Do Fundo do Poço, Com Amor

“Strict Joy”, último álbum da dupla The Swell Season, sabe ser triste sem ser deprimente, o que lhe confere sua qualidade de “disco que nunca fica velho”

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

The Swell Season – Strict Joy

Minhas considerações por Strict Joy são diferentes da maior parte dos discos que resenho aqui no Monkeybuzz. Se eu tivesse que dar uma nota concreta para o último álbum da dupla The Swell Season, não sei se ela ultrapassaria as quatro bananas no sistema de avaliação do site. Mas o quanto eu ouvi, reouvi, me identifiquei e filosofei com esta obra desde seu lançamento em 2009 acabou criando uma relação entre nós que não caberia em qualquer métrica muito lógica. Sabe quando parece que um disco carrega parte de você?

Pra mim, ele é uma compilação de muitas DRs em um relacionamento que já se esgotou há tempos, mas que o amor e o medo mantém vivo. Ele começa com Low Rising, a música mais conhecida do álbum, um convite para resgatar um romance que chegou ao fundo do poço e não tem mais como cair, só subir.

Mas eu não acho que as músicas estão em uma sequência muito narrativa não. Elas representam mais um mesmo momento, mas são apresentadas de uma maneira que o disco fique ágil, mostrando suas grandes variações. Aliás, acredito que muita gente não curta tanto Strict Joy pela diversidade de uma faixa pra outra. Tem aquelas mais Folk Rock com banda, outras mais voz e violão e as protagonizadas pelo piano, cada uma em uma pegada diferente. Mas esse furacão de sentimentos diferentes traduz bem a sensação de tentar salvar a qualquer custo uma relação.

E isso tem muito a ver com Once, o trabalho anterior da banda em filme e disco. A herança da interpretação para o cinema veio em forma de uma caracterização melhor dos vocalistas para cada uma das suas canções. Ao mesmo tempo, Once era um trabalho sobre relacionamentos passados – e o passado costuma vir com uma coesão muito maior do que o presente. Strict Joy vem com uma urgência grande, uma energia bem diferente e imediatista, um reflexo do que Glen e Markéta, na época também um casal, passavam.

Melodias doces, como em In These Arms e Paper Cup dividem espaço com músicas bem fortes, como The Rain, High Horses e The Verb, todas com letras incríveis para serem ouvidas com o coração na mão. E, pra mim, as que melhor traduzem o espírito do álbum são duas faixas que mal são tocadas em shows, mas que sempre me chamam a atenção no disco.

Two Tongues tem uma pegada diferente de todas as outras, sem um refrão ou algo remotamente parecido. É apenas um desabafo de quem não aguenta mais levar o relacionamento sozinho nas costas, triste de doer. A outra é Back Broke, um atestado sobre como é possível sentir múltiplas emoções ao mesmo tempo, por mais que elas pareçam se contradizer. O encerramento ideal para uma obra tão díspar em sentimentos e sonoridades.

E o melhor de tudo é que Strict Joy é um disco triste, mas que não vai te deprimir quando você ouvi-lo. Sim, ele é melhor apreciado naqueles dias em que você está com a sensibilidade mais à tona, mas um bom ouvido vai conseguir desfrutar o trabalho de músicos muito talentosos em composições e letras muito verdadeiras. Uma obra que, pra mim, nunca vai ficar velha.

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MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.