Mashups: de onde vêm e pra onde vão?

Mistura de gêneros está sendo a nova pegada, mas e a mistura de músicas? Tem futuro? Quais as novas possibilidades da cena?

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Se você costuma sair de casa para baladas que envolvam a cultura pop ou apenas é antenado com o que acontece de mais novo provavelmente já ouviu (ou pelo menos ouviu falar de) Mashup. A palavra, que tem uma série de sinônimos (Bootleg, Boots, Smashup, Blens, Cutups e por aí vai) dependendo de onde se produz, carrega consigo um currículo de carreira longa.

É claro que se tratando de uma sociedade já inserida na internet, a disseminação desse tipo de produção se torna maior e consequentemente mais conhecida afora, mas o Mashup já carrega mais de 50 anos de história, desde quando tivemos a música gravada. Misturar samples com instrumentais distintos não é prática vanguardista e já vinha sendo executada há anos. Seja para hibridizar algo para mostrar referência ou até para provar plágio, o Mashup veio sendo construído quase sem saber o que era ou até onde podia chegar.

Mas, afinal de contas, o que é o Mashup? Sem muito segredo, trata-se da mistura de duas ou mais músicas já existentes onde uma se prevalece de forma vocal e outra instrumental. Através de trechos, artistas criam misturas interessantes (e, às vezes bem bizarras) de músicas com mesmo ritmo, tom ou proposta. De uma forma ou de outra, a medida que o “gênero” foi se instalando, os adeptos foram crescendo ao ponto de construirem uma cena ao redor disso, seja de produtores ou fãs. Nos últimos anos, com o avanço da tecnologia, ficou mais fácil para que músicos tornem possíveis suas ideias com a criação de softwares específicos e com ampla possibilidade de produção. GarageBand, Sony Acid, Ableton Live foram uma “mão na roda” para que pessoas pudessem tornar reais suas ideias de mixagem e, às vezes, até melhorar a versão original de alguma faixa.

Lá fora vários nomes se consagraram em cima do movimento. O incrível 2 Many DJs que, a partir da ideia de que os melhores Pops são misturas e cortes dos melhores hits (ou de suas ideias), lançou As Heard on Radio Soulwax Pt. 2 com A Stroke of Genie-us, um mashup de Christina Aguilera com The Strokes. DJ Earworm veio com “diploma de especialização” no tema e, desde 2007, vem chamando atenção quando o assunto é “mistura”. Lançou o United State of Pop que nada mais era que o mashup das 25 músicas mais tocadas do ano. Como falar de Mashup sem falar em Girl Talk? Registrado como Gregg Gillis, o produtor aproveitou seu contrato com a gravadora Illegal Art para focar na produção com uso de samplers já existentes para composição autoral. DJs From Mars sempre foram figuras exóticas na música, desde a caixa de papelão na cabeça até o ímpeto de misturar Lady Gaga com Metallica em suas apresentações ao vivo. Os italianos sempre tiveram seu nome na produção de misturas, mas foi após o Mega Shuffle MultiBootleg que se consagrou o abraço à cena, em 2011. E agora, mais recente, Madeon, DJ presente no Lollapalooza Brasil 2013, firmou seu nome após soltar na internet um vídeo fazendo mashup de 39 músicas ao vivo através de uma launchpad.

No Brasil, o movimento não se atrasou. João Brasil, nesse meio tempo, já havia soltado toda sua brasilidade em Big Forbidden Dance, que trazia produções que misturavam Sepultura, Digitalism e Britney Spears. A cabeça louca do carioca fez seu nome, não só pelas produções completamente inusitadas, mas também pelas ideias. Em 2010, João decidiu soltar um Mashup por dia durante um ano. 365 Mashups estourou de cara e provou que liberdade criativa pode trazer alguém pro topo. Hoje, João Brasil é o primeiro nome quando o assunto é brasilidade na produção eletrônica. Já foi chamado diversas vezes, inclusive, para fazer a trilha do Réveillon de Copacabana, além de ser o embaixador da música brasileira nas Olimpíadas de Londres para dar as boas vindas ao próximo destino do evento: Brasil. O sucesso não ficou só em terras tupiniquins e espalhou por toda Europa, inclusive o produtor teve a Inglaterra como seu berço por anos se apresentando em casas que estimulavam essa variedade musical. O talento de João foi tão grande que chegou a inspirar produtores prodígios. Em 2011, André Paste saía na mídia por conseguir pegar um vídeo de sucesso na época (apresentação da Susan Boyle) e hibridizar com Exaltassamba. Com apenas 17 anos, na época, o menino conseguiu credibilidade, inclusive, para ser convidado pela produção de Malhação, da Rede Globo, para produzir a trilha da série.

Aqui, como pôde-se perceber, a maioria do que é feito tem teor popular nas criações, muito funk carioca, axé, pagode. Entretanto, a ideia da mistura não é só uma forma de divertimento. O Mashup antes de mostrar técnica ou vir para acertar dois “ouvintes” com uma “cajadada” só caminha também para a educação musical. É uma forma que muitos DJs têm de misturar suas influências etocar o que gostam com o que funciona na pista, uma oportunidade de quem não é tão ligado em novas músicas ter contato com novas referências.

Apesar de já ter registros antigos, ápice há alguns anos, festas e “filiais” – Bootie NY, Bootie LA, Bootie Rio – já consagradas há tempos, o Mashup não parece fadado ao enfraquecimento. Hoje, séries já apropriam de sua estruturas (por exemplo Glee e seu episódio misturando Bon Jovi e Usher, quem se esquece?) e também criação de games para reforçar a transmídia do assunto. E essa é a tendência. Brincar com estilos, levar a fusão de músicas para TV, teatro, cinema, games. Sua possibilidade de mistura, principalmente com o estouro de novos gêneros nos últimos anos, é enorme, o que torna seu caráter atemporal. As chances de aparecer e surpreender positivamente são massivas já que conta com o elemento surpresa, a quebra de expectativa. Sua vivacidade e possibilidade depende somente da criatividade do produtor em saber reconhecer uma potencial ideia proveniente de outras já existentes e fazer disso uma produção autoral. Afinal, que soma de sucessos que pode dar errado?

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MARCADORES: Mash-up

Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King