Cadê: “King Kongo”, Primeiro Disco do Kongo (1987)

Primeiro disco da banda emplacou seu maior hit sendo atualmente um clássicos perdido da década de 80

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Até o início dos anos 90, eu morei numa rua chamada Constante Ramos, no bairro carioca de Copacabana. Estudava de manhã no colégio, chegava em casa, almoçava, tirar um cochilo e, lá pras 15h, me organizava pra estudar na mesa de jantar da sala. Em certa época, lá por 1985/86, meus estudos eram acompanhados por um ritmo insistente de Reggae e Ska, que entravam pela janela. Era a época do sucesso do segundo disco dos Paralamas, O Passo do Lui, era tempo do primeiro Rock In Rio, o Rock nacional era a música da moda, portanto, nada mais natural que uma banda ensaiando nas tardes de Copacabana. Um dia resolvi chegar até a janela e ver de onde vinha o som. Além do trânsito da Av. Nossa Senhora de Copacabana, na própria Constante, o som mantinha-se insistente.

Pouco tempo depois, num programa de clipes qualquer, aparecia a música de estreia de uma nova formação carioca: Bikini Defunto, com o pessoal do Kongo. De alguma forma, a sonoridade me pareceu semelhante e pude reconhecer dois dos integrantes como figuras passantes no microcosmo copacabanense da época: o guitarrista Edson “Edinho” Milesi e o vocalista Nelson “Major Nelson” Cerqueira, vocalista e guitarrista, dois irmãos. Imediatamente descobri a identidade da tal banda misteriosa de Ska/Reggae, que sonorizava – sem saber – minhas tardes de estudo. Kongo ainda tinha em sua formação, Niltinho (outro irmão, no sax), Marília (sax), Bombom (baixo, futuro integrante da Conexão Japeri, de Ed Motta) e Arnaldo Neto (baterista, que também rumaria para a Conexão no ano seguinte).

As atividades do Kongo haviam iniciado em 1984, ainda com a formação antiga, dividida por Nelson com amigos alemães, que estavam no Brasil por conta de um acordo de cooperação nuclear. Eram uma banda de cover a princípio, mas logo surgiram composições próprias. Com a volta dos alemãs para seu país em 1985, a banda adotou sua formação clássica.

O sucesso do Kongo foi significativo para uma banda aparentemente despretensiosa. Edinho era egresso do Black Future, banda mítica do underground carioca e seus colegas de banda faziam uma versão praiana e bem humorada do som Two Tone, que varrera a Inglaterra no início dos anos 80 e que também tinha influenciado os Paralamas. Aliás, após uma apresentação do Kongo, Bi Ribeiro, baixista do trio, totalmente fissurado pela sonoridade dos rapazes, ofereceu-se para produzí-los no estúdio Àquela altura, com demos rolando na Rádio Fluminense FM e fazendo shows nos buracos cariocas, o Kongo já tinha propostas de gravadoras. Preferiram a EMI à Warner, justamente pela aproximação com os Paralamas. A produção de Bi, no entanto, só aconteceu para o hit Bikini Defunto, pois os Paralamas haviam sido convidados para tocar no Festival de Montreaux. A banda mixou e gravou o restante das músicas em duas semanas, sem a presença de Bi, o que acarretou uma produção mais limpa e certinha que o desejado.

Com o mini-LP King Kongo lançado em 1987, a banda iniciou os trabalhos de divulgação mas esbarrou no início da ressaca econômica, reduzindo as vendas ao patamar de 20 mil cópias, quando o potencial, caso lançado seis meses antes, poderia chegar a 50 mil. Além de Bikini, Babilônia também tocou nas rádios e fez sucesso até na Bahia, onde a banda se apresentou. Com o início da produção de um novo LP, a banda, descontente com o trabalho da gravadora, rescindiu seu contrato, o que praticamente causou o seu fim. Mesmo com as demos lançadas na programação da Fluminense, Arnaldo e BomBom deixaram o Kongo e a banda encerrou as atividades no início de 1988. Edinho transformou-se num dos mais respeitados DJ’s de Rock do Rio de Janeiro e seus irmãos Nelson e Niltinho seguiram trabalhando com projetos paralelos. Em meados dos anos 90, decidiriam recriar o Kongo, novamente com participação de Edinho, além das presenças de Eduardo Villa Maior (Big Trep, Canastra, substituído mais tarde por Raphael Piquet) e Robson Riva. Em 1998 lançaram Kongo Ataca Outra Vez e, em 2006, Tem Que Ser Agora.

Mesmo ainda vivo e tocando ocasionalmente, o Kongo sempre será lembrado por seu mini-LP, jamais lançado em CD, mas que se encaixava tão bem naqueles dias de verão dos anos 80. Em sites de compras na internet, é possível achar King Kongo em vinil original da época do lançamento, por preços que variam a partir de R$20,00.

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ARTISTA: Kongo
MARCADORES: Cadê?

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.