As Multifacetas de M.I.A.

Cantora teve seu ápice em 2008 e convive com seu conceito sendo mastigado por artistas atuais que se dizem “vanguardistas”

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A origem é inglesa, mas o sangue vem do Sri Lanka. M.I.A. pode ser uma abreviação de seu nome (Mathangi Maya Arulpragasam) ou uma conotação da expressão “Missing In Action”. Muitas palavras difíceis sendo ditas no início de um artigo, mas talvez isso ajude explicar de onde vem o liquidificador de influências e inspirações da londrina.

Vou variar e começar do fim pro início. Quero começar esse artigo já trazendo minha uma das razões de escrever em 2013 sobre uma artista que teve seu auge há 8 anos. Bring the Noise, lançado há pouco mais de 2 semanas, é o exemplo perfeito do que M.I.A. representa. O vídeo mais parece um apanhado de mensagens subliminares. Há crítica religiosa, política, étnica, ideológica. Uma edição descompassada, assim como a estrutura de sua faixa, mostra a inconstância e a inteligência de uma artista que está à frente e causa medo em muita gente grande. Quem vê uma garota cheia de swing assim, falando “grosso”, com cabelo rosa imagina uma rebeldia sem causa? M.I.A. tem 35 anos no registro e talvez alguns a mais por ter tido uma história bastante conturbada.

De onde vem tanto engajamento? Pra começar, seu pai é ativista de um partido do Sri Lanka. A partir daí fica fácil de imaginar uma herança político-ideológica bastante forte. A garota teve sua infância marcada por deslocamento pela Guerra Civil do país. Do Sri para Índia, da Índia para Londres. De lá ficou mais fácil ter acesso aos estudos e, posteriormente, à faculdade de artes, cinema e vídeo. Foi com essa história que M.I.A. pinta suas composições de letras fortes contra os abusos do governo. Duas coisas marcaram a cantora nesse aspecto: já foi indicada pela TIME como uma das pessoas mais influêntes do mundo ao mesmo tempo que já foi proibida de entrar nos EUA por duas vezes. Acusações? Ter letras que apoiam ações terroristas.

É nessa bagunça e petulância suficiente para se impor que MIA chegou onde chegou. Surgiu de crossmedia (ou popularização pela Internet) e logo já se mostrou segura, por exemplo, para buscar fora influências para misturar com sua estrutura eletrônica. Seu relacionamento no início dos anos 2000 com o produtor Diplo, aproximou a cantora das batidas do Funk Carioca e ajudou a estourar com Bucky Done Gun, em seu primeiro CD Arular (2005), e até a fazer um show com Deize Tigrona em sua passada pelo Brasil no mesmo ano. Seu segundo trabalho, dois anos depois, terminou de consagrar a compositora. Kala agradou a crítica internacional e projetou seu nome pro mundo com singles como Paper Planes (o apelo das armas aqui é claro?), presente na trilha de Quem quer ser um milionário?, e Boyz. E seu terceiro álbum, Maya (2010) veio com XXXO, #2 do NME, single que causou buzz por todo o ano. Depois de uma leve decadência, a cantora resolveu voltar à sua salada musical com sua segunda mixtape no final de 2010, Vicki Leekx. No meio de muito barulho e sons que não eram tão confortáveis de ouvir (sinto aqui uma leve coincidência com o vanguardismo do Kanye West?), Bad Girls foi parida. A faixa, com mais de um ano hoje, ainda é hit de pista.

Mas volto à pergunta. Por que falar de M.I.A. em pleno 2013? A “blogosfera” já vem anunciando o próximo álbum da cantora para ainda esse ano depois de uma breve insatisfação da produtora em 2012. Uma compilação de 8 minutos de Matangi já foi divulgada para Kenso. Duas músicas do novo trabalho já foram liberadas, incluindo a que citei no início do texto – e Only 1 you. É por isso? Não necessariamente. Mas veja de novo o vídeo. Alguma semelhança com o que anda em alta nesse ano? Oito anos depois, artistas como Azealia Banks, Nicki Minaj e Kanye West bebem da insanidade e ousadia de M.I.A., e dão certo. O tom, a rispidez lírica, a força vocal e o vanguardismo musical. Música indiana com Electro, Baile Funk com Pop, Dance com Hip Hop e Reggae. Synths, muitos synths.

M.I.A. sofre boicote, vê sua carreira com uma maior indiferença dos produtores, perde força dia pós dia. Enquanto isso outros nomes com a mesma fórmula crescem descaradamente. A Era M.I.A. pode estar em decadência, mas o legado está mais forte que nunca. Com um documentário precisando dos fãs para ser terminado, um álbum para ser terminado, tudo soa como desorganizado. Mas ela dificilmente chegaria até aqui se não fosse pela sua desorganização típica. Esse é o legado dela. E quando olharem pra trás, os nomes a serem lembrados não são daqueles que mastigaram um conceito de 2008 agora e estão na rádio. Será de M.I.A., com certeza.

M.I.A. estará no Pitchfork Music Festival 2013, com cobertura do Monkeybuzz. Acesse nossa página especial e fique por dentro de tudo que acontece no festival.

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ARTISTA: M.I.A.
MARCADORES: Artigo, Electro-Pop, Hip Hop

Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King