederam este. Lançados muito antes de todo o buzz e do fenômeno cultural chamado Animal Collective, esses discos (e em especial o aniversariante) mostram o quanto as primeiras experimentação do grupo foram importantes para o resultado obtido em seus futuros lançamentos e o quanto obras “que passaram em branco” na época vieram a integrar a musicalidade do quarteto.

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MARCADORES: Aniversário

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Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts