Dez anos e Ainda Explorando o Atlântico

Quarto disco de Death Cab For Cutie completa uma década hoje, permanecendo nos iPods e playlists de seus fãs desde então

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Se eu pudesse imaginar o que Ben Gibbard disse quando o quarto disco de Death Cab For Cutie foi lançado, há exatos dez anos, provavelmente citaria a primeira frase da faixa que deu nome a esse registro: “The Atlantic was born today…”. Sendo um dos mais importantes (se não, o mais importante) disco da banda de Bellingham (EUA), sua concepção e lançamento merecia uma comparação digna. Dessa forma, o Oceano Atlântico me parece um bom lugar para começar.

Transatlanticism é um marco na história do quarteto. O disco marca a entrada de Jason McGerr como baterista, imprimindo nas composições uma nova maneira de lidar com a linha de bateria, assumindo uma postura menos coadjuvante e mais destacada, equiparando-se aos riffs e melodias vocais das músicas. A banda mantém essa formação até hoje e, por consequência, conseguiu produzir álbuns muito interessantes desde então, como o já comentado em nossa coluna Fora De Época Plans, de 2005, e seu sucessor Narrow Stairs, de 2008.

O disco marca uma mudança na composição que se manteve desde então. Enquanto antes a banda expunha suas músicas de forma segmentada e bem dividida, neste temos uma grande canção. As faixas se unem de forma mais branda e suave, tornando o conceito do disco mais fácil de ser absorvida (já que é como se tivéssemos um grande tema e as músicas fossem apenas parte desse). Talvez o melhor exemplo de como o álbum é plural esteja contido na transição da faixa Transatlanticism para Passenger Seat: tão sutil que parece que quase não nos damos conta de que a música já mudou.

Puxando agora um pouco do aspecto lírico, o álbum traz ao nível máximo a aproximação de sua letras para com o ouvinte. Na verdade, a banda sempre chamou a atenção na lírica (embora muitos continuem a insistir que é muito “mimimi” para um disco só). Nesse, Ben Gibbard se vale de situações para expressar opiniões e lições em geral (não que seja a intenção dele fazer uma obra de auto-ajuda). O disco traz um recorde de tatuagens de fãs que registram permanentemente em seus corpos frases do álbum, sendo a mais comum “I need you so much closer”, da faixa Transatlanticism.

É uma obra que marca o ápice da produtividade da banda. Não que tudo produzido após esse disco seja descartável (inclusive um de meus favoritos se situa nessa fase pós-Transatlanticism), mas aqui o grupo mostrou que amadureceu musicalmente falando. Opiniões sobre ele não faltam, mas há duas frases que evidenciam os pontos-chave de sua qualidade musical. O primeiro é da resenha feita no ano do lançamento pela revista Alternative Press, que dizia: “…com detalhes escondidos de mágica que se revelam por si de uma forma incrível”. Esse comentário serve principalmente para mostrar a predileção da banda pelo detalhe, e de como isso acaba tornando o disco imortal. Cada nova escutada é uma nova análise.

A segunda opinião pertinente para a compreensão da importância do disco foi dita na resenha do The A.V Club, escrita por Stephen Thompson. Ele diz que o álbum é “..uma análise crua e bem feita de como a distância fortalece e ao mesmo tempo destrói um relacionamento”. Disso, é possível citar a característica mais marcante da lírica deathcabiana, que até citamos na nossa segunda edição de nosso programa em vídeo, Buzzers, quando falamos sobre letras de música. As composições tem um propósito e uma razão pela qual foram escritas, mas isso não significa que você precise lê-las dessa forma. The New Year fala sobre a hipocrisia das promessas de ano novo, mas muitos lêem como uma declaração de amor para os parceiros de relacionamentos à distância (“I wish the world was flat like the old days. Then i could travel just by folding a map”).

Dessa forma, vemos que o nome do disco que por muito tempo permanceu uma incógnita para mim começa a ganhar um direcionamento. A infinidade de temas que cada canção nos traz realmente faz com que pensamos no disco como o Oceano Atlântico: vasto, inexplorado e com diferentes paisagens que atraem especificamente um certo tipo de indivíduo (sendo essas paisagens, as músicas do disco). O álbum vai ganhar uma reedição de aniversário com um disco extra cheio de extras, b-sides e raridades da banda. Vale a pena escutar Transatlanticism mais uma vez em comemoração aos dez anos de uma obra que permanece nas playlists de seus fãs até hoje.

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MARCADORES: Aniversário

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique