Emicida: Uma Gloriosa História

Sem nunca estar aqui, músico foi mordendo cachorros, vencendo batalhas até chegar em um dos melhores discos de música brasileira em 2013.

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Fotos: Luciana Faria

Você detona tanto os seus rivais nas batalhas de rima que passa a ser chamado de assassino. Seu nome de guerra vira Emicida e o resto é uma história sendo escrita constantemente. Um dos grandes exemplos de músicos que surgiu junto com a explosão da internet no Brasil, o rapper Leandro, que tem até Roque no seu nome, virou um dos símbolos não só do Hip Hop nacional contemporâneo como aos poucos vai colocando o seu nome na música brasileira como pode ser visto no excelente O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui.

No entanto, como os costumeiros desafios que enfrentou nas disputas de improvisação, o músico teve um caminho sinuoso e nem um pouco simples. A morte de seu pai na sua infância parece ter criado o espírito necessário para que Leandro corresse atrás dos seus sonhos e que pudesse honrar o nome de seu ídolo. Vencedor por dezenas de vezes da famosa batalha de MC do Santo Cruz e da Rinha de MCs, Emicida já demonstrava seu potencial nos primeiros anos de sua adolescência. Desde cedo aprendeu a mexer em equipamentos sonoros, oriundos dos bailes de black organizado por seus pais, o que o possibilitou a desenvolver habilidades de produção sonora.

Seu primeiro trabalho viria a aparecer apenas em 2009 com a mixtape Pra quem Já Mordeu um Cachorro por comida, até que eu Cheguei Longe... Compartilhando 25 canções gravadas ao longo de sua carreira, o disco teve um considerável sucesso no underground do Hip Hop, conseguindo alcançar cerca de 3 mil cópias vendidas por meio do boca a boca. Na obra, faixas que se tornariam hits entre seus fãs como Ela Diz, balada singela e sincera do músico e Orra… música em homenagem ao seu pai já demonstravam um talento ímpar e uma grande capacidade lírica e de produção.

Foi, entretanto, com Triunfo, provável grande sucesso do rapper, que as portas realmente começaram a se abrir. Com cerca de 2.000.000 de exibições no Youtube, a música se tornou ao mesmo tempo um hino do novo Hip Hop como a exibição que auto promoção através da internet também era possível em território tupiniquim. Tanta notoriedade o levou a participar do VMB daquele ano mas sem conquistar prêmio algum. As batidas da faixa não perderam a identidade e mesma escutada quatro anos depois mostra-se ainda mais clássica.

Sua segunda mixtape, Emicídio, manteve o espírito de batidas criadas e rimas sendo feitas sem muito esquema de produção ou um tema constante. Músicas como Rua Augusta mostravam um Emicida mais solto, e um som tentando ter ainda mais apelo dentro da música brasileira. Participações de outras artistas como Kamal e Rael da Rima abriam espaço para novas sonoridades, o que o fizeram liderar aos poucos a retomada do Hip Hop no Brasil, um som muito atrelado a periferia mas que ia se misturando a diferentes classes sociais no país.

O sucesso o levou para o Coachella, realizando um show por lá em 2011, um marco em sua carreira. Outros festivais foram aparecendo, Rock in Rio, SWU, Creators Project e Sónar, e Emicida ia construindo o seu sonho de viver da música sem ao menos ter lançado um álbum de estúdio. Foi aí que uma parceria perfeita faria com que o músico ganhasse o suporte e o background necessário para elevar-se na carreira: Criolo.

Os duetos realizados entre ambos surgiram como projeto solo para o SESC, mas aos poucos foram ganhando cada vez mais datas pelo país até que em 2013 acabaram resultando em um CD e DVD ao vivo entre Criolo e Emicida. A troca de papéis entre os músicos, com cada um tocando uma parte solo para depois unirem-se no palco era o terreno ideal para que Leandro pudesse absorver as melhores características do músico do Grajaú: os seus pés e ouvidos muito bem fincados na MPB, fato consumado em Nó na Orelha.

Tal influência é notável no primeiro disco de estúdio de Emicida, obra que surpreendeu muito pela sua maturidade e produção. Dentre os melhores álbuns lançados no ano de 2013, O Glorioso Retorno caminha para um sucesso até radiofônico, com faixas feitas com artistas como Pitty e Quinteto em Branco e Preto. Não só vemos Hip Hop mas Samba, Funk, Maracatu, todos misturados a uma ótima composição em batidas e versos. Não estranhe se o nome do músico se tornar ainda mais constante no seu dia a dia, e se pra quem mordeu cachorro por comida, Emicida realmente chegou muito longe, sem previsão de parada

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ARTISTA: Emicida

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.