Damon Albarn: 20 anos de carreira brilhante

Do Britpop à Ópera, conheça um pouco da abrangente carreira deste músico inglês que vem desde os anos 90 experimentando com a música

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Não é exagero algum dizer que Damon Albarn é um dos artistas mais produtivos das últimas duas décadas. Como se não bastasse escrever e cantar em suas próprias bandas e projetos solos, o músico ainda arruma tempo para produzir alguns álbuns de outros artistas e também para atuar.

Outro fato que chama a atenção é que além da alta produtividade aliada, é claro, a qualidade, Damon demonstrou nesses vinte e tantos anos de carreira ser um artista que, sobretudo sabe se reinventar e que sabe também brincar com os mais variados estilos e referências para criar sua música. Um fruto direto dessa constante mudança, aliada à sua constante produção é um número grande de novas bandas e projetos. Pois é, mesmo antes do Blur fazer algum sucesso no começo dos anos 90, Damon já havia passado por pelo menos três bandas (Two’s a Crowd, The Aftermath e Real Lives).

Porém montar bandas não significa conseguir mantê-las para sempre e você já deve ter notado que uma constante nas bandas de Albarn são as brigas criativas com os outros membros. Foi assim com Graham Coxon no Blur e com Jamie Hewlett no Gorillaz. Mas ainda assim, parece que trabalhar com alguém tão genial (e com um gênio forte) como Damon é garantia de sucesso, ou pelo menos de um ótimo disco.

Os convido a dar um pequeno passeio pela carreira do prolífico músico e ver o quão longe ele consegue chegar para dar vazão ao seu ímpeto de experimentar.

Blur e os primeiros passos no Britpop

Concorrendo com o Gorillaz pela predileção dos fãs, essa foi a primeira banda Albarn a realmente fazer sucesso e seu papel ali era fundamental, visto que a maior parte das composições era assinada por ele – Graham Coxon conseguiu alguma liberdade criativa somente no quinto álbum da banda. No começo dos anos 90, músico e companhia fizeram um disco, o Modern Life is Rubbish, que seria apontado com um dos precursores de um dos maiores movimentos musicais daquela década: o Britpop.

Entre uma briga e outra, o quarteto prosseguiu até o começo dos anos 2000 como grandes expoentes do estilo, mas nem assim isso não foi capaz de mantê-lo unido. Em um hiato criativo há quase dez anos, a banda se reúne esporadicamente para alguns shows e grandes espetáculos em festivais (incluindo um no Festival Planeta Terra deste ano). Porém parece que isso mudará em breve, pois muitas das recentes notícias alegraram os velhos da banda, dizendo que um novo disco está a caminho. Agora é esperar e ver se desta vez os planos saem do papel, ou melhor, se desta vez saem do estúdio.

Gorillaz e seu som fora de qualquer “estilificação”

Esse é um dos projetos mais curiosos, mas também de mais sucesso em que Damon já meteu. Se juntando ao ilustrador Jamie Hewlett, o músico criou no final do século passado o que o Guinness Book of World Records consideraria a banda virtual de maior sucesso do mundo. E recordes parecem ser a especialidade do grupo que só com seus dois primeiros discos, lançados entre 2001 e 2005, vendeu mais de 15 milhões de copias – isso em um período que a crise da venda de discos já começava a assombrar a indústria.

Talvez um dos maiores trunfos desse projeto fosse não se apegar a nenhum estilo especifico – e aqui Albarn brincava sem medo com gêneros como Rock Alternativo, Hip Hop, Britpop, Dub, Trip Hop, Pop e esse lista continuaria, mas é melhor pararmos por aqui. Assim como a sonoridade, a formação também é irregular cheia de participações especiais (o que aumenta ainda mais aquela lista de sonoridades exploradas pela banda). As composições de Albarn formaram três discos incríveis e mais algumas crias como a participação do quarteto animado em uma campanha da Converse, ao lado de músicos como James Murphy (ex-LCD Soundsystem) e Andre 3000 (Outkast).

The Good, the Bad and the Queen e o flerte com Art Rock

Ousado. Esse é o melhor adjetivo para um grupo (e não tenha medo de chama-lo também de supergurpo) que contava com nomes como Paul Simonon (ex-baixista do Clash), Simon Tong (ex-guitarrista e tecladista do The Verve) e Tony Allen (percussionista nigeriano, considerado um dos mestres do Afrobeat), além, é claro, da produção assinada por ninguém menos que Danger Mouse. Por mais que a crítica da época (2007) não tenha aplaudido de pé a obra, as vendas diziam que muita gente se interessou pela pequena ode a vida moderna dos londrinos (tema recorrente nas obras de Albarn).

Um fato curioso sobre este supergrupo é que ele não tem de fato um nome. The Good, the Bad and the Queen é o nome do único disco do quarteto e não da banda formada exclusivamente para este lançamento. Infelizmente não houve continuidade nas atividades do quarteto. Simon e Paul participaram do mais recente álbum do Gorillaz, Plastic Beach, mas nenhum sinal de uma continuação ou outro disco com formação semelhante foi divulgado – o que é uma pena, pois este é um dos melhores álbuns já produzidos por Damon.

Rocket Juice & the Moon e a busca pelo Afro Soul

Não contente em formar um supergrupo, Albarn resolveu criar mais um, desta vez tendo ao seu lado o baixista Flea (do Red Hot Chilli Peppers) e o percussionista Tony Allen. Por mais que o projeto tenha sido idealizado logo após o lançamento de The Good, the Bad and the Queen, seu primeiro fruto, um disco homomino composto de 18 faixas, só foi lançado no passado. Se ao lado de Simon e Paul, a musicalidade era marcada pelo misto entre Rock Alternativo, Folk e Art Rock, aqui o clima do Funk, Neo Soul, Jazz, Hip Hop e a vasta influência de sonoridades africanas (nomes como Erykah Badu, Hypnotic Brass Ensemble, M.anifest, entre outros aumentam o escopo das referencias negras) que dão a forma ao disco.

Em alguns momentos é quase impossível não lembrar da musicalidade experimental do Gorillaz, porém com o baixo excepcional de Flea e a percussão de uma verdadeira lenda do Afrobeat – as inserções eletrônicas, a melodias no teclado e muitos convidados aumentam ainda mais essa impressão, porém as semelhanças param por aí. Além da vibe Afro, há muito do Jazz e Funk, que são também muito bem representados pelo conjunto de metais, além é claro dos vocais de Badu e dos demais convidados.

As Óperas Dr Dee e Monkey: Journey to the West

Por mais que Albarn tenha participado de algumas trilhas sonoras para filmes entre 1999 e 2002 (Ravenouse 101 Reykjavík), foi no teatro, com suas Óperas, que o músico realmente se destacou. Journey to the West, mais uma parceria com Hewlett (aquele do Gorillaz), desafiou o músico não só a criar faixas boas, mas também que complementassem o que era visto nos palcos. Fugindo do censo normal (e elitista como Damon descreveu na época), sua trilha tinha a ideia conquistar não só quem já era amante da música, mas também quem estava iniciando a escutar também. Nem preciso dizer que a essa viagem musical ambientada na China foi também um dos grandes feitos do artista.

Mais uma vez investindo em quebrar os paradigmas do que é uma Ópera, Damon Albarn tenta reinventar o gênero em Dr Dee: An English Opera, uma obra criada ao lado do diretor Rufus Norris e inspirado em um livro de Alan Moore. Se obras não serão mais encenadas, sobraram as trilhas para se ter uma ideia do que foi aos palcos.

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Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts