Refeletindo Sobre o Rock In Rio

Após nossa cobertura dos shows, fizemos algumas considerações sobre o festival e seus rumos

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Antes de você começar a ler nossas conclusões sobre o festival, leia nossas impressões de cada dia que cobrimos do festival:

Dia 21/09
Dia 20/09
Dia 15/09
Dia 14/09

Já são cinco edições no Brasil, mais cinco em Lisboa e três em Madri, além de planos para a conquistas de novos territórios neste mapa de War em que vivemos. O Rock In Rio soube atravessar o tempo, profissionalizou-se, tornou-se marca, desprendeu-se da obrigatoriedade em atender apenas um estilo – no caso, o Rock propriamente dito – levando o título de maior festival de música do mundo. Tudo muito bom, tudo muito bem, certo?

Não completamente, alto lá. Claro que não podemos ignorar a grandeza do festival e sua importância, principalmente em termos de Brasil, país que só agora evolui em termos de frequência em receber eventos musicais. Sim, há o Planeta Terra e o Lollapalooza Brasil, responsáveis por atender uma demanda de bandas um pouco à esquerda na preferência do espectador médio de música. É algo complexo entender as necessidades de um público cada vez mais ambíguo, o fã de música. Além disso, é ainda mais difícil estabelecer que tipo de música Pop é elegível para esses eventos. Em termos de Rock In Rio, fica evidente a proposta conservadora do festival, ou seja, de centrar fogo nos medalhões internacionais e nos fazer olhar com medo para o cenário nacional. O advento do Palco Sunset a partir de 2011, no qual “atrações menores” ou “espontâneas” têm lugar, aliviou um pouco a pressão por novidades, cronológicas ou inéditas.

O problema é que a mera existência desse espaço parece ter desobrigado o festival de buscar algo que mereça destaque e maior visibilidade. Exemplos de atrações sem força ou relevância suficientes para o Palco Mundo desta edição não faltam: Phillip Phillips, Kiara Rocks, David Gueta, Jessie J e Frejat, ocuparam espaço que poderia ser de Ben Harper/Charlie Musselwhite, Living Colour, Helloween, Autoramas/BNegão e Moraes Moreira/Pepeu Gomes, o que nos deixa com a impressão que há necessidade de vínculos com grandes gravadoras ou pressuposto de discos lançados no país para nortear uma escolha dessas. Além disso, é inexplicável a presença de Kiara Rocks, assim como a da Banda Glória na edição de 2011, ilustres desconhecidos em seu próprio nicho comercial, num espaço tão grande.

Com esse desequilíbrio entre Sunset e Mundo, o Rock In Rio adota um perfil “conservador-mas-progressista”, que não vai muito longe. De que adianta ter o reencontro de Moraes Moreira e Pepeu Gomes, com a presença de Roberta Sá, revisitando o repertório de uma banda como Novos Baianos no Palco Sunset do festival? Seria mais auspicioso mostrar um show desses para um número maior de pessoas, talvez substituindo um cantor de carreira solo limitadíssima, como Frejat, por exemplo. Ou tirar o famigerado Kiara Rocks para colocar Helloween.

E mais: por que não pesquisar melhor as novidades do Palco Sunset? De onde vieram a portuguesinha Áurea e a banda Black Mamba? Quem pediu? Qual a novidade em sua mistura requentadíssima de soul music pasteurizada? E por que insistir em gente como Ivo Meirelles e Fernanda Abreu, porta-vozes de um Rio de Janeiro mais apropriado a um safári antropológico que à realidade? Por que confinar o Autoramas, conhecido por incendiar plateias a um espaço maior e não permitir que mais gente possa conhecê-los?

Por que não ousar um pouco no Palco Mundo? Claro que é legal saber que artistas top como Beyoncé ou Justin Timberlake estejam presentes em dias apropriados à música Pop comercial, mas, por que trazer atrações inócuas como Matchbox 20, por exemplo? Banda cujo último – e grande hit – foi perpetrado por seu vocalista Rob Thomas em parceria com Santana? Certamente era possível colocar alguém mais interessante em seu lugar. Mas, o MB20 tem disco lançado no país? Tem. Ah, então tá.

Uma pesquisa rápida dará conta desse traço em comum entre as maiores atrações, a venda/lançamento de seus discos no país. Gente, estamos em 2013, esse dado não indica mais nada relevante. Grandes bandas estão por aí, com shows inesquecíveis, sem o suporte de algum lançamento fonográfico “físico”, algo que já não está no radar da maioria dos espectadores do Palco Mundo. E mais: por que repetir atrações como Ivete Sangalo e Metallica, só pelo aspecto financeiro de trazer público? Fizeram praticamente os mesmos shows que apresentaram em 2011, certamente compententes, cada um à sua maneira, mas foram dois momentos desnecessários de sacrifício da novidade pela mesmice total e vazia.

Finalmente, por favor, parem com os tributos mal ensaiados/engendrados. Os dessa edição, Cazuza (Palco Mundo) e Raul Seixas (Palco Sunset) foram lastimáveis. A impressão que temos é que pessoas que odeiam as obras dos homenageados se encontram para destruir suas músicas e lembranças. Bruce Springsteen, em sua segunda visita ao país e tendo apenas um dia para ensaiar e aprender, fez uma versão de “Sociedade Alternativa” mais pungente e solene que o mambembe tributo prestado a Raul Seixas no Palco Sunset, a cargo de gente como Detonautas e Zeca Baleiro. É preciso entender que Detoutas, Jota Quest, Capital Inicial e demais bandas que se arrastam pelo tempo, não são atrações dignas de um festival de respeito. Só tocariam com pistolão em lugares como o Primavera, o Benicassim ou outro evento gringo com mínimo de filtragem. Não é verdade que essas bandas tenham fãs, são indicativos fortíssimos que a curadoria do Rock In Rio precisa ir atrás das novidades, mapear o terreno, como fez em 1985, dando chance a bandas como Paralamas do Sucesso e Kid Abelha, que tocaram com um ou dois discos na carreira e fizeram história.

Há muitos acertos, mas muitos equívocos. Oxigenem os conceitos, pensem melhor, escolham melhor e proporcionem mais shows memoráveis, sempre lembrando que é cada vez mais raro topar com um desses nos line ups mais recentes. Abram os olhos, pessoas que pensam o Rock In Rio. Abram os olhos e os ouvidos.

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MARCADORES: Rock In Rio 2013

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.