Cadê: “Olhar”, Primeiro Disco da banda Metrô

Primeiro disco da banda, que inclui seu maior hit, é uma raridade atualmente sendo apenas encontrado com colecionadores

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Em algum momento de 1984, provavelmente bem no fim do ano, eu ouvi uma canção no rádio do carro da minha mãe. Era uma voz feminina fininha, um instrumental bonitinho, uma letra que me lembrou algo de Rita Lee naqueles tempos idos. No refrão vinha o grudento verso: “Coração ligado, beat acelerado”, que seria transformado em “bife acebolado” pouco tempo depois pelas rádios cariocas. Sim, era Metrô, dando o ar de sua graça em meio ao tumultuado universo de bandas brasileiras buscando lugar ao sol naqueles anos 80.

Metrô já se chamara A Gota, mais tarde, Gota Suspensa. Fora formado em 1978 por jovens paulistanos descendentes de franceses e tinha como inspirações maiores a trindade Beatles, Mutantes e Pink Floyd. Gota Suspensa chegou a gravar um disco independente em 1983, já devidamente influenciada por New Wave, no sentido Talking Heads/B-52’s do termo, mas que não chegou a obter qualquer sucesso. Serviu, no entanto, para despertar a atenção das gravadoras. Com Virginie (vocal), Alec (guitarra), Dany (bateria), Yann (teclado) e Zaviê (baixo), eles mudaram novamente de nome, adotando Metrô, no sentido de abreviação do termo “metrópolis”. Conheceram-se no colégio Liceu Pasteur em São Paulo, escola que adotava o francês como língua oficial. Sob essa nova influência musical, o Metrô lançou um compacto pelo selo Epic/CBS, com Beat Acelerado e Sândalo de Dandi.

A sonoridade do conjunto tinha bastante pioneirismo e carece de reconhecimento até hoje. Num tempo em que o Rock Nacional era mais enguitarrado e antes do RPM, os anglo-paulistanos enveredaram pelo Technopop com afinco, abusando do uso de teclados e baterias eletrônicas. Havia uma preocupação com a ambiência das canções e o vocal doce de Virginie contribuía para a construção de uma banda “de mulherzinha”, algo que se acentuava pela presença dos rapazes nos instrumentos, principalmente Dany, que fizera parte de uma famosa campanha publicitária, a clássica “bonita camisa, Fernandinho”, dos jeans USTOP.

Com o sucesso do compacto de Beat Acelerado, a Epic contratou a banda e resolveu lançar seu primeiro disco, Olhar. Em 1985 o álbum veio para as lojas e enfileirou vários hits: Tudo Pode Mudar grudou aos ouvidos e chegou a desbancar We Are The World das paradas nacionais. Em seguida veio Ti-Ti-Ti, que emplacou o canção título da novela global das sete e, no fim do ano, Johnny Love foi selecionada para a trilha sonora do filme Rock Estrela, de Leo Jaime, que participa da canção. O sucesso veio em doses massivas. Logo a banda estava nos principais programas de auditório do país e excursionando por todos os cantos. Não demorou para as primeiras divergências aparecerem. Inesperadamente a banda encerrou suas atividades ainda em 1986, pelo menos, era o que Yann e Alec queriam. Em busca de uma sonoridade mais ideológica e nos moldes do que a Legião Urbana vinha fazendo, os dois decidiram seguir sem Virginie. O baterista Dany seguiu com eles e a cantora, após algum tempo recuperando-se do golpe, voltou à carga com Virginie e Fruto Proibido, banda em que ela era a estrela principal, que não deu certo. O trio lançou, em 1987, o disco A Mão de Mao, com a presença de Pedro D´Orey, vocalista português. Tentaram adotar outro nome mas a Epic exigiu que usassem Metrô no novo trabalho. Foi um fracasso retumbante de vendas, apesar de receber elogios da crítica especializada.

Olhar foi lançado em CD no início dos anos 00 na série Autêntico, da Sony e está fora de catálogo. É possível encontrar o disco à venda em sites de compras da internet por preços que variam de R$255,00 e R$450,00.

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ARTISTA: Metrô

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.