Garotas Suecas e a Festa Domada

Com “Feras Míticas”, banda mostra evolução no som mesmo perdendo sua principal característica, que era a animação de suas músicas

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Nem tente disfarçar: Se você acompanha a carreira da banda paulistana Garotas Suecas há um tempo, só não ficou surpreso com seu Feras Míticas se não escutou o disco. Enquanto o EP Dinossauros (2008) ditava a festa continuada no álbum de estreia, Escaldante Banda (2010), este novo, lançado há algumas semanas, trilha por rumos bem menos carnavalescos que os anteriores. E se você reclamar dizendo que o tal diferente caminho não deveria ter sido seguido, daí eu terei certeza que você ainda não apertou o play nesse.

Entenda: O que mais gostei na banda desde sempre foi justamente a tal da empolgação. Com shows animados, músicas dançantes e clipe estrelado pelo Jacaré do É o Tchan (como não amar, vai?), Garotas Suecas era sempre certeza de diversão e mexer em um time tão vitorioso seria mais do arriscado,. Como ouvinte, eu nem veria motivos pra isso. Daí veio Eu Avisei Você uns meses antes e tive que colocar em questionamento tudo o que eu pensava ou esperava sobre o lançamento.

Lembro quando, em 2011, entrevistei o guitarrista Tomaz Paoliello e questionei se aquele aspecto muito empolgado não poderia ficar cansativo com o tempo e sua resposta foi que a banda se formou nesse espírito de festa, mas que teria surpresas para um próximo trabalho. Conversando novamente com ele dia desses, ele contou que a banda trabalhava já naquela época as demos do que veio a ser Feras Míticas. “A gente estava mesmo nessa festa louca que era o Escaldante”, explica a vocalista e tecladista Irina Bertolucci, “mas logo depois a gente começou a tocar as músicas do disco mais lentas do que elas foram gravadas”.

“Foi um processo muito tranquilo de composição”, revela Tomaz sobre o segundo álbum, “a gente tomou nosso tempo pra pensar nas músicas, nos arranjos, para onde nós gostaríamos de ir”. “A gente tinha esse caminho muito automático de ‘ah, vamos fazer um Funk?’”, relembra Irina, “aí aquilo já não estava convencendo a gente mesmo. ‘Por que a gente tá fazendo um funk, é por que a gente só consegue fazer isso ou porque essa música precisa ser assim?’ A gente ouviu as músicas e pensou que cada uma tinha uma solução sob medida pra ela”.

E há mesmo um espírito desafiador no álbum, como se os cinco tivessem topado a proposta de ir além do que costumavam fazer, por melhor que fosse, para tentar algo novo – e esse adjetivo funciona como poucos para descrever Feras Míticas já que, além de tudo isso, é um disco com uma sonoridade talvez ainda mais contemporânea que seu anterior.

Mais do que em todo reverb e psicodelia, o senso de noveauté está no espírito livre e aventureiro com que a banda trabalha suas dozes faixas no comprometimento de tirar o melhor de cada composição sem se preocupar em se enquadrar em um estilo muito específico – algo que nem todos ousam fazer e, dentre os que tentam, são poucos os que fazem bem.

“A gente nunca fez uma hierarquia de que o que é antigo ou novo é melhor”, explica Tomaz, “sempre tentou tornar nossas referências antigas – que são do Rock Clássico, do Soul, Funk, MPB – mais contemporâneas e nesse disco isso aconteceu de forma mais natural”. E isso foi feito com ajuda de algumas em inglês em meio às na língua-mãe, com a ajuda do produtor Nick Graham-Smith, o rap de Lurdez da Luz e até Titãs, mas nada fica confuso ou muito heterogêneo. É o reflexo de um “processo das coisas feitas com atenção, calma e cuidado”, como conta o guitarrista.

E chegou a hora de mostrar o resultado disso tudo também nos palcos. Com o show de lançamento marcado para um teatro (Auditório Ibirapuera, em São Paulo), pode ser que as diferenças fiquem ainda mais notáveis. Porém, se a festa diminuiu, a qualidade da música cresceu ainda mais – e assim fica difícil reclamar.

Serviço

Garotas Suecas: Lançamento de Feras Míticas
Participação especial: Paulo Miklos, Lurdez da Luz e Nick Graham-Smith
Dia 15 de setembro (domingo), às 19h
Duração: 90 minutos
Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)
Classificação indicativa: Livre

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MARCADORES: Novo álbum

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.