Conselhos por Death Cab For Cutie

Sétimo disco da banda é nostálgico pelas interpretações de suas letras alegres, depressivas e misteriosas ao mesmo tempo

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

Death Cab For Cutie – Plans

Sempre fui muito suspeito com a proposta de eleger “o seu álbum favorito”. Não que eu não acredite na impossibilidade de filtrar a infinidade de discos escutados em apenas um, só acho a tarefa bem árdua. Entretanto, para facilitá-la, costumo utilizar como parâmetro para escolhê-lo não a quantidade de vezes que o registro foi escutado (embora isso influa muito na decisão), mas sim o impacto que as canções tiveram em mim. Sendo assim, foi bem fácil atribuir a Plans, da banda Death Cab For Cutie, o selo “Favoritos do Lucas”, ou algo que o valha.

O disco lançado em 2005 (e escutado por mim apenas dois anos depois) tem considerável destaque pelos fãs da banda, mas quem acaba levando o título de “melhor álbum” são seus dois antecessores, Transatlanticism e The Photo Album. Creio que parte do valor que o álbum tem para mim vem do fato de ter sido o primeiro da banda que escutei (sendo apresentado pelo famoso seriado norte-americano The O.C.), ou seja, a nostalgia pega bem pesado quando o escuto. Mas o fato que considero o mais relevante do meu apego com o registro são suas letras que funcionam como verdadeiros psicólogos.

Antes de entrar no aspecto lírico, vale a pena mencionar a construção das faixas instrumentais. Death Cab For Cutie é muito conhecido por tentar manter a simplicidade em suas composições, o que pode gerar opiniões equivocadas como, ainda que fictício, durante o já citado seriado The O.C., uma das personagens diz que é “apenas uma linha de guitarra e muito mimimi” (tradução livre). Seja como for, em Plans se mantém a mesma simplicidade, mas o fator Pop é explorado um pouco mais, tornando essas faixas de fácil degustação, mas em nenhum momento pobres em qualidade. O disco gerou uma das músicas mais conhecidas da banda, I Will Follow You Into The Dark, uma balada acústica exibindo o aspecto mais confessional possível de Ben Gibbard, vocalista e guitarrista da banda.

Voltando às letras do disco, é interessante notar que o álbum é mutante ao longo dos anos. As interpretações e as lições que você tira de suas letras variam bastante com o tempo. Escutar os versos de Your Heart Is An Empty Room já serviram de consolo tanto para términos de namoro na adolescência, como para demissões inesperadas do emprego vigente na época (“…and now on the streets are many posibilities to not be alone”).

A auto-filosofia e o existencialismo preenchem as letras desse disco de forma bem presente. Brothers On A Hotel Bed (minha faixa favorita de Plans) explora o tema de várias formas, como por exemplo no trecho: “But now he lives inside someone he does not recognize/When he catches his reflection on accident”. A depressão também possui espaço aqui, afinal um disco que eu conheci na minha adolescência precisava de uma carga de tristeza para justificar a minha “dramática” vida aos 15, 16 anos. Versos como “The gift of memory is an awful curse” ou a faixa Someday You Will Be Loved, que conta o abandono da(o) namorada/o do eu-lírico, deixando para ele apenas um bilhete que trazia escrito a frase que da título à canção. Gosto, também, do fato que muitas dessas canções ainda trazem versos difíceis de serem interpretados, como por exemplo “Love is watching someone die” retirado da belíssima What Sarah Said. Esse mistério torna o disco praticamente imortal, porque ainda se tem muito a descobrir dentro dele.

Plans foi, e ainda é um verdadeiro psicólogo para mim. Acredito que suas letras dão margem a interpretações que podem solucionar uma infinidade de problemas. Términos de namoro, demissões de empregos, questões existencialistas, superação de perdas, enfim; esta tudo lá, esperando para ser escutado e decifrado. Ainda que abomine a expressão, devo adimitir: é um dos “álbuns da minha vida”.

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique