A Busca pelo “Cool” com LCD Soundsystem

Primeiro disco da banda traz a sinceridade de James Murphy por trás das mais diversas influências, em um disco que é garantia de identificação e diversão

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

LCD Soundsystem – LCD Soundsystem (2005)

James Murphy e sua LCD Soundsystem talvez sejam um dos nomes que mais tenham conseguido mesclar características do que era ser uma banda clássica há 40 anos, com o que é ser uma banda clássica hoje. Dos grandes nomes de décadas atrás, continua a figura inventiva e a frente de seu tempo do líder da banda, ao mesmo tempo que o sucesso o deixa mais confuso e problemático do que seguro, atrai uma penca de fãs, acumula boas histórias pra contar e compõe singles que deixam de ser posses de seu criador e passam a ter uma importância ímpar e definitiva na vida de muitos jovens buscando entender seu lugar no mundo, ou apenas tentando encontrar um jeito de atravessar o colegial sem apanhar na escola.

Só que hoje, não cabe mais todo aquele distanciamento entre fã e ídolo, então é comum encontrar Murphy e qualquer ex-membro da banda pelo Brooklyn, alguma boa entrevista com eles pela internet e entender suas motivações e influências. Com as facilidades de produção que temos hoje, nada também mais legal do que encontrar toda a sua banda favorita – mesmo depois de acabada – tocando novos projetos, produzindo outros artistas e até mesmo dirigindo filmes, escrevendo livros e comandando a noite das baladas mais legais. Alguns preguiçosos dizem que o Rock está cada vez mais sem graça e mais coxinha, mas pra mim, tudo isso é muito mais legal do que gostar de uma banda com integrantes que criam um personagem megalomaníaco e se perdem dentro deles, se afundando nas drogas ou outros problemas piores, abandonando fãs que ainda acham tudo isso a verdadeira atitude “Rock’n’Roll”.

Perdão se me extendi demais na introdução, mas conhecer a postura de James Murphy durante sua carreira é essencial pra curtir ao máximo seu trabalho e principalmente, seu primeiro disco, o homônimo LCD Soundsystem.

Uma das citações mais legais do documentário Shut Up And Play The Hits é quando Murphy comenta que sempre foi um garoto de cidade pequena, que não se identificava com as pessoas daquele lugar e queria formar sua própria identidade. Para isso, consumia livros, discos, filmes que nem gostava tanto assim, só para parecer descolado e construir sua própria imagem. A questão, é que após um tempo fazendo isso, Murphy realmente conseguia entender a qualidade por trás de tudo que consumia e que acabou formando sua identidade, seu caráter e seus gostos pro resto da vida.

É assim com muita gente – quase todo mundo, em diferentes escalas – e foi assim comigo, ao começar a ouvir LCD Soundsystem. Conheci esse primeiro disco aos quinze anos, dois após seu lançamento e confesso que achava tudo barulhento demais, aquele vocalista cantava de um jeito meio esquisito, fora do ritmo da música e tudo parecia funcionar muito melhor em uma festa, ambiente que eu não frequentava tanto assim. Pra completar, eu não era alguém que prestava muita atenção nas letras das músicas, o que me afastava ainda mais das grandes qualidades da banda.

Só que tudo no LCD Soundsystem era muito legal e eu queria fazer parte daquilo. Foi lá pelo final de 2006, quando os holofotes voltaram pra banda por causa do lançamento do novo trabalho, que comecei a ter um contato maior com entrevistas, artigos e conhecer James Murphy, a banda, a DFA Records e todas as suas intenções e influências depois de um bom tempo ouvindo aquele amontoado de grandes hits e decorando as letras na Internet.

Este foi o momento em que percebi de vez o quanto me identificava com tudo aquilo. A maneira boba que ele compunha suas músicas, mas que soavam geniais para um garoto, por serem sinceras e portanto, de fácil identificação. Eu ficava fascinado com cada acontecimento citado por ele em Losing My Edge e cada banda citada, todas elas propositalmente escolhidas por serem hoje consideradas cool.

Tribulations tem uma das letras mais verdadeiras sobre relacionamentos que ouvi em muito tempo. Nela, temos a prova de que Murphy não tem uma visão romântica sobre nada, apenas consegue continuar vivendo entendendo os defeitos naturais em tudo, inclusive no amor, percebendo que essas imperfeições são, no final, o que tornam tudo mais interessante. Essa maneira aparentemente madura de lidar com as coisas me encantou desde o início, já que sempre busquei ter essa postura “Shit Happens” com a vida, mas nunca consegui.

Movement fala muito do próprio movimento inesperado na vida de Murphy, tornar-se músico e um grande popstar aos 34/35 anos através de diversas comparações inteligentes. Esse disco todo, deixa muito clara essa sinceridade de realmente não acreditar em como aquela música feita por ele “despretenciosamente” possa ter encantado tanta gente. Não que de alguma maneira ele não tenha se esforçado pra tudo aquilo, simplesmente tem muito daquela sensação de que aquilo nunca irá acontecer com a gente, evidente no trecho “It’s like a culture / Without the effort of all the culture”, ou seja, tudo que ele gostava e que possuía uma aura “cult” parecia algo muito mais elaborado do que o que ele fazia e que aos poucos estava atingindo o mesmo patamar.

Saindo um pouco das letras e partindo para as melodias, LCD foi a banda que me introduziu na época, lentamente a ouvir coisas novas e mais pesadas que nunca imaginei que me interessariam, como Punk, música eletrônica e bandas como Can, Talking Heads, B-52’s, Kraftwerk e a prestar atenção em outros lados de artistas que já ouvia como Beatles, David Bowie ou Lou Reed.

A banda conseguiu introduzir certas nuances de todos esses nomes em sua música, de maneiras nada óbvias. Não é como ouvir Foxygen ou algum nome do Folk e perceber claramente de onde tiraram suas influências. É algo mais natural, vindo de anos apreciando tudo aquilo, ficando tão enraizado em você como pessoa, que ao fazer música, tudo aquilo se mistura de uma maneira improvável, mas que faz muito sentido.

Esse disco foi também, o responsável pela popularização da DFA Records, selo que emplacou alguns dos maiores hits da última década, mas continua levando tudo de uma maneira tão sincera e unida, que qualquer banda que saia de lá, é garantia de sucesso entre os fãs do selo. É sem dúvida, uma das cenas mais legais que tive contato em muito tempo, sempre com a verdadeira proposta de animar todo mundo e fazer música divertida.

No final, o que James Murphy sempre quis, foi fazer todo mundo dançar e é por isso que você, mesmo sem nunca ter parado pra pensar em tudo isso que citei nesse artigo, pode já ter LCD Soundsystem como um de seus discos preferidos. É uma compilação de grandes hits, muitas influências processadas e inúmeros momentos de “sempre quis dizer isso e nunca soube como”.

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Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.