A Primeira e Única Obra Prima de Jeff Buckley

Músico só precisou de um disco, “Grace”, para encantar uma legião de fãs ao redor do mundo e deixar seu legado a quem ficou órfão de sua música

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

Jeff Buckley – Grace

Eu, sinceramente, tenho medo de me dizer fã de qualquer coisa. Fanatismos sempre me assustaram e um dos principais motivos para isso é que pessoas tomadas por esse sentimento geralmente se cegam e se tornam intolerantes com pontos de vista contrários ao seu objeto de adoração. Em um conflituoso debate interno, que perdurou por mais de cinco anos, época em que conheci a música de Jeff Buckley, isso vem me atormentando e agora, sem receios de falar isso, posso sim me dizer um fã de Buckley e de sua primeira e única obra (prima), Grace (lançada em 1994) – só espero não ser um daqueles fãs chatos.

Por mais tardia que tenha sido minha descoberta, a conexão com a obra foi imediata e logo eu soube que este seria um daqueles discos que escutaria para o resto da vida sem nunca ter medo de enjoar daquelas faixas. São apenas dez (distribuídas em pouco mais de 51 minutos), porém todas de uma intensidade muito grande.

Apesar de Buckley estar ali cantando sobre si mesmo, sobre histórias e fatos de sua vida, sua sinceridade e paixão faziam com que tudo aquilo que ele estava cantando fizesse muito sentido não só para o artista, mas também para quem o ouvisse – e para mim também, é claro. Amor, solidão, raiva, depressão, felicidade, angústia e esperança se encontravam em um misto de sentimentos que, sobretudo, soava melancólico e que chegou aos meus ouvidos no momento exato, quando tudo aquilo que suas letras professavam parecia ser potencializado pela situação em que eu vivia na época.

Esse tipo de conexão foi muito bem explicada pelo músico carioca Cícero, em uma entrevista dada ainda em 2011 sobre seu disco de estreia. “Você faz uma música falando de você, aí aquela pessoa longe pra caramba ouve, se identifica, e agora a música fala dela, então aquela música parece ser tão dela quanto sua”. De certa forma é bem isso que sinto ao ouvir as canções de Jeff, é como se ele tivesse botado para fora algo que muita gente sente e partir daí aquilo passa a ser de todo mundo e não só de quem a criou. Creio que muita gente que está lendo também se identifica profundamente com as letras e paixão que Jeff colocava em suas faixas.

Através de um lirismo poético, uma instrumentação impecável e uma interpretação que até hoje vi poucos atingindo, a música de Jeff tem um poder ímpar de cativar e ainda hoje faz isso de maneira irreparável. Desde a abertura com Mojo Pin até o encerramento com Dream Brother, o músico passeia por vertentes do Rock, Folk, Música Indiana e Jazz em uma série de composições que ficaram imortalizadas pela sua voz. Sem contar um cover que ficou mais famoso na sua voz do que na de Leonard Cohen, compositor de Hallelujah.

Passando ainda por Last Goodbye, So Real e Lover, You Should’ve Come Over o disco apresenta algumas das letras de canções de amor e solidão mais bonitas que eu já vi. “Will I ever see your sweet return or will I ever learn” e “Maybe I’m just too young to keep good love from going wrong” são alguns ótimos versos desta última.

Sem medo de soar como fã (afinal, neste texto, isso é permitido), posso lhes dizer que Grace é um dos discos mais belos que já ouvi. Infelizmente, Jeff morreu três anos depois de lançá-lo e não há mais registros oficiais de sua música – apesar de tantos recortes e rascunhos do que seria seu segundo álbum terem sido lançados postumamente. É realmente uma pena que um músico tão genial como ele tenha morrido em um acidente tão bobo e é uma pena que tenhamos perdido uma das grandes vozes de uma geração.

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ARTISTA: Jeff Buckley
MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts