EDM: Febre Momentânea ou Futuro da Música Eletrônica?

Por que o gênero conquista cada vez mais espaço na cena e o que o faz ser tão criticado pelos fãs de Eletrônico?

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O que acontece com a música? As maiores apostas do cenário musical “alternativo”, seja do Rock, Indie, R&B, Pop, Eletrônico, foram baseadas no hibridismo, na mistura de influências em que nasciam outros sub-gêneros. E assim foi-se construindo, nos últimos sete anos, essas miscelâneas musicais e onde encontramos o ouro. O Soul entrou no eletrônico, o eletrônico adentrou no Pop, o Pop entrou no Soul. No Eletrônico? O Dutch entrou no Reggaetton, o Experimental pegou bases do Hip Hop, o Reggae se juntou ao Dubstep, o R&B no House.

Produtores, além de tentarem cruzar gêneros, para tornarem responsáveis por uma criação inédita, vem mastigando cada vez mais as influências de cada um para vender um som mais palpável e audível para as massas. Mayer Hawthorne trouxe o Pop em seu último registro. Ryan Hemsworth recheia sua produção experimental com Hip Hop. Até Coldplay e Maroon 5 deixaram suas antigas influências para construírem algo mais comercial. Isso ajuda? Já falamos sobre isso aqui. Indico, inclusive, que se interem no que foi dito nesse artigo porque muito do que vai ser falado aqui parte da mesma premissa do que foi dito lá.

Mas, enfim, e o outro lado da moeda? E quando se populariza um gênero eletrônico no intuito de torná-lo mainstream? Com a intenção de comercializá-lo mais fácil e captar cada vez mais fãs e, consequentemente, mais dinheiro? Abrimos o primeiro capítulo do Marketing Musical há alguns anos. É onde entra a tão falada EDM.

O que é EDM? Tradução literal: Electronic Dance Music. Antigamente todos os gêneros da Eletrônica eram incluídos na singla, Techno, Drum&Bass, Acid, House e afins. Hoje, a EDM é uma compilação de muito o que a maior indústria fonográfica (principalmente americana) constrói para os fãs de música eletrônica de massa. A sigla já separa de forma nítida o que é mastigado e feito de forma a agradar e apenas movimentar corpos, ou seja, tudo o que interpretamos que Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter criticaram em forma de Random Access Memories.

Mas essa compilação não é restrita. Existe EDM no House (principalmente), no Electro, Trance, Dubstep, Trap e até no Techno. A diversidade barra na regra de número 1: canções com vocais grudentos pra te fazer gritar olhando para luzes do palco, introduções com synths a te fazer movimentar o braço para cima em festivais e, muitas das vezes, um drop nada agressivo porém estimulante o suficiente para te fazer pular. Tudo com muito ruído branco e progressões esticadas. O gênero estourou depois de ampla mistura com o Pop e Hip Hop comercial nos EUA. Mas e aí? Cada dia que passa os festivais estão mais cheios, as pessoas estão tendo mais acesso à música eletrônica e a fórmula, no final das contas, é a mesma? É exatamente aí que a crítica chega.

Música na cena EDM nem sempre é tudo pela música em si. Nos maiores festivais tem um microfone que incomoda e fala bobagem, pede as mãos no ar, pede para o público pular, enquanto a atenção se distancia na originalidade. Músicas de quarto (ou aeroporto?) movimentar milhares de pessoas, soa incoerente? E não é só o microfone ou a produção que disfarça o que realmente interessa. Existe muitas mãos pro ar, um barco de ar, uma torta, colaborações com artistas do Pop, Hip Hop, champanhe, muito champanhe. DJs que foram praticamente que apadrinhados por grandes empresários por terem um rosto “bonitinho” sendo, incrivelmente, listados como um dos mais bem pagos, segundo a Forbes. No final das contas, o artista quer reconhecimento, dinheiro, status, ser uma peça publicitária forte. E a música? Onde fica?

A diferença entre um leigo e um amante de música, entre um Rock In Rio e Sónar, vem na distancia entre o “hype” e o “mainstream”, do mastigado para o elaborado, do conhecido para o raro. Enquanto algumas músicas são feitas para ser comercializadas outras foram estudadas e produzidas minuciosamente para trazer uma identidade. Pratos e bumbos escolhidos a dedo, estruturas experimentais, drops em Dubstep arrastados, Tech House com intervenções. Isso no Eletrônico, mas tem isso no Soul, tem isso no Rock, Indie, Hip Hop, não preciso citar nomes, se vocês estão lendo até agora o que eu escrevo é porque sabem quais são.

Estamos falando de uma onda tipicamente, como foi dita, norte-americana. O gênero chega de leve no Brasil, na Europa seu peso é menor (por uma cena muito concreta de Techno, Dubstep e French House tradicionais em países distintos), e não foge muito disso. Mas isso não indica que o EDM tem seus dias contados. Cada vez mais o festival Tomorrowland (na Bélgica) ganha notoriedade e credibilidade. Cada vez mais empresários investem em festivais novos de música eletrônica, o mundo percebeu que hoje os jovens têm mais contato com uma balada durante um final de semana qualquer do que com um show de Rock, por exemplo. Os Estados Unidos ainda é a maior exportadora de música pro mundo e enquanto houver dinheiro, mais dinheiro haverá. Ou seja, quanto mais o EDM fica forte, mais forte o EDM fica.

Assim como a maioria briga por guerra de “Divas”, enchem sua timeline com euforia de lançamentos inéditos com idéias repetidas, lotam estádios, choram, esperneiam e ameaçam de morte, o Pop é sinal de popularidade. E, assim como as singularidades se perdem no mercado Pop em busca de mais notoriedade, hoje o Eletrônico se aproxima disso também. Mas o crescimento de uma cena nem de tudo é prejudicial. Há 10 anos não existia tanto espaço para o Eletrônico como há hoje, não surgem tantos bons nomes a cada ano, tantos álbuns incríveis (EDM ou não) por mês. Mais fácil pensar que isso é um estímulo a quem é fã de música eletrônica e lembrar que sempre existe o “lado B” para quem se importa. Enquanto um grande circuito comercial é consolidado, sempre existiu um underground que vai ditar as regras dos próximos anos.

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Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King