O Inebriante “Midnight Boom” de The Kills

Vozes, uma guitarra e uma drum machine, é só disso que a dupla The Kills precisa para impressionar o público com seu terceiro álbum

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

The Kills – Midnight Boom

O ano era 2008 e eu ainda dava meus primeiros passos no vasto e até então pouco explorado (por mim) mundo do Indie Rock. Tateando novos lançamentos alcançados na Internet me deparei com um dos discos mais interessantes que achei naquela época (e que ainda hoje, cinco anos após ir às prateleiras, se mantém com um frescor incomparável). De volta naquele ano, me lembro ainda que logo de cara me encantei com a potente voz Alison Mosshart e pela guitarra abrupta e feroz de Jamie Hince.

Até então, nunca tinha ouvido nada que se igualasse àquela energia do duo e foi quando vi alguns vídeos da dupla tocando ao vivo que a música do duo me ganhara de vez. Por mais que a postura blasé tomasse conta do palco, a sinergia e a entrega dos músicos quando tocavam suas canções era algo inacreditável.

Depois de uma breve pesquisa descobri que Midnight Boom era na verdade o terceiro disco do The Kills e que trouxe um teor bem mais Pop ao seu som, se comparado aos dois anteriores. O resultado era um barril de pólvora pronto pra estourar a qualquer momento – e que de fato aconteceu com certa ajudinha dos tabloides que investigavam a vida amorosa de Hince e da modelo Kate Moss. Impulsionado pela mídia (não musical) o duo atingiu grande sucesso, porém, mais que isso, “VV” e “Hotel” mostram um disco que se revelou poço de hits (alguns pedantemente chamados de “hits Cult”, é verdade, mas ainda assim dominando o meio Indie naquele ano).

Brincando com o Indie Rock de maneira sexy, o grupo ainda adiciona doses de Garage Rock (principal combustível das duas primeiras obras), toques do Blues e ainda algumas batidas de um proto-R&B à sua mistura minimalista e monocromática, resultando em uma sonoridade vigorosa e ainda mais poderosa. Foi com essa nova mistura que em Midnight Boom Alison e Jamie finalmente tiraram de vez as exaustivas comparações com The White Stripes que pesavam em suas costas desde o lançamento de Keep on Your Mean Side, em 2003.

Com grande versatilidade e aquela facilidade Pop instantânea, o álbum conseguiu desfilar ótimas faixas, desde a inusitada abertura, com U.R.A. Fever, até o encerramento em Goodnight Bad Morning. Executadas de forma extremamente enérgica, cada uma das doze músicas se tornam uma explosão de boas melodias (executadas por guitarras barulhentas e gritantes) e pelos vocais algumas vezes divididos pelo duo, porém quase sempre dominado pela ótima voz da moça. É claro que a drum machine entra aqui como o terceiro elemento, e um dos mais importantes.

Se as batidas nos outros álbuns apareciam como figurantes, aqui elas se tornaram coadjuvantes, sendo um grande incremento na sonoridade da banda. Trazendo maior variedade às faixas, elas impressionam pelas suas construções às vezes erráticas – como a bateria marcial em Cheap and Cheerful, algo perto de um R&B bem cru em Tape Song, batidas mais roqueiras em Last Day Of Magic ou ainda o grande frenesi de M.E.X.I.C.O.C.U.

Provando ser capaz de momentos mais dóceis, o duo constrói dentro do álbum duas ótimas baladas. Black Balloon é uma delas, a mais famosa e a que chamou mais atenção na época do lançamento – ganhando até um clipe. Mas é a crueza de Goodnight Bad Morning que me chama mais atenção. Com timbres acústicos, Jamie larga o a guitarra e pega um violão para cantar ao lado de Alison uma das mais belas baladas já feitas pelo duo. É claro que o piano e a leve percussão também dão um charme especial à faixa.

No fim das contas, este é um disco cheio de cores e timbres, repleto de um Pop “sujo” e sexy. É como se o glamour fosse encontrado no em uma obra Trash. Algo que Thiago Pethit também busca em sua mais recente obra, Estrela Decadente, em que músico professa a glamorização do é errado (seja na temática ou na sonoridade) – e versos como “We are a fever/We ain’t born typical”, “Time ain’t gonna cure you/ Honey, time don’t give a shit” ou “I’m bored of cheap & cheerful/ I want expensive sadness”, explicam muito bem isso, não é?

Sobretudo, Midnight Boom é um disco extremamente divertido, recheado de hits e salpicado de momentos inesquecíveis. Um convite aos ouvintes a mergulhar no universo caótico e autoindulgente que a dupla cria para seu terceiro álbum.

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ARTISTA: The Kills
MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts