Aquela Voz de Sempre em uma Banda Nova

“God Willin’ & the Creek Don’t Rise” fez Ray LaMontagne, acompanhado do grupo The Pariah Dogs, conquistar os fãs de Folk de uma vez

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

Ray LaMontagne and the Pariah Dogs – God Willin’ & the Creek Don’t Rise

Nunca me empolguei com o trabalho de Ray LaMontagne. Muitos amigos meus sempre me falaram da bela voz dele e pro talento de compor e interpretar lindíssimas canções, na tentativa de me animarei, e eu sabia de tudo isso, mas sabe quando não rola uma química, “o santo não bate” e tal? Sim, sempre respeitei o trabalho do cara e entendi porque todo mundo curtia tanto. Só não era o meu caso.

Mas isso mudou drasticamente quando ele reuniu uma banda (a qual batizou como The Pariah Dogs), levou todo mundo para sua casa de campo (um verdadeiro casarão no meio do nada, no interior dos EUA) e lá, inspirados pela grandiosidade da natureza e tomados de vez pelo espírito Folk, eles gravaram, ali mesmo na sala, o mais que excelente God Willin’ & the Creek Don’t Rise (2010), um dos trabalhos mais bonitos feitos dentro do estilo nos últimos anos e digno de figurar na sua estante ao lado de Fleet Foxes, Bon Iver e Mumford & Sons, pra citar alguns.

Foi a migração do estilo singer-songwriter, com um verniz mais introspectivo e pessoal, para a estética de banda, cantando sobre histórias observadas e, quando entra o eu-lírico em primeira pessoa, se permitindo os exageros do gênero sem risco de parar romântico demais, dramático demais – uma das melhores características da música Folk.

Guitarras bem trabalhadas, um baixo que se mistura ao eco da sala, a percussão como fiel acompanhante e o sempre belo vocal de LaMontagne fazem o disco ir muito além de um exercício de estilo, principalmente por conta de suas composições sentimentais, que geraram uma obra cheia de personalidade e de músicas para serem ouvidas e cantadas com os olhos fechados, das mais intimistas com base no violão às grandes baladas melodramáticas.

São apenas dez faixas em 44 minutos, o que é pouco para tanta qualidade, mas o suficiente para uma obra muito sólida e variada dentro de si mesma. Início e fim do álbum vem talhados no Folk Rock (com Repo Man e Devil’s in the Jukebox, respectivamente), enquanto New York City is Killing Me se aproxima do Country de raiz com seus exageros.

Are We Really Through, This Love Is Over e Like Rock & Roll and Radio vem para satisfazer os corações dos românticos & melancólicos e os singles For the Summer e Beg Steal or Borrow amarram bem toda a obra. Esse último, inclusive, foi indicado ao Grammy como “Canção do Ano”, mas o álbum levou “apenas” o prêmio de “Melhor Álbum de Folk Contemporâneo” naquela noite.

Me vejo como apreciador (ou heavy user se prefeir), mas nunca como “fã” de música Folk. Mesmo assim, foi quando ele enfiou os dois pés de vez no estilo que me simpatizei por completo com Ray LaMontagne. A voz é a mesma de antes, a emoção é igual antes, mas a alma do negócio está ainda mais simpática e convidativa em God Willin & the Creek Don’t Rise. Uma pequena obra-prima que merece ser relembrada.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.