Entrevista: Luísa Sobral

Lançando seu segundo disco, a cantora nos conta pouco sobre sua história, referências e o novo trabalho

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Luisa Sobral é portuguesa de nascimento mas sua música pertence ao mundo. Aos 26 anos, ela está lançando seu segundo disco, There’s A Flower In My Bedroom, coroando uma carreira que já dá sinais de reconhecimento fora de Portugal. Luisa já abriu shows para a cantora americana Melodie Gardot, já se apresentou no programa Later…With Jools Holland e foi aluna a Faculdade de Música de Berklee, em Boston. Entre um show e outro da turnê do novo disco, ela encontrou um tempinho para conversar com Monkeybuzz.

MB: Luisa, sua carreira começou em 2003, quando você participou do programa Ídolos. Conte para nós como a música apareceu em sua vida e como você lidou com ela nos últimos dez anos.

Luísa: A música apareceu na minha vida através dos meus pais. Sempre fomos uma família muito musical. Maior parte das memórias que tenho de infância vêm com banda sonora porque onde quer que fossemos levávamos um disco conosco. O meu pai toca bateria e o meu irmão é cantor por isso vivi com a música desde que me lembro.

MB: Seu primeiro disco, The Cherry On My Cake, já apontava a tendência da maioria de suas canções ter letras em inglês. Você acha que isso é natural, tendo em vista seu estilo?

Luísa: Para mim é natural escrever em Inglês. Vivi uma grande parte da minha vida nos EUA e acaba por me sair tão naturalmente como o português.

MB: Você compõe as letras das canções. Como você busca inspiração? São letras pessoais?

Luísa: Algumas sim outras não. Gosto muito de criar personagens, de construir personalidades e imaginar o seu percurso de vida. É quase como se escrevesse um livro mas bem mais curto.

MB: Há, de alguma forma, uma associação com a delicadeza de filmes como “Amélie Poulain” em seu disco, sobretudo nas canções mais delicadas como “Hello Stranger” e “I Remember You”. Mas também há uma certa tristeza. There’s A Flower In My Bedroom é um disco triste?

Luísa: Não gosto de dizer triste, mas sim melancólico.

MB: Conte como foi seu período na Berklee School Of Music, em Boston. Como esse tempo te ajudou?

Luísa: Foram 4 anos muito importantes na minha vida. Aprendi muito e conheci músicos incríveis que me ajudaram a descobrir a minha identidade musical. Fui tocando a minha música com pessoas diferentes ao longo desses 4 anos e fui experimentando. Isso fez com que chegasse ao meu primeiro álbum.

MB: Suas canções oscilam entre a sonoridade mais clássica de cantoras como Billie Holliday mas também se influenciam por Bjork, Regina Spektor e Joanna Newson. Quais são suas influências? Gosta de algum artista brasileiro?

Luísa: Claro que sim! Adoro o Chico, o João Gilberto, o Caetano, o Pixinguinha, a Elis, o Marcelo Camelo, tantos! Aprendo todos os dias com as melodias e harmonias brasileiras. São uma excelente escola. Quanto a outras influências, gosto muito de Tom Waits, Joni Mitchell, Nat King Cole, Bob Dylan, Patrick Watson, Beatles e muitos outros.

MB: Como foi o convite para participar do programa Later With Jools Holland? Você foi a terceira artista portuguesa a participar, certo?

Luísa: Certo. Foi um prazer enorme. Já conhecia o programa há muito tempo e tinha o sonho de lá ir, só não pensei que fosse tão rápido. A minha editora Inglesa propôs a minha música à equipe do Jools e eles convidaram-me.

MB: Antônio Zambujo, que participa do novo disco na faixa “Inês”, costuma vir ao Brasil para alguns shows, além de participar de discos de artistas nacionais. Você tem planos de vir ao Brasil?

Luísa: Gostaria muito e espero que esteja para breve.

MB: Como foi a participação do Jamie Cullum em “She Walked Down The Aisle”?

Luísa: O Jamie é um artista que admiro muito por isso, quando comecei a trabalhar neste segundo álbum pensei logo nele e fiz-lhe o convite.

MB: Você acha que existe uma cena portuguesa de nova música? Um grupo específico de cantores, compositores, renovando a música do país? Você faz parte dessa cena?

Luísa: Sim e é muito bonito porque somos todos muito unidos. Estamos numa fase de experimentação em que se junta o fado e a música brasileira, a música tradicional com o pop, o jazz com o pop etc, sem preconceitos. Somos músicos acima de tudo e não escravos de um estilo musical. Tenho muito orgulho em fazer parte desta nova geração de músicos.

MB: Conte como foi abrir shows da cantora Melodie Gardot logo após lançar seu primeiro disco.

Luísa: Foi muito bom. Ao inicio estava um bocado receosa porque abrir um concerto nem sempre é fácil. As pessoas não estão ali para nos ver. Desde o primeiro concerto que as pessoas aderiram muito rápido à nossa música e acabámos por fazer encore em todos os concertos.

MB: Seu país é extremamente belo mas ficamos preocupados com a situação econômica da Europa, de uma maneira geral. Isso tem interferido na presença das pessoas em shows e nas vendas de discos?

Luísa: Claro que sim. Por mais bonito que seja imaginar a música como um bem de primeira necessidade ela não o é. Neste momento há muitas famílias em que os dois pais estão desempregados e ir a um concerto ou comprar um disco é para estas famílias um luxo. É triste que assim o seja porque a música também serve para por momentos nos esquecermos da fase que estamos a passar, mas percebo que se uma pessoa tiver de escolher entre ter o que jantar e ir a um concerto que escolha o jantar.

MB: Como você avalia a música popular que está sendo feita hoje em dia?

Luísa: Estamos a passar por uma fase muito interessante musicalmente. Uma fase em que se misturam as nossas raízes com música de outras épocas e novas tecnologias. Com a internet já podemos partilhar música sem necessariamente ter uma editora, o que faz com que bandas que há uns anos ninguém conheceria sejam hoje êxitos na internet. Se soubermos utilizar bem estas “armas” podemos levar a nossa música a muitas pessoas.

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ARTISTA: Luisa Sobral
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.