Entrevista: Audac

Conversamos um pouco com a banda dona de um dos melhores discos de estreia do ano e falamos sobre sua sonoridade, Gordon Raphael, Tame Impala e mais

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Após resenharmos o ótimo disco autointitulado de estreia do quarteto curitibano Audac, nós resolvemos conversar um pouco com a banda para saber mais sobre a obra, como foi a experiência de ser produzido por Gordon Raphael, a mistura enorme de sonoridades da banda e mais algumas coisas.

Trocamos alguns e-mails com Alyssa Aquino (sintetizador e voz), Debbie Salomão (baixo e voz) e Pablo Busetti (bateria) e você pode ver o que saiu desse bate papo logo abaixo.

Monkeybuzz: Lembro que, quando fui resenhar o disco de vocês, tive certa dificuldade em tentar resumir seu som em um determinado gênero e só quando me dei conta que existia tanta coisa interagindo ao mesmo tempo que pude prosseguir no texto. Como é para vocês criar essa fusão de tantos estilos e ainda assim dar personalidade à banda?

Alyssa: Fico bem feliz em saber, é sempre tão difícil responder essas perguntas de estilos e vertentes da música, pois sempre querem uma definição, só uma ou algumas, e eu não sei se ela existe. E não é nada que foi criado de propósito. Pra nós é bem natural só criar, sem se preocupar com o tipo de som que tá criando, importa que todos nós gostamos e somos sinceros na hora de compor e escrever.

Pablo: Eu vejo essa dificuldade como um ponto positivo, pois, na minha opinião, é um ponto que faz com que as pessoas tenham interesse na nossa música, é como se rolasse uma curiosidade em torno do que a gente faz. E assim, se uma banda “nova” é facilmente rotulada ela já está fadada ao esquecimento, ao meu ver. Vai somente criar um burburinho no cenário X e não vai conseguir expandir pra outros nichos.

Porém, não é que a gente leve essa “ideologia” como um mandamento na hora da criação. Nós não dizemos coisas do tipo “vamos fazer uma música Dream pop”, jamais. Acho que tivemos sorte ao chegarmos nessa formação, pois parece que nossas influências são compatíveis de forma natural. Nos resta saber como elas se comportam da melhor maneira ao compor. Se fosse pra eu resumir essa mistura, diria que ela é resultado de uma cozinha repleta de influências do rock dos anos 90 somada a uma comissão de frente composta por texturas psicodélicas e um bocado de sonoridades modernas que habitam as praias do Dream Pop e Chillwave.

Debbie: No início da banda tentamos diversas vezes criar músicas em um determinado estilo e quando terminávamos de compor as musicas tinham tido como resultado final algo completamente diferente do esperado! Era como se nossas “deficiências” técnicas jogassem a nosso favor e no fim das contas certas influências acabavam aparecendo nas composições com uma roupagem nova. Atualmente, acho que as composições são mais livres e não existe uma ditadura na banda de como tocar, agir etc. Isso permite uma mistura mesmo, que acredito que certas bandas consagradas acabam perdendo ao longo do tempo.

Como vocês analisam o processo de amadurecimento da banda desde os primeiros singles e EPs até chegar ao primeiro álbum? E qual foi o papel do produtor Gordon Raphael nisso?

Alyssa: O que aconteceu foi que o orgânico agora tem lugar junto ao que é programado, tá todo mundo andando junto agora, nessa formação… e o que o Gordon fez foi ajudar a gente a se ouvir, a perceber nosso próprio som e conhecer ele melhor.

Pablo: Antes de eu fazer parte da banda já conhecia o som, lembro de ter me interessado muito pelo som na primeira vez que vi ao vivo. Dessa forma, o que eu posso dizer é que os instrumentos, hoje, dialogam melhor do que no início, se completam de uma forma mais harmoniosa e não servem apenas como acompanhamento. Se tá ali é porque é pra acrescentar!

O papel do Gordon foi mostrar pra nós mesmos que nossa música funciona muito bem ao vivo, que temos potencial pra fazer shows com uma sonoridade capaz de prender e instigar o público, coisa que a gente não tinha muita noção. Talvez por quase sempre ensaiar em condições precárias e tocar poucas vezes em casas com equipamentos bons de verdade. O resultado disso foi gravar o AUDAC inteiro ao vivo em estúdio, e o que percebo é que essa marca, a “pegada”, está impressa nele!

Audac e Gordon Raphael

Como foi o processo de desenvolvimento do disco e como foi saber que as pessoas queriam muito que esse disco saísse, afinal foi apoiado pelos fãs em um financiamento coletivo? Existia algum tipo de pressão extra por isso?

Alyssa: Eu imagino que deve dar muito medo ter que compor sendo pressionado, eu não pensei nesse sentido, não sofri por isso, pois nunca levei por esse lado, mas agora imaginando se tivesse levado pra esse lado… Hahaha, não sei o que teria saído, o medo maior mesmo que eu tinha era que não ficasse bom, que fosse complicado trabalhar com o Gordon, as músicas quase todas estavam prontas já, e foi tenso terminar as partes das outras, por conta do nervosismo e do tempo passando.

Pablo: O fato de gravarmos ao vivo tornou tudo mais prazeroso. Tivemos mais dificuldades em The Bow River por se tratar da música mais nova em questão, então acabou tomando mais tempo e dedicação dentro do estúdio.

A pressão era imposta por nós mesmos, eu acho. O fato de termos angariado recursos por meio de financiamento coletivo, pelo menos pra mim, não resultava em pressão, resultava em incentivo. Todas as manhãs durante minhas caminhadas pela praia eu pensava “caralho, eu tô aqui tendo essa experiência incrível graças ao apoio e a toda confiança que muitas pessoas depositaram na banda, pessoas que, inclusive, eu nem conheço!”.

Li em algumas entrevistas que uma das bandas favoritas de vocês é o Tame Impala. Como foi então abrir o show para eles?

Alyssa: Foi incrível. Além de ter rolado num lugar incrível, o Cine Joia, foi num festival incrível também, o Popload, e com uma das bandas mais incríveis que eu conheci recentemente. A vida já vale a pena por ter visto o show dos caras, tocar com eles então… Todos são muito legais e o show deles é perfeito.

Pablo: Foi muito bom. Fazer teu primeiro grande show junto de uma banda que tu admira não tem preço, pois a experiência a gente leva pra toda a vida. Deu para conversar bastante com os caras, tietar e beber muito, hahaha!

Audac mais Tame Impala

Voltando ao Tame Impala, alguns elementos dos australianos parecem influenciar vocês, principalmente no tom psicodélico de algumas faixas e no uso sintetizadores. Quais mais bandas vocês tem como influência e o que estavam ouvindo quando compuseram as faixas de Audac?

Alyssa: Olha, não sei bem se é o próprio Tame Impala que influencia a gente ou se nós temos as mesmas influências que eles, hahaha. Até porque conheci o Tame Impala em 2012, quando já tinha bastante coisa composta sem nunca ter escutado. Eu sempre ouvi muito Beatles, Tom Jobim…

Pablo: Tratando de bateria, eu procuro inspiração tanto nas das bandas que eu já escutava quando estava aprendendo a tocar quanto nas que não conheço há tanto tempo. Então a lista, por exemplo, vai de Nirvana, Silverchair, Radiohead e Portishead até The Subways, The XX, WhoMadeWho e The Kills.

Lembro de ter rolado muito no som da casa onde estávamos hospedados Temples, Pompeya e Melody’s Echo Chamber.

Audac

Essa é uma pergunta que vocês devem ouvir bastante, mas como se relacionam e enxergam a cena curitibana?

Pablo: Eu não sou a pessoa ideal pra comentar sobre a cena musical curitibana no geral. O que eu posso fazer é abordar um pouco um recorte com base naquilo que eu presencio, que é uma intensa movimentação de figuras da música pela região do centro histórico, principalmente nas redondezas da Trajano Reis, no bairro São Francisco. E pra mim é isso que caracteriza uma cena: uma região onde existem algumas casas pra música autoral e onde há movimentação do pessoal que faz música. Porém, ainda é um lance meio capenga, não tem muita estrutura, mas o mais importante tem: galera com vontade de tocar!

Acho que a gente passou a fazer parte da cena ao mesmo tempo em que as coisas foram acontecendo pra nós, pois antes a gente só frequentava os bares mesmo, hahaha! No fim, acho que a AUDAC era o patinho feio no meio das bandas daqui, mas depois que cresceu e pulou a cerca dos limites da fazenda Curitiba, acabou mostrando que o diferente também pode ser bonito.

Debbie: Não existe cena aqui, mas diversas cenas, na verdade, e vários nichos. Existem nichos obviamente que nem devem saber da nossa existência, pois Curitiba é muito rica em termos de som e cultura no geral, mas a cena da música “independente” na cidade tem nos acolhido muito bem — e olha que isso é muito raro na história musical da cidade; há algum tempo, a cidade era conhecida por sua autofagia: bastava uma banda dar certo pra que várias outras passassem a criticá-la! Esta mentalidade mudou muito nos últimos cinco anos, e atualmente temos o privilégio de sermos bem recebidos por diferentes artistas!

Agora que o disco está lançado, quais são os próximos passos? Quais são as prioridades a partir daqui: clipes, shows e o que mais?

Pablo: A previsão é de que logo tenhamos uma agenda pelo Brasil à cumprir. Não vejo a hora!

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ARTISTA: Audac
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts