Neko Case: Discreta Dama da Canção

Com um disco recém lançado, redescubra a carreira da cantora, ex-integrante do The New Pornographers

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Caso seus pais de origem ucraniana não mudassem de sobrenome, Neko Richelle Case seria Shevchenko. Nascida em 1970, filha de militar da força aérea, a jovem Neko perambulou por cidades americanas e canadenses. Nasceu em Alexandria, na Virginia. Depois passou por Tacoma, no estado de Washington e mudou-se para Vancouver, no Canadá, para ingressar na Emily Carr Institute of Art and Design, em 1994. Em meio aos estudos, a menina já arranhava a bateria em diversas bandas mais ou menos punks da cena local.

Nada de muito relevante aconteceu em termos artísticos para nossa moça nos quatro anos em que cursou a escola. Ela gravou seu primeiro disco solo, The Virginian, com recepção positiva, mas, para muitos, era apenas mais uma cantora que enveredara pela cena do country alternativo. Chegou a graduar-se em artes em 1998 e mudar-se para Seattle. Antes de partir, gravou os vocais de algumas canções no disco dos New Pornographers. Seus amigos AC Newman, John Collins e Dan Bejar estavam escrevendo algumas canções e pediram a ela que as gravasse. Neko aceitou, sem imaginar que a produção da estreia dos New Pornographers ainda demoraria dois anos, dando origem ao disco Mass Romantic, lançado em 2000. Este também foi o ano de lançamento do segundo disco de Neko, Furnace Room Lullaby, no qual ela acrescentava novos elementos (jazz, trilhas sonoras) à sua sonoridade alt-country original, um traço que a definiria como artista.

O sucesso levou a canção título do disco a fazer parte da trilha sonora do filme The Gift, de Sam Raimi. Em meio ao lançamento, surgiu a turnê com os New Pornographers, na divulgação de Mass Romantic e seu lançamento tardio. Enquanto Neko exorcizava seus demônios pessoais em seus discos solo, podia abraçar o Power Pop com os Pornographers. Mesmo vivendo em Seattle, Neko não deixou seus vínculos com músicos canadenses para trás. Essa aproximação e parceria constantes, fez a CBC Radio 3 e Society of Composers, Authors and Music Publishers of Canada, conceder-lhe o título de “canadense honorária”.

Neko já vivia em Chicago a partir de 2001. Ela se mudara logo após lançar o disco anterior. Lançara um EP de oito faixas e, em 2002, seu terceiro disco, Blacklisted, cujo sucesso foi grande. Composto totalmente por Neko, exceto pelo cover de Aretha Franklin (Look For Me), o disco mergulhava no que a crítica chamou de “country noir”, ou seja, o tal som alt country com elementos cinemáticos e jazzísticos que Case empreendera no segundo disco. Em 2003 New Pornographers lançou Electric Version e, com eles, Neko foi para a estrada em nova turnê, em abril foi escolhida como a “mais gata do indie rock” pela Playboy americana, que chegou a convidá-la para posar nua, convite do qual ela declinou elegantemente. Sua carreira continuaria alternando os anos entre discos com a banda e solo, portanto, 2004 era o ano de um trabalho só dela. Veio então The Tigers Have Spoken, gravado ao vivo, com colaborações com os amigos canadenses The Sadies e Lee’s Palace.

No ano seguinte, volta a vida com New Pornographers e o lançamento de mais um disco, Twin Cinema, no qual ela canta em The Bones of an Idol and These Are the Fables. Como já estava com as canções do próximo disco solo em mente, Neko excursionou pouco com os Pornographers, dando início às gravações de Fox Confessor Brings The Flood, que seria lançado em 2006 com recepção moderada por parte da crítica. No ano seguinte, lá estava ela cantando em Challengers, novo disco dos Pornographers, novamente saindo em turnê com os amigos e, novidade, voltando para sua novíssima fazenda em Alexandria, cidade onde nasceu, onde passaria a gravar seus discos solos. Assim foi com o maravilhoso Middle Cyclone, lançado em 2009 e, pra variar, no ano seguinte, ela viria para a estrada novamente, com Together, novo disco dos NP.

A lógica de alternar os anos entre seus discos e os do New Pornographers foi rompida só agora. Ela passou 2012 sem novos lançamentos e voltou à carga com The Worse Things Get, The Harder I Fight, The Harder I Fight, The More I Love You, seu quinto disco. Desde 1997, Neko Case já conta com uma prolífica carreira que contabiliza dez álbuns lançados, inúmeras turnês e apresentações ao longo dos Estados Unidos, Canadá e Europa. É uma das artistas mais respeitadas e íntegras, dona de sonoridade própria e marcante, tanto solo quanto com os New Pornographers. Se você ainda não ouviu nada desta discreta dama da canção americana, em plena atividade neste exato momento, corra atrás logo. Você vai gostar.

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ARTISTA: Neko Case
MARCADORES: Redescobertas

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.